A prática médica exige um conjunto de qualidades e habilidades. Em todos os momentos, deve-se pautar a assistência no humanismo, adotando condutas focadas realmente na saúde e bem-estar do paciente.
Um bom médico não abre mão de uma anamnese apurada, de ouvir atentamente, de investigar, além de um minucioso exame físico. São premissas essenciais à Medicina; isso desde os tempos dos filósofos.
Todo o restante é complementariedade: exames de imagem, novas tecnologias etc. Tem de ser utilizados quanto realmente há necessidade.
O problema é que, em regra, protocolos foram institucionalizados indiscriminadamente na rede hospitalar. Quando um paciente entra, é imposto que uma série de condutas, exames e avaliações sejam realizadas, de forma a possibilitar mais ganho.
Sendo objetivo: a saúde pouco importa para certos hospitais. Os pacientes são simplesmente ferramentas para fazer mais dinheiro.
O resultado é que, atualmente, convivemos inclusive com óbitos originados pela falta de análise clínica, pela aberração de priorizar interesses outros que não o atendimento qualificado e a vida humana.
Aliás, faz algumas décadas, os valores da Medicina têm sido vilipendiados. Também por responsabilidade de escolas médicas mercantilistas, sem estrutura adequada à formação, a começar pela carência de um corpo docente de excelência.
Sempre destaco que só existe uma maneira de formar bons profissionais em nossa área. É pelo exemplo, é à beira do leito, transferindo saberes.
Ao fugir desse caminho, pouco a pouco, abrimos frente para o malfeito. Como constatamos agora nesta era de protocolos abusivos, de ostentação da tecnologia.
Tecnologia, obviamente, vira ameaça à saúde e à vida, se usada por instituições oportunistas e médicos incompetentes. O risco é agravado pela cultura do dr. Google, com milhões de informações equivocadas, errôneas e sem fundamento científico.
O Brasil precisa abrir os olhos e todos devemos compreender que é obrigação se contrapor à inversão de princípios. Na saúde, aliás, como em todos os campos, a competência, a dignidade, a honestidade e a transparência têm de ser regra.
Apenas com essa visão e com muito trabalho iremos mudar e conseguiremos deixar de ser um país promessa e nos tornar uma grande nação.
Prática médica exige raciocínio clínico, hipotético, dedutivo. Cada paciente é único e assim deve ser encarado, analisado e tratado. Não existem iguais entre pessoas. Nem os gêmeos intrauterinos. Nessa área, o médico é e sempre será soberano.
Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM)