Após 16 meses longe dos hospitais em razão da pandemia da Covid-19, os Doutores da Alegria iniciam o mês de agosto retomando gradualmente os atendimentos às alas pediátricas em quatro equipamentos públicos em São Paulo (SP): Hospital do M’Boi Mirim, Hospital do Campo Limpo, Instituto da Criança (ICr) e Instituto de Tratamento ao Câncer Infantil (ITACI).
Artistas já imunizados – com duas doses ou dose única da vacina – retornam presencialmente, contracenando com sua respectiva dupla, por enquanto, via tablet. A tecnologia já vinha sendo utilizada para visitas virtuais, com apoio dos profissionais de saúde dos hospitais – e agora passa a ser pilotada pelos próprios besteirologistas, em formato híbrido.
“Como as visitas sempre foram feitas em duplas, cada palhaço imunizado será responsável por ‘carregar’ outro palhaço online. Com isso, liberamos também o gentil esforço dos profissionais de saúde que por um ano voluntariamente levaram nossos tablets às enfermarias, alas e corredores dos hospitais”, comenta o diretor artístico da associação, Ronaldo Aguiar.
Uma ação piloto ocorreu no mês de julho, com a visita da atriz Suzana Aragão ao Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (ITACI), na região central da cidade. O protocolo adotado para o retorno inclui o uso permanente da máscara cirúrgica (com o nariz de palhaço sobre ela), higienização com álcool gel, distanciamento social e proibição da entrada em áreas de isolamento. A infectologista Juliana de Souza Framil colaborou com a preparação do elenco, com orientações específicas sobre cada procedimento adotado.
“O retorno dos Doutores da Alegria aos hospitais é essencial e é importante fazer com que seja seguro para os pacientes e os artistas”, afirma a médica.
Para Suzana Aragão, o isolamento deixou os palhaços saudosos das crianças e das equipes hospitalares. “Agora é um novo tempo, uma nova conduta. O vírus nos coloca em outra perspectiva diante dos encontros, com uso de máscara, distância, atenção onde encostar as mãos e o corpo. A delicadeza e o cuidado com o próximo são aprendizados obrigatórios dessa jornada”.
Quase 70% do elenco em São Paulo já está vacinado e as equipes estão sendo remanejadas para que a retomada ocorra de maneira igualitária em todos os hospitais, restabelecendo as tradicionais visitas duas vezes por semana.
Além dos quatro equipamentos que voltam a ser ocupados em agosto, o Hospital Santa Marcelina e o Hospital Universitário devem passar pelo mesmo processo em breve. Em São Paulo, somente o Hospital do Grajaú e o Hospital do Mandaqui ainda não têm datas definidas para a volta dos palhaços.
No Recife (PE), outra capital atendida pela associação, o retorno está previsto para setembro, em alinhamento com o calendário de vacinação local. Já no Rio de Janeiro (RJ), onde as atividades ocorrem por meio da participação de companhias artísticas convidadas, o trabalho ainda permanecerá virtual por tempo indeterminado.
Campanha de arrecadação
A associação Doutores da Alegria realizou recentemente uma campanha nacional de arrecadação de recursos para manter o trabalho gratuito em hospitais de São Paulo e Recife. Desde janeiro de 2021, a continuidade dos projetos só foi possível por meio da utilização de um fundo de reserva.
Somente em julho o Plano Anual dos Doutores da Alegria na Lei de Incentivo à Cultura foi aprovado, liberando os recursos previamente captados. A associação segue recebendo doações, via boleto bancário, transferência via Pix, Paypal e cartão de crédito, pelo site: www.doeparadoutores.com.br.
“Apesar do doloroso impacto gerado pela pandemia, Doutores da Alegria avalia que foi vitoriosa em adaptar suas intervenções artísticas para pacientes no campo virtual”, diz Luis Vieira da Rocha, diretor-presidente da associação.
O modelo de atuação do grupo se transformou desde que foi decretada a situação de pandemia no Brasil. Pela primeira vez em 28 anos, em março de 2020, os palhaços deixaram de visitar presencialmente as alas pediátricas dos hospitais atendidos pelo grupo em São Paulo e no Recife, mas, com a ajuda da tecnologia, seguiram levando acolhimento, alegria e esperança para crianças, familiares e profissionais de saúde.
Neste período, doze ações emergenciais foram adaptadas especialmente para o formato virtual, incluindo o atendimento individual às crianças hospitalizadas, ações artísticas e formativas exibidas em plataformas de transmissão e nas redes sociais.
Doutores da Alegria
Doutores da Alegria é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que introduziu a arte do palhaço no universo da saúde, intervindo junto a crianças, adolescentes e outros públicos em situação de vulnerabilidade e risco social em hospitais públicos. Fundada em 1991 por Wellington Nogueira, transita pelos campos da saúde, da cultura e da assistência social e reforça a cultura como um direito de todos.
Em 2016, Doutores da Alegria se reposiciona a partir de uma nova governança e uma nova tarefa institucional que reforça a cultura como um direito de todos.
Desenvolve o Programa de Palhaços em 12 hospitais de São Paulo e Recife. No Rio de Janeiro, com o projeto Plateias Hospitalares, mantém uma programação artística permanente e diversa em sete hospitais. A Escola Doutores da Alegria traz formações diversas para o público em geral e para artistas e, entre suas iniciativas, se destaca o Programa de Formação de Palhaço para Jovens.