Neste mês, os brasileiros iniciam o processo de escolha dos próximos governantes que, a partir do primeiro dia de 2019, terão a missão de atender aos anseios dos quase 150 milhões de eleitores. Serão seis os escolhidos – presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais – que representarão uma população de mais de 210 milhões de pessoas, espalhados em mais de 8,5 milhões de Km². Os números são colossais – aliás, como quase tudo no Brasil –, assim como os desafios que os eleitos enfrentarão nas mais diversas áreas.
São muitos os questionamentos, e os ligados à saúde pública certamente estão entre os mais difíceis de serem respondidos. O ponto de partida para essa discussão é um só: o sistema de saúde no Brasil não vive seus melhores momentos. E não há dúvidas de que o caminho para melhorar esse panorama passará pelo entendimento profundo das particularidades do setor, uma discussão que também deve levar em consideração números heterogêneos e regionalmente discrepantes.
Neste sentido, um dos dados que devem ser levados em consideração é o número de médicos ativos. Embora exista a sensação de que o país viva escassez desse tipo de profissional (pouco mais de 452 mil, segundo Conselho Federal de Medicina), o Brasil conta com 2,18 médicos para cada mil habitantes. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), agência da ONU especializada em saúde, o parâmetro ideal é de um médico para cada mil habitantes. Ou seja, não é uma questão de quantidade, mas a forma desigual como esses profissionais estão distribuídos pelo território brasileiro. Para se ter uma ideia, enquanto este índice é de 2,75 na Região Sudeste, na Região Norte chega a 1,09.
Atualmente, cerca de 150 milhões de pessoas (75% da população) dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS), e esse é apenas um ponto de uma ampla discussão, que também deve considerar temas como os aportes feitos nesta área. Hoje, 8,3% de todo o nosso Produto Interno Bruto é destinado para essa finalidade. Apenas para compararmos o tamanho desse investimento, no Canadá esse valor corresponde a 10,4% do PIB local. Em uma rápida análise, podemos ver que os canadenses gastam cerca de 20% a mais do que o Brasil com seu sistema de saúde pública. No entanto, a discrepância maior aparece quando comparamos o tamanho da população de cada país. No Brasil, ela ultrapassa os 200 milhões enquanto, no Canadá, não chega a 40 milhões.
É importante que os futuros governantes levem em consideração que não é apenas o investimento consistente que amplia o abismo entre a saúde pública brasileira e canadense. Por lá, a tecnologia tem desempenhado um papel fundamental para garantir melhores serviços, com a informatização de quase todos os hospitais.
O compartilhamento de informações do paciente, proporcionado pelo conceito de interoperabilidade, pode ajudar nesse processo de transformação na saúde no país. O que nos leva a defender a adoção de soluções como o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), que evitaria o desperdício de recursos causados pela realização de exames desnecessários. Isso é um dos pontos que, aliás, que impactam diretamente nos custos operacionais de hospitais e clínicas.
E agora, os governantes entenderam a importância da ferramenta para a saúde pública. Para ter uma ideia, em 2016, foi estabelecido que todas as unidades de saúde do país implantassem o prontuário eletrônico até o fim de 2018. No entanto, em maio deste ano, o Tribunal de Contas da União (TCU) solicitou a suspensão do programa, que não chega hoje a mais de 40% das unidades em todo o país. Há ainda um longo caminho a ser percorrido. Como vemos, os gargalos não estão, necessariamente, na falta de verba, mas no direcionamento deste recurso, e caberá ao governo definir os padrões tecnológicos que serão a base para essa revolução.
Roberto Ribeiro da Cruz é CEO da Pixeon