Em novembro de 2019 comemoramos os vinte anos do relatório “Errar é humano” do Institute of Medicine. A publicação divulgou dados impressionantes sobre o impacto de erros preveníveis na saúde e foi catalisador de mudanças importantes em prol de um sistema mais seguro para os pacientes. Fizemos progressos reais, mas estamos satisfeitos com os avanços conquistados?
“Errar é humano” sugere que erros preveníveis e os custos associados poderiam ser mitigados pela criação e implantação de “sistemas seguros” capazes de reconhecer e minimizar fontes de erro humano e assegurar ao paciente uma jornada de qualidade e segurança. O conceito de sistemas seguros em saúde inclui processos e decisões seguras para a entrega do cuidado seguro, eficiente e de alta qualidade.
A informação relevante e baseada em evidências embarcada em tecnologia é chave para esta equação. A Jornada de Qualidade e Segurança do Paciente traduz este conceito na prática através de cinco pilares: Políticas e Procedimentos, Educação dos Profissionais, Cuidado ao Paciente, Educação do Paciente e Melhoria Contínua.
Políticas e procedimentos: é o desafio contínuo da criação e atualização de políticas e procedimentos relevantes para a instituição e a adesão dos profissionais. Devem ser criadas e atualizadas com base em evidências para agregar valor à prática do cuidado. Já existem plataformas que ajudam a criar, revisar, aprovar e compartilhar as P&P. Elas ajudam, por exemplo, a registrar e rastrear mudanças e conexão das políticas à prática assistencial e a inserir as P&P no fluxo de trabalho dos profissionais, trazendo-as para a prática.
Educação de profissionais: ou educação continuada, mantem os profissionais sempre atualizados e treinados. Conteúdos e cursos on-line são integrados nas plataformas de políticas e procedimentos e nos prontuários eletrônicos para uso na beira-leito, consultório ou em mesa gerencial. Conteúdos práticos ajudam no onboarding, na avaliação recorrente ou na preparação rápida urgente de um profissional para um outro setor.
Cuidado ao paciente: é aplicar as evidências na prática profissional. Com o conhecimento médico disponível no mundo dobrando a cada 73 dias a partir de 2020, manter-se atualizado é um desafio real. Plataformas de protocolos e planos de cuidados constantemente atualizados e baseados em evidência estão prontos para uso e integrados no prontuário eletrônico, permitindo que os profissionais tenham à mão a informação que precisam no ato do cuidado.
Educação do paciente: engajar o paciente para o sucesso do tratamento. Sem informações confiáveis e sem clareza sobre o tratamento, o paciente não consegue dar a sequencia correta ao tratamento e incorre em reinternação. Para profissionais é chave educar o paciente no momento certo com as palavras certas. Plataformas com conteúdos baseados em evidências, mas em linguagem que o paciente entenda, podem ser usadas pelos profissionais em apps ou integradas ao prontuário eletrônico, bem como em casa pelo paciente.
Melhoria contínua: o engajamento para identificar oportunidades de melhoria reativas e proativas e a capilarização das melhorias até a ponta são fatores críticos de sucesso. Tecnologias como machine learning e inteligência artificial permitem a análise dos dados produzidos na assistência e criam evidências baseadas no mundo real. Neste ciclo virtuoso, a prática gera evidências que aprimoram a prática.
Tendo como objetivo central a entrega do cuidado de alta qualidade, seguro e custo-eficente, a Jornada de Qualidade e Segurança do Paciente apresenta um caminho para sistemas seguros e o uso da informação baseada em evidência incorporada à tecnologia viabiliza a criação de processos seguros e decisões seguras para uma cultura de segurança sustentável que beneficia pacientes e profissionais.
Laís Junqueira é Gerente de desenvolvimento em Qualidade e Segurança da Elsevier