Coronavírus: Esper Kallás e Gonzalo Vecina debatem 2ª onda e vacinas

A Associação Paulista de Medicina (APM) reuniu especialistas para debater uma possível segunda onda da Covid-19, bem como imunizações para o controle da doença. O evento, mediado pelo diretor de Economia Médica e Saúde Baseada em Evidência da APM, Álvaro Nagib Atallah, foi transmitido pela TV APM, no YouTube.

“Estamos vivendo uma segunda onda ou é um repique ou permanece a mesma onda do novo Coronavírus? É uma questão de semântica ou que expressa a situação que estamos vivendo hoje? E a imunização, acendeu uma luz no fim do túnel? Temos tantas questões e tantas dúvidas que interessam a todos. Nada como uma melhor maneira de tratar essa solução com a reunião de hoje”, fez a abertura o presidente da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes do Amaral.

O Professor Titular do Departamento de Moléstias infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, Esper Kallás, apresentou a curva crescente no número de casos de infecções e mortes pela Covid-19.

No dia 9 de dezembro, o Ministério da Saúde notificou o acúmulo de 6.728.452 pessoas infectadas e o registro de 178.995 óbitos. Já no estado de São Paulo, foram 1.306.585 casos e 43.461 mortes notificadas. No mundo, segundo a Universidade Johns Hopkins (EUA), já se passaram mais de 68 milhões de casos e mais de 1,5 milhão de mortes.

“Dados do Brasil ainda configuram [o país] em segundo lugar no número de casos no mundo. Infelizmente, isso tem acarretado maior pressão do sistema público de saúde. A Região Metropolitana de São Paulo também está em uma situação bastante difícil. Discursos sobre um possível esgotamento na transmissão do vírus não são verdade; pelo contrário, projetamos vir até mais ondas, caso não haja uma saída para o controle da doença”, alertou Kallás.

Só no HC, já foram atendidos mais de 6 mil pacientes com Covid-19. “São Paulo recebe pessoas do país inteiro, é até a nossa missão ajudar a todos os brasileiros. No entanto, apesar de termos a maior rede de hospitais e de unidades de terapia intensiva, muito provavelmente maior da América Latina, estamos sofrendo uma pressão enorme com os números recorrentes de Covid-19, e a capacidade de leitos está começando a ser comprometida. Na rede de saúde suplementar já está difícil de encontrar leitos de UTIs para os casos graves”, informou o especialista.

Segundo ele, aproximadamente 80% dos leitos da rede de saúde suplementar e entre 50 e 60% da rede pública já estão ocupados. Algumas regiões da Baixada Santista quase atingiram 80% de ocupação.

O sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Gonzalo Vecina Neto, criticou a desativação prematura dos hospitais de campanha nos estados brasileiros. Ele defende que não há uma segunda onda do vírus e sim continuação crescente das infecções, dada a flexibilização e aglomeração das relações sociais presenciais.

“Na Europa, por exemplo, ocorreu um repique importante dado o aumento da flexibilização e aglomeração das pessoas. Aqui, tivemos um relativo progresso com as políticas de isolamento social. Sem contatos presenciais, houve uma diminuição no número de contágios, ou seja, não há nada de surpresa nisso. Agora estamos tendo um exponencial crescimento porque os contatos ampliaram.”

“É de responsabilidade de cada um de nós diante desse cenário. Basta ver o que está acontecendo na 23 de Março, no Brás, na Vila Madalena, no Leblon, Rio de Janeiro, e em Santa Catarina. Muitos destes encontros levarão a muitos casos. Os nossos governantes também têm a parcela de responsabilidade porque demoraram muito para fazer uma reclassificação dos riscos”, destacou Vecina.

Vacinas

De forma simplificada, as imunizações produzidas têm como objetivo neutralizar a capacidade do vírus se ligar às células. Desde os estudos experimentais até os epidemiológicos indicam a presença de anticorpos como marcador principal de proteção.

Kallás apresentou uma pesquisa realizada na Islândia com 30.576 habitantes, que mostrou que 91,1% da população infectada com a Covid-19 desenvolveu resposta humoral por quatro meses. Outro estudo estadunidense apontou a presença de anticorpos neutralizante e protegidos contra RBD e S2 ainda detectáveis entre cinco e sete meses.

“Ressaltamos que os estudos até o momento estão focados na verificação da eficácia da proteção contra a doença, não é contra a infecção nem a contra a doença grave”, ponderou o pesquisador.

Ele resumiu as estratégias fundamentais das imunizações desenvolvidas, clássicas em vírus atenuado, morto ou inativado e partículas semelhantes ao vírus. A vacina de vírus morto aplicada na produção da Sinovac, farmacêutica chinesa parceira do Instituto Butantan, tem ganhado maior visibilidade atualmente.

Ao todo, 164 vacinas estão em estudo pré-clínico e 42 já estão em fase clínica. “Nunca vimos essa produção em toda a história, provavelmente estamos inaugurando uma nova era no desenvolvimento de imunizações”, acrescentou Kallás.

No Brasil, quatro pesquisas estão na fase 3, são elas: Astranazeca (adenovírus de chimpanzé), Sinovac/Butantan (vírus inativado), Pfizer/BioNtech/Wyeth (RNAm) e Janssen (adenovírus 26).

Kallás afirmou, ainda, haver muitas questões que precisamos responder sobre a proteção de cada uma dessas vacinas, a variação de proteção e a dependência da idade, quem deverá ser vacinado primeiro, a durabilidade para manter a proteção das pessoas e se conseguiremos retomar à tranquilidade.

“Nosso grande risco hoje é a população entender que ao se imunizar, a questão já está resolvida. No entanto, sabemos que vamos levar meses para fazer a cobertura vacinal e verificar a queda no número de casos. Se houver um relaxamento da população ou de políticos, podemos estar diante de uma grande tragédia, de um momento de viver as piores semanas e meses da pandemia.”

Sobre a imunidade de rebanho, Vecina acredita que obrigar não é caminho. É importante sim as autoridades públicas desenvolveram boas campanhas para comunicar à população sobre a importância da imunização para, assim, ter uma aderência positiva de cobertura vacinal.

“E o grupo de risco que precisa ser priorizado, sob ponto de vista epidemiológico, é a população mais pobre, porque ela é mais exposta ao vírus, precisa sair todos os dias para trabalhar e buscar comida”, finalizou.

Redação

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