Uma série de pesquisas sobre a eficácia de vacinas contra vírus influenza, hepatite A, hepatite B, raiva e tétano apontam menor imunidade em pacientes acima do peso e isso deve se repetir quando a vacina contra o novo Coronavírus (Sars-Cov-2) estiver disponível, segundo pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte.
A obesidade é uma doença crônica e uma das suas características é o constante estado de inflamação dos pacientes. As vacinas são projetadas para induzir uma resposta inflamatória do sistema imunológico e criar anticorpos eficientes contra um determinado vírus, mas a inflamação crônica em adultos obesos pode interferir nesse processo e enfraquece as vacinações.
“As pessoas com obesidade e diabetes precisam redobrar sua atenção com o Coronavírus, e utilizar todos os recursos médicos para se tornarem mais saudáveis. E como não sabemos quanto tempo levará para termos uma vacina eficaz no obeso, nem quantas ondas atingirão o país, isso não pode ser retardado. Não dá pra continuarmos vendo apenas meio por cento da população tendo acesso ao tratamento cirúrgico”, alerta o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Dr. Marcos Leão Vilas Bôas.
Estudos – O coordenador do estudo na Universidade da Carolina do Norte, Barry Popkin, disse à BBC que, com base nos conhecimentos adquiridos no desenvolvimento das vacinas para a Sars e Influenza, o benefício da vacina da Covid-19 na população obesa pode ser menor.
Em um estudo publicado no International Journal of Obesity, em 2017, os pesquisadores da Carolina do Norte descobriram que adultos considerados obesos e vacinados contra o vírus Influenza, causador da gripe, tinham duas vezes mais chances de contrair a doença ou desenvolver gripe semelhante do que adultos vacinados com IMC mais baixos. Eles também descobriram que adultos vacinados que eram considerados obesos desenvolveram anticorpos contra a gripe, mas ainda tiveram resultados piores relacionados à gripe do que os adultos vacinados com IMC mais baixos.
Histórico de pesquisas recentes relacionam piores desfechos de Covid-19 em pacientes com obesidade
Em março, no início da pandemia global, um estudo com dados da China apontou que pacientes portadores de doenças crônicas, incluindo a obesidade, apresentavam maior chance de mortalidade. Na época, entre indivíduos considerados saudáveis, a mortalidade era de 1% enquanto o de portadores de doenças crônicas chegava a 13%.
Em abril, pesquisadores da Universidade de Nova York (NYU) conduziram o maior estudo em hospitais dos Estados Unidos e indicaram que quanto maior o Índice de Massa Corporal (IMC) maiores eram as chances de hospitalização, entubação e morte. Estudo semelhante conduzido por pesquisadores franceses do Instituto Lille Pasteur também apontou no mesmo sentido, sendo que 47,6% dos pacientes internados eram obesos e 28,2% tinham obesidade mórbida.
Estudo comprova eficácia da cirurgia bariátrica contra a Covid-19 em obesos
Publicado em agosto, um estudo conduzido na França avaliou pacientes obesos e operados e concluiu que em pacientes bariátricos a necessidade de ventilação mecânica foi 33% menor e o índice de mortes 50% inferior, comprovando o efeito protetivo da cirurgia nesta população.
“A obesidade tem representado o maior fator de risco para as formas graves da Covid-19, e a cirurgia bariátrica aparece como uma potente arma de proteção para reduzir a gravidade da doença em pessoas com obesidade e diabetes. Além de todos os benefícios já extensamente consolidados em doenças como diabetes, hipertensão, derrame e câncer, agora também temos uma cirurgia que reduz mortalidade causada pelo novo coronavírus”, diz Marcos Leão.