Mesmo com a diminuição dos casos graves de Covid-19 em todo o mundo, surge um novo alerta: pessoas que foram infectadas com o Coronavírus, especialmente pela variante Ômicron, têm 40% mais chances de desenvolver doenças autoimunes e/ou doenças reumáticas, que acometem o aparelho locomotor. O levantamento foi realizado por médicos do University Hospital Carl Gustav Carus Dresden, na Alemanha, e revelou que as doenças podem ser desencadeadas logo após a fase aguda da infecção viral, que ocorre entre a terceira e quarta semana da contração do vírus.
De acordo com o doutor em Medicina Interna e professor do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP), Renato Nisihara, uma infecção viral é um fator importante para o desenvolvimento de algumas doenças autoimunes, mas não é o único, tampouco o principal. “Por conta da resposta do sistema imunológico à Covid-19, é provável que ela aumente a possibilidade de desencadear uma doença autoimune, mas desde que o paciente já tenha uma predisposição, pois existem vários fatores que contribuem para o desenvolvimento desse tipo de doença, como fatores genéticos, imunológicos e ambientais”, detalha. O professor ressalta ainda que os resultados da pesquisa alemã possivelmente devem-se ao fenômeno chamado de tempestade de citocinas, que ocorre nos pacientes que contraíram o Coronavírus. “A tempestade de citocinas é uma resposta imunológica excessiva do corpo que, em alguns casos, pode causar danos respiratórios e circulatórios”, explica.
A pesquisa mostrou que, das 30 doenças investigadas, três se destacaram em maior número: artrite reumatoide, tireoidite de Hashimoto e síndrome de Sjögren, com os diagnósticos aparecendo de 3 a 15 meses após o resultado positivo para Covid. Entretanto, assim como as outras doenças autoimunes, essas também não são desencadeadas apenas por uma infecção viral, mas, sim, por uma série de fatores aliados. “Entre 5% e 10% da população mundial tem ou terá alguma doença autoimune, então, não é somente por conta do Coronavírus. Essas doenças citadas são comuns em pessoas acima dos 40 anos, principalmente mulheres. A artrite reumatoide, por exemplo, atinge cerca de 1% das pessoas com mais de 50 anos. Ao analisar essas questões, pode-se dizer que, além das predisposições e das infecções virais, o envelhecimento populacional e mudanças nos hábitos de vida, como tabagismo, má alimentação e fatores estressores, podem contribuir para o aumento dos casos”, alerta Nisihara, que aponta também que os estudos da área imunológica levam tempo para serem concluídos, pois são muito aprofundados e contam com inúmeros aspectos interferentes. “Ainda é cedo para afirmar o papel da covid nas doenças autoimunes, mas é altamente provável, pois já se sabe há tempos que a infecção viral é um dos fatores envolvidos nessas patologias”, finaliza.