Medo, insegurança, autoestima, aceitação, coragem. Todas essas palavras fazem parte de uma grande caminhada de quem descobre o câncer, seja ele qual for e independentemente do quão otimista o paciente possa estar com o seu tratamento. Lutar contra a doença é um ato que coloca não somente o nosso corpo em uma batalha, mas também a nossa mente. E quando isso está associado também a aspectos físicos pessoais tão emblemáticos e importantes? Neste caso, temos um desafio ainda maior e esse é um dos principais pontos que avaliamos quando estamos diante do Câncer de Mama.
As campanhas de Outubro Rosa já estão muito presentes na sociedade brasileira. A importância do autoexame, do cuidado constante e do diagnóstico precoce estão muito presentes na mentalidade mundial, embora ainda tenhamos muitos diagnósticos tardios do câncer que mais mata mulheres em todo o mundo. Mas, para além disso, ainda discutimos pouco sobre os aspectos psicológicos que envolvem a luta contra essa doença. Qual é o papel sócio emocional da população em geral para ajudar essas mulheres? Qual é o papel da família neste processo? Qual é o papel da nossa própria mente ao lidar com essa situação?
Em primeiro lugar, é importante compreendermos o quanto a doença e, especificamente o câncer de mama, desestrutura uma mulher diante das incertezas do tratamento, da possibilidade de não se curar totalmente ou de se curar e ter uma recidiva. Uma vez que a paciente descobre o câncer é como se passasse a pensar que conviverá com isso durante toda a vida, ainda que se cure totalmente. Além disso, estamos falando de algo que vai mexer com uma das partes mais significativas do corpo feminino: o seio. E sob essa ótica, temos que entender que a influência dessa parte do corpo humano se dá não somente pela sexualidade feminina, mas pelo que representa para muitas mulheres, principalmente quando falamos de uma mulher jovem que ainda não foi mãe e que sonha um dia com a amamentação, por exemplo. São inúmeras as problemáticas psicológicas associadas a isso.
Vamos ainda além: É uma doença que atinge a personalidade feminina e faz com que essas mulheres questionem sua própria beleza, sua aceitação diante de parceiros(as), família, filhos e até amigos. É muito comum, inclusive, encontrarmos pacientes que se fecham e não compartilham da sua doença por medo de olhares estranhos ou de pena pela sua própria aparência ao lutar contra isso.
Diante de todos esses pontos, o cuidado integrado e coordenado de saúde de uma mulher nesta situação é fundamental para a evolução e sucesso do seu tratamento e o mais indicado é que o atendimento psicológico seja iniciado imediatamente após o diagnóstico. Após uma avaliação do profissional que acompanhará essa paciente, será indicada a conduta e os tipos de acompanhamento que deverão ser feitos. Em muitos casos, inclusive, este tratamento envolve não somente a paciente, mas também seus parceiros e família, já que é uma luta de todos e os medos e inseguranças também são compartilhados.
Estudos demonstraram que essa redução da qualidade de vida emocional, social e sexual acontece muito além do período de um a dois anos após o tratamento inicial, chegando até cinco anos depois. E é por isso que, de acordo com o INCA, no momento da alta hospitalar deve-se encaminhar a mulher para grupos de apoio que discutem o que estão vivenciando, visando integrá-las à vida cotidiana novamente. Também há estudos que demonstram que as intervenções interdisciplinares (que são compostas por médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas) são essenciais para a efetividade durante e após o tratamento. E, neste quesito, o cuidado coordenado, que valorizamos muito e temos como principal na Amparo Saúde, é a ferramenta-chave.
Por fim, é uma doença difícil, mas com muita esperança de cura principalmente quando associamos a tratamentos psicológicos que dão suporte às mulheres para adaptarem suas vidas e enxergarem novos caminhos importantes em sua existência.
Como sociedade, precisamos entender nosso papel também nessa construção de novos olhares e perspectivas diante do câncer de mama. Evitarmos frases indiscretas, olhares diferentes, afastamentos. Se formos além e espalharmos esperança, entendendo que a doença quando compartilhada em uma rede de apoio eficiente, a mulher se torna ainda mais forte e, com certeza teremos ainda mais vitórias e curas!
Muriell da Silva Coelho é psicóloga clínica em consultório particular e especialista em saúde mental de adultos. Possui experiência em psicologia hospitalar de áreas como oncologia, neurologia, cardiologia, gerontologia, nefrologia e cuidados paliativos. Atualmente, atua na Amparo Saúde como líder de Psicologia em Atenção Primária à Saúde (APS)