Hospital de Campanha do Hangar será lembrado por trajetória humanizada

Qualquer relato do que aconteceu no dia a dia dos paraenses a partir da pandemia do novo Coronavírus terá como retaguarda o Hospital de Campanha do Hangar, criado pelo governo do estado para atender os doentes afetados pela Covid-19.

Trata-se, portanto, de um protagonista da história que, após cumprir seu papel durante os 554 dias dedicados à reabilitação dos doentes, fechará as portas no próximo 15 de outubro.

A data foi confirmada pelo governador Hélder Barbalho para encerrar as atividades por um bom e esperado motivo: a queda constante do número de paraenses doentes — tanto da capital quanto de municípios do interior.

Mais de 7 mil pessoas foram atendidas no Hospital de Campanha, em Belém, o principal da região Norte. Do total, 4.937 receberam alta e 2.055 não resistiram à doença.

Aberto ao público no dia 10 de abril de 2020, a unidade passou a ser administrada pela Pró-Saúde em dezembro daquele mesmo ano, época em que contava com 160 leitos. No auge dos atendimentos, chegou a disponibilizar 420, sendo 260 de enfermaria e 160 UTI.

Durante esse período de gestão da Pró-Saúde, a entidade filantrópica cuidou do aspecto humano que afetou diretamente a maioria dos doentes, tanto das enfermarias quanto das UTIs (Unidade de Terapia Intensiva).

O projeto Prontuário Afetivo, por exemplo, teve um impacto enorme na relação entre os profissionais e os internados. Além do nome, cada leito também tinha um formulário com informações adicionais dos pacientes, como time de futebol, nome do animal de estimação e outros detalhes que faziam parte da vida cotidiana da pessoa internada.

“Assim, os profissionais tinham mais elementos para dialogar com os doentes. A relação deixou ser meramente técnica para ser uma relação entre pessoas e isso fez uma enorme diferença”, lembrou Elizabeth Cabeça, responsável pelo setor de humanização do Hospital de Campanha.

Todas as ações de humanização, explicou Elizabeth, foram pensadas para que os pacientes se recuperassem e lembrassem do atendimento que receberam enquanto estiveram na unidade.

“O trabalho de humanização também buscou integrar a família ao atendimento do doente. Por conta dos protocolos, os pacientes não puderam receber visitas presenciais. Então, a troca de informações tanto para quem estava internato quanto para quem estava em casa, foi essencial”, disse ela.

Elizabeth Cabeça lembrou das videochamadas entre os doentes e seus familiares. “Foram momentos de muita emoção que contribuíram para a reabilitação dos pacientes e o alívio das famílias”, explicou.

Gestão

“A Pró-Saúde imprimiu no Hospital de Campanha do Hangar seus maiores esforços, justamente por se tratar de uma unidade de saúde absolutamente inédita para todos nós”, resumiu a diretora Hospitalar Alba Muniz.

“O nosso foco foi o paciente. Tratamos os doentes como pessoas, minimizando o máximo possível o duro impacto causado pela pandemia”, lembrou. Alba também disse que a Pró-Saúde selecionou profissionais preparados para lidar com situações de emergência.

“Também criamos processos internos e rotinas de trabalho para organizar o atendimento. Tivemos todo o suporte necessário de equipamentos e medicamentos para os pacientes. E nos reuníamos diariamente para tratar dos casos”, explicou.

“Mesmo nos momentos mais críticos, durante a gestão da Pró-Saúde todos os pacientes foram atendidos dignamente, protegidos de qualquer tipo de colapso”, afirmou.

Fernando Paragó, diretor Corporativo Médico da Pró-Saúde, destacou que a atuação da entidade foi essencial para manutenção da assistência aos pacientes em meio à uma crise nacional no setor, principalmente relacionada à disponibilidade de insumos e profissionais, que se tornavam cada vez mais caros e escassos.

“Mesmo assumindo a gestão em uma fase conturbada, conseguimos realizar uma transição suave, estabilizando a situação. Garantimos as condições de trabalho adequadas para os profissionais e, principalmente, uma assistência segura e de qualidade aos pacientes, inclusive, auxiliando outros Estados da região Norte”, lembrou Paragó.

Pico de internações

Durante o aumento de internações, quando a unidade passou de 300 leitos, de março a maio, 1.487 profissionais, entre médicos, enfermeiros, psicólogos, técnicos, entre outros, atuaram para salvar vidas na unidade hospitalar.

Esses profissionais estiveram na linha de frente dos cuidados e conduziram projetos, treinamentos e campanhas, como a Semana de Enfermagem; o Vidas que Importam; comemorações dos aniversariantes do mês; Campanha de Prevenção ao Suicídio; Treinamentos e oficinas sobre correta higiene das mãos e de salvamento, entre outras.

“As diversas atividades pensadas para integrar os funcionários se somaram também ao exercício de cuidar. Estamos do lado de cá, exercendo o papel de amparar os nossos pacientes, assim esse cuidado foi estendido, também, para os profissionais”, diz Josieli Pinheiro, diretora assistencial do Hospital.

Além dos reconhecimentos, outro marco para os profissionais que atuaram no Hospital de Campanha: eles foram os primeiros do Estado a se vacinarem contra a Covid-19. Em janeiro, a imunização ainda era um sonho distante, mas, no Hangar, o avanço chegou.

Quem recebeu o imunizante primeiro foi a enfermeira Shirley Maia. Com 39 anos de idade, ela atuou na unidade desde o início. “Estivemos no dia a dia de luta contra a doença, tentando salvar vidas. A imunização foi importante e me senti extremamente feliz, já naquela época. Segui um pouco mais aliviada”, disse Shirley.

Pacientes vindos do Amazonas

Em decorrência dos altos números da doença e a problemática enfrentada em algumas cidades do Brasil, com falta de leitos e oxigênio, o Hospital de Campanha do Hangar abriu as portas para receber pacientes de outros Estados; o maior número veio do Amazonas.

Ao todo, 41 pacientes foram recebidos pelo Hospital de Campanha e receberam os cuidados necessários, se recuperaram e voltaram para seus lares.

“Trabalhamos incansavelmente para oferecer atendimento de qualidade para os paraenses. O suporte que foi dado pelo Governo do Pará aos cidadãos do Amazonas mostrou o quanto3 a união de esforços é importante no combate à Covid-19”, completa a diretora Alba Muniz.

Redação

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