Com o avanço dos testes de vacinas contra a Covid-19 e a necessidade de distribuição iminente à população, a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo) iniciou conversas com os governos federal e dos estados sobre a necessidade de articulação e de planejamento para que não falte seringas para as doses da vacina do novo Coronavírus.
Atualmente, a capacidade de produção nacional é de 1,2 bilhão de seringas por ano (1ml, 3ml, 5ml, 10ml e 20ml) fabricadas por três empresas (BD, SR e Injex). Deste total, cerca de 400 milhões de unidades são importadas da China e da Índia. Entretanto, a capacidade máxima da produção nacional é de 1,5 bilhão de seringas. A corrida nacional e internacional por insumos e equipamentos para o tratamento de pacientes com coronavírus nos últimos meses evidenciou ainda mais a necessidade de um planejamento prévio para que não ocorra desabastecimento interno.
Embora a demanda atual no Brasil seja plenamente atendida, o volume de pedidos para seringas de 3ml (as mais utilizadas nas vacinações) deverá subir exponencialmente conforme as vacinas de Covid-19 forem liberadas. Por este motivo, é fundamental que os governos estejam preparados para se adiantar a essa nova necessidade, considerando as quantidades e a periodicidade de doses que a vacina aprovada irá demandar. “Com a experiência problemática na compra dos ventiladores e dos EPIs, o ideal será centralizar no governo federal a compra das seringas por meio de licitação, com pelo menos seis meses de antecedência”, explica o superintendente da Abimo, Paulo Henrique Fraccaro.
Estima-se que somente para uma campanha nacional de vacinação, como por exemplo, a do sarampo, são necessárias 130 milhões de seringas. No caso de uma vacina para a Covid-19, se for liofilizada, por exemplo, será necessária uma seringa a mais um para fazer a diluição. “Países como Inglaterra, Canadá e Estados Unidos já estão se programando neste tema de seringas, com solicitação de implantação de linhas de produção dedicadas. No Brasil, como exemplo, o tempo de produção para 50 milhões de seringas é de cinco meses. Por este motivo é de extrema importância que os governos comecem a se programar agora”, explica.
Uma das associadas da Abimo, a BD, primeira a produzir no território brasileiro seringas descartáveis e importante fabricante no setor, está acompanhando de perto o assunto. “Serão necessários volumes muito grandes de seringas em um curto prazo de entrega. Isso demandará um trabalho conjunto do setor público com o setor privado, para que haja programação para antecipação dessa produção. Caso contrário, quando chegar a vacina, não haverá como evitar a falta de seringas no mercado”, esclarece o diretor de Assuntos Corporativos da BD, Walban Damasceno.
O planejamento para fabricação, aquisição e distribuição das seringas também evitará que o país enfrente novamente problemas e, na tentativa de saná-los, ter que buscar produtos importados que poderão vir com a falta de qualidade, sem registro e com alta nos preços por causa da alta demanda internacional. “Este novo cenário será muito parecido com o que ocorreu com a disputa por ventiladores pulmonares no começo da pandemia. Se os governos se organizarem, a indústria nacional, certamente, estará preparada para atender os pedidos, com preços compatíveis e prazos de entrega adequados. Dessa forma, além da valorização da nossa indústria, os governos não ficarão à mercê da disponibilidade do mercado internacional que, sem dúvida nenhuma, será disputado neste mesmo tempo por outros países”, finaliza Fraccaro.