Ao que tudo indica, estamos no início da segunda onda da pandemia do Coronavírus. Países no mundo inteiro e, mais especificamente o Brasil, vêem aumentar as estatísticas de pessoas infectadas pelo vírus. Ao mesmo tempo, estamos cada vez mais próximos da vacina emergencial, sendo que, três instituições divulgaram recentemente os resultados de eficiência das respectivas vacinas que vêm desenvolvendo e o primeiro lote, vindo da China e ainda sem autorização da Anvisa, chegou a São Paulo.
Em meio a tantas incertezas, ansiedade e angústia, parece haver apenas uma certeza: a erradicação da doença e da pandemia se dará com o uso da vacina. Cláudio Galvão, Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope) explica o complexo processo de desenvolvimento das vacinas para que se chegue a um resultado confiável: “O desenvolvimento de vacinas no nível de segurança atual é complexo, com vários testes sobre a segurança e eficácia respeitando normas comuns a agências reguladoras como o FDA Americano, Agência Europeia e nossa Anvisa”.
Porém, assim como, nesse instante, há várias vacinas sendo estudadas, também proliferam, em uma velocidade espantosa, uma série de teorias conspiratórias a respeito de todas elas, havendo, inclusive, grupos que questionam a eficiência das vacinas e chegam a apelarem para o direito de não se vacinarem.
“É direito individual ter maior risco de adoecer e quem quiser pode fumar ou beber até cair. Você também pode se recusar a tomar seu anti-hipertensivo e optar por ter menos anos de vida, mas o erro de quem imagina o direito “democrático” de não se vacinar é não perceber que há outras pessoas que, contra a vontade, têm imunodeficiências, câncer, fazem transplante de órgãos ou tomam imunossupressores para controlar doenças reumatológicas. Assim, quem não se vacina, assume o risco de contrair a doença (o que é um direito privado), mas também coloca em risco toda uma comunidade e mesmo a vida de quem ele não conhece, ou seja, atenta contra toda a sociedade”, explica Galvão.
Outra informação que precisa ser esclarecida é que, assim como as vacinas contra Covid-19 que tiveram índice de eficácia em torno de 95% ou 97%, todas as demais vacinas também não são 100% eficazes. “nem a melhor das vacinas tem 100% de eficácia, ou seja, mesmo quem se vacinou não tem garantias absolutas de que ficará imune, logo, para que uma doença seja controlada é preciso que uma proporção grande da população esteja imune”, reforça o presidente da Sobope.
Para conscientizar, de uma vez por todas, sobre a importância da vacinação e de como a ausência dela pode causar danos a outras pessoas, o presidente da Sobope conta uma história cujos dados não são exatos para preservar a privacidade das pessoas e locais.
“Uma criança tratando uma leucemia, recebeu a visita de um primo, e sua tia, defensora do ‘direito’ de não vacinar, jamais administrou qualquer vacina ao filho, mas sempre omitiu isso de todos. Essa mesma criança com leucemia tinha uma internação programada no dia seguinte e passou pela sala de recreação do hospital onde encontrou outros colegas em tratamento. O primo começou com febre no dia seguinte, mas só depois de alguns dias foi diagnosticado seu sarampo. No hospital, outras oito crianças contraíram sarampo, trazido involuntariamente pelo primeiro contato. Nesse total de nove casos, um faleceu e sete tiveram seu tratamento atrasado ou reduzido, com consequências futuras imprevisíveis”, narra Galvão.
O presidente da Sobope conclui o raciocínio, rechaçando a ideia de “direito democrático” da não vacinação: “Colocar a vida de inocentes, intencionalmente, sob risco não é algo garantido por nenhuma constituição. É tempo de salvar vidas e não de ressuscitar discussões mortas há mais de um século”, finaliza Cláudio Galvão.