A redução dos índices dos três principais tipos de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) em UTIs de 116 hospitais públicos e filantrópicos em todo o Brasil evitou o surgimento de cerca de 4.100 episódios de infecções, e 1.400 vidas salvas entre os meses de janeiro de 2018 a outubro de 2019. Os números resultaram em uma economia de R$ 160 Milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS). Esses são alguns dos resultados do projeto “Saúde em Nossas Mãos – Melhorando a Segurança do Paciente em Larga Escala no Brasil”, executado pelos hospitais participantes do PROADI-SUS em parceria com o Ministério da Saúde.
O ambiente das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) é considerado de risco por conta da natureza dos dispositivos invasivos utilizados para manutenção da vida, o que pode aumentar a chance do desenvolvimento de infecções. A iniciativa tem como objetivo principal garantir a segurança do paciente e a qualidade no cuidado por meio de uma mudança de cultura nas instituições de saúde em todo o Brasil, estimulando os hospitais a encontrar soluções com seus próprios recursos.
Até outubro de 2019, o projeto alcançou uma expressiva redução nos três principais tipos de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS): Infecção Primária da Corrente Sanguínea Associada a Cateter Venoso Central (IPCSL), com diminuição de 46%; Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV), com queda de 51%, e Infecção do Trato Urinário Associada a Cateter Vesical (ITU-AC), com redução de 62%.
O projeto é colaborativo e executado pelos cinco hospitais integrantes do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), Hospital Alemão Oswaldo Cruz, HCor, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Moinhos de Vento e Hospital Sírio-Libanês. A iniciativa conta ainda com participação da equipe técnica da Coordenação do Programa Nacional de Segurança do Paciente do Ministério da Saúde e com o apoio técnico do Institute for Healthcare Improvement (IHI), organização não-governamental e sem fins lucrativos com larga experiência em projetos colaborativos em diversos países da Europa e África.
Troca contínua em busca da segurança do paciente
Periodicamente, acontecem edições das Sessões de Aprendizagem Presenciais (SAP), uma oportunidade para os 116 hospitais públicos e filantrópicos beneficiados têm para trocar experiências e conhecer melhores práticas na construção coletiva de um plano de ação para o alcance das metas do projeto. Os profissionais podem compartilhar dificuldades, soluções e trabalhar de maneira colaborativa para encontrar saídas visando potencializar os indicadores, como explica a gerente de enfermagem do PROCAPE – Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco, Juliana Chaves. “A troca de experiências é muito produtiva para encontrar soluções simples, mas muito efetivas. Também vemos resultados dos hospitais do Brasil todo, proporcionando uma visão geral do que está acontecendo” explica a profissional, que participou da 6ª edição promovida pelo projeto, realizada entre os dias 26 e 27 de novembro, em São Paulo (SP).
O envolvimento na SAP, que vai além dos profissionais da saúde, também é uma das formas de garantir que os objetivos sejam alcançados, destaca a gerente de enfermagem da Liga Contra o Câncer de Natal (RN), Telma Araújo. “Nós conseguimos trazer toda a equipe para a iniciativa. Estamos percebendo um fluxo totalmente integrado, em que todos dão sugestões, contribuindo para mudar a relação dos pacientes com os que estão ao seu redor na UTI” destaca. “Com essa integração, o paciente passou a alertar os que o visitam que é necessário lavar as mãos antes de tocá-lo. Ele começou a se empoderar, sem medo, contribuindo para a própria prevenção de infecções” ressalta Telma.
Garantir a sustentabilidade do projeto é prioridade
O fortalecimento do projeto e a ampliação da metodologia para mais hospitais do SUS é uma prioridade para os próximos anos. Até o final de 2020, a meta é alcançar a redução de 50% dos três principais tipos de IRAS e disseminar a iniciativa a partir de 2021 para mais hospitais em todo o Brasil.
O Diretor Sênior do Institute for Healthcare Improvement (IHI) para a América Latina, Paulo Borem, destaca os benefícios do projeto para os hospitais do SUS. “Usar o método do Modelo de Melhoria não implica necessariamente em investir em infraestrutura ou novas tecnologias, mas sim em promover uma mudança na forma de trabalhar e dos processos. Considero que o maior ganho aqui é um novo jeito de fazer. E tem um efeito colateral do bem, que é quando os profissionais transformam sua maneira de trabalhar e recuperam o propósito da profissão” ressalta Paulo.
A líder do projeto no Hospital de Clínicas de Minas Gerais, Tatiane Miranda, também destaca a importância de priorizar a continuidade da iniciativa. “Levo o desafio de que essas ideias de mudança sejam implementadas e consolidadas para além desse projeto. Nossa meta é que essas ações sejam incluídas na prática diária do profissional de saúde” defende. “O Saúde em Nossas Mãos mudou a forma como tratamos as infecções. Não vemos mais como um evento adverso natural, mas sim uma complicação evitável e que se tomarmos as medidas certas possui ganhos imensuráveis”, destaca a profissional.
O projeto “Saúde em Nossas Mãos – Melhorando a Segurança do Paciente em Larga Escala no Brasil” está sendo executado no triênio 2018-2020 pelos cinco hospitais integrantes do PROADI-SUS, com recursos dos próprios hospitais, em contrapartida à imunidade fiscal, que afasta o recolhimento das contribuições sociais.