Com a pandemia do novo Coronavírus, os hospitais do Rio de Janeiro se tornaram verdadeiros campos de batalha. Na luta contra um inimigo que já levou mais de 13 mil vidas somente no estado, médicos e enfermeiros se tornaram heróis públicos por salvarem tantas pessoas. Mas, na linha de frente, também está um grupo que se empenha longe dos holofotes: o dos funcionários de limpeza hospitalar, que vêm trabalhando arduamente para reduzir os perigos de contágio dentro das unidades de saúde.
A higienização de ambientes, superfícies e objetos para evitar a propagação do Coronavírus é uma orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS). O cuidado é ainda maior nos hospitais, onde profissionais estão em contato com pessoas doentes e materiais contaminados são descartados a todo instante. Quem atua na limpeza hospitalar está garantindo, na medida do possível, uma segurança maior para os estão tratando e os que estão sendo tratados.
Maria Berenice da Silva, auxiliar de limpeza do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), da UERJ, em Vila Isabel, explica como o serviço é essencial para enfrentar esta pandemia: “Nós estamos na linha de frente, e nem todo mundo reconhece nossa importância. Tem quem discrimine o pessoal da limpeza. Mas, sem o nosso trabalho, se não limparmos os setores mais críticos e os leitos para receber novos pacientes, a operação do hospital não anda. Estamos ajudando a salvar vidas também.”
A Mais Verde, empresa responsável pela mão de obra terceirizada de limpeza hospitalar no HUPE, na Policlínica Piquet Carneiro, também da UERJ, e em outras unidades de saúde do Rio, realiza treinamentos frequentes de segurança e de manuseio de produtos perfurantes e cortantes com os funcionários. Com a crise de saúde atual, também foram reforçados os cuidados para colocar e retirar equipamentos de proteção individual, como luvas, capotes e toucas.
“Não somos médicos, nem enfermeiros, mas estamos acompanhando tudo de perto e fazendo nossa parte. Nós sofremos junto com pacientes, familiares e equipe médica. O ambiente está muito triste. E as exigências com a limpeza se multiplicaram para controlar a propagação do vírus, o que envolve cuidados com nós mesmos e com os outros. O nosso trabalho mudou toda a nossa rotina de vida nesta pandemia”, relata Fabiano Nunes, que também trabalha na limpeza do HUPE.
Em outro hospital atendido pela empresa, o supervisor da equipe de limpeza, Anderson Monteiro, diz que, antes de começar o expediente, conversa com os auxiliares para checar como todos estão se sentindo: “A maioria vem para o hospital preocupada em pegar a doença e transmitir para os familiares. Tem gente que já se contaminou e voltou após se recuperar porque entende a importância do próprio trabalho. Mas todos têm muito amor e cuidado com o outro. O diálogo antes da rotina está sendo válido para eles trabalharem com mais conforto mental.”
Para Anderson, as relações familiares chegaram a melhorar com mais diálogo e conscientização. Rosilene Ferreira, auxiliar de limpeza, destaca que, apesar de haver menos contato físico em casa, a preocupação é constante: “A minha preocupação maior é com a minha filha pequena, que tem bronquite. Já trabalhamos com o maior cuidado, agora a atenção redobrou. Quando chegamos em casa, temos que tirar toda a roupa, ir direto para o banho, deixar sapato e mochila do lado de fora, higienizar tudo, passar álcool.”
Como a limpeza não pode parar, ainda mais em um momento tão crítico, a Mais Verde explica os procedimentos quando algum funcionário precisa ser afastado: “Quando um funcionário está com sintomas, é imediatamente afastado e encaminhado ao setor médico. Nós remanejamos as equipes reservas e providenciamos novas seleções para contratação. Temos tido dificuldade de contratar mão de obra para preencher as vagas, porque muitas pessoas, ao saberem que é para atuar nos hospitais, declinam com receio por causa da pandemia”, esclarece Wilma Costa, gerente comercial pós-venda da empresa. “Mas mantemos as atividades, primando pela saúde dos nossos colaboradores, orientando-os quanto à prevenção e aos cuidados, fornecendo os EPIs. Destaco o empenho deles e queremos agradecer a todos que estão na linha de frente.”
À população do Rio de Janeiro, os auxiliares de limpeza das unidades de saúde pedem compreensão sobre a gravidade do problema, para as pessoas se prevenirem e seguirem as orientações. Rosilene Ferreira destaca que a atenção com o próximo é fundamental: “Estamos sendo reconhecidos aqui dentro pelos pacientes e pelos médicos. Antes da pandemia, o trabalho da limpeza era pouco valorizado pela população, acho que agora pode ser mais visto. Todo mundo tem que se proteger, cuidar de si e dos outros. Isso fez com que as pessoas tenham mais empatia com a gente.”