Artigo – Desigualdade: a maior epidemia no sistema de saúde do Brasil

Hoje, menos da metade da população mundial tem acesso a serviços essenciais de saúde. Além disso, cerca de 800 milhões de pessoas gastam mais de 10% de seu orçamento doméstico com cuidados médicos e quase 100 milhões de pessoas são empurradas para baixo da linha de pobreza a cada ano por causa das despesas com saúde. No Brasil, por exemplo, a falta de acesso é responsável por um gap de expectativa de vida que pode chegar a 20 anos dependendo de fatores como sua classe social ou local de moradia, e por uma média de 830 mortes evitáveis por dia. Ou seja, 305 mil mortes evitáveis anualmente! Isso é inaceitável. As desigualdades em saúde não são apenas uma nota de rodapé nos problemas que enfrentamos, mas, sim, o principal problema. A injustiça social está matando em grande escala.

O Brasil possui um sistema extremamente deficiente. Por falta de opções, as pessoas acabam tornando-se reféns de programas governamentais, como o SUS, no qual, para agendar uma simples consulta, muitas vezes você terá que esperar de 3 a 6 meses, ou companhias de seguro, mas nenhum deles realmente resolve o problema. Segundo pesquisa realizada pelo Ibope e SPC, mais de 70% dos brasileiros não possuem plano particular, e dos que tem, mais de um milhão cancelam seus planos anualmente. Não por não desejarem mais estar cobertos, mas por não poderem mais arcar com os custos, afinal, além das mensalidades serem altíssimas, as taxas de reajuste são muito acima da inflação e não há garantia alguma de que caso algo aconteça, você terá acesso aos tratamentos necessários.

Novas tecnologias têm sido ferramentas fundamentais para empoderar o novo consumidor e melhorar o acesso tanto a serviços quanto a informação, principalmente para a população de baixa renda. Hoje temos exemplos de serviços que combinam, por exemplo, inteligência artificial, machine learning e big data para dar diagnósticos mais precisos, sem precisar efetivamente consultar um médico, em poucos cliques e com algumas perguntas respondidas em um app, no sofá da sua sala, você pode ter alternativas de diagnósticos que tem mostrado uma assertividade média superior a médicos reais, um exemplo disso seria o ADA. É possível usar robótica para cirurgias extremamente precisas, combinar nanotecnologia para diagnostico ou para o combate direcionado a doenças específicas. Também já é possível, por um valor muito acessível, ter todo o seu mapeamento genético, por meio de serviços como o 23andme, coisa que antes era inimaginável devido ao custo. Não podemos esquecer os wearables que estão cada vez mais presentes nos mais diversos tipos e formatos e conseguem traquear suas funções corporais, como índice de açúcar no sangue, batimento cardíaco, oxigenação, pressão, etc. Computação quântica tem se mostrado uma ferramenta fundamental para, por exemplo, iniciar uma era de cuidados de saúde personalizados.

Além da aplicação direta de novas tecnologias em pacientes, também temos um mar de oportunidades com Internet das Coisas para ajudar a reduzir gastos com hospitais e evitar acidentes, afinal, um hospital inteligente, com sensores para tudo, conseguiria alertar um problema em uma máquina, tubulação ou o que for antes mesmo do problema acontecer, ou, podemos ir além, já existem materiais cirúrgicos com sensores que alertam o cirurgião caso ele esqueça algo dentro do paciente. As possibilidades com novas tecnologias são inúmeras e muitas soluções ainda são inimagináveis. Mas como falei no começo, são ferramentas, não solução.

Para encontrarmos a solução, acredito que devemos dar um passo atrás e olhar não para a tecnologia, mas para as pessoas, para a sociedade. Para inovar em saúde, precisamos mudar o sistema, e para mudar o sistema precisamos mudar a forma que as pessoas pensam. Precisamos voltar a pensar e agir em comunidade. Precisamos entender que o poder das pessoas é e sempre será muito maior do que as pessoas no poder. Saúde é um mercado que é tradicionalmente unilateral. O paciente é o menos importante e está na hora disso mudar! Precisamos colocar o paciente no centro do processo, precisamos nos envolver como comunidade para resolver os problemas que nos afligem ao invés de esperar que alguém o faça por nós. Está na hora de entrarmos na era da economia do acesso.

Quando fundamos o Dandelin, partimos do princípio de que saúde deveria ser um direito básico de todos, não um luxo para poucos. Mas como conseguiríamos fazer um app ou montar uma solução que consiga democratizar o acesso a saúde para pacientes que não possuem muito recurso? Ou melhor, como conseguiríamos permitir que todos tenham acesso a serviços de saúde com a mesma qualidade e excelência que a parcela mais rica da população tem acesso? E a resposta foi por meio da economia compartilhada. Ou seja, priorizar acesso ao invés da posse. O Dandelin surgiu para democratizar a saúde no Brasil, permitindo que todos tenham acesso ilimitado a serviços de saúde a custos extremamente acessíveis para grande parte da população. É obvio que a tecnologia é fundamental para tornar tudo isso possível! Montamos um app, um software, combinamos Inteligência Artificial, Machine learning e, em breve, acrescentaremos blockchain, por meio de smart contracts, para aumentar a agilidade, segurança e confiabilidade. Mas o ingrediente principal da mudança, do Dandelin, não está na tecnologia, mas sim nas pessoas, na comunidade.

Nossa meta, não só minha ou do Dandelin, mas de todos nós, deveria ser fazer o possível e o impossível para transformar o sistema de saúde no Brasil para que tenhamos uma população mais saudável, reduzindo o gap de expectativa de vida da população brasileira e reduzir o número de mortes evitáveis com mais acesso a serviços de saúde de qualidade.

Nós já possuímos todas as ferramentas necessárias para a mudança, falta apenas ação. Falta sermos os agentes de mudança! Se cada um de nós fizer algo, já fará a diferença. Caso você já faça algo, faça mais. E se já faz o suficiente para causar um impacto positivo na sociedade, faça melhor. Faça alguma coisa. Faça mais. Faça melhor!

Felipe Burattini possui um MBA em International Business administration pela Berlin School of Creative Leadership, e certificação em Design Thinking pela D.School da HPI Academy (Alemanha), em Fintech e Blockchain Oxford University (Reino Unido) e em Leading Digital Transformation and Innovation pela Stanford Business School (Estados Unidos). Fundou as empresas Brandish Ad. Comunicação Estratégica, Wandr e Ahoy! Berlin São Paulo

Redação

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