A educação profissional em medicina ministrada de forma tradicional está em crise em todo o mundo, e especialmente, no Brasil, por diversos motivos, entre os quais, a avalanche de informação gerada pelo progresso científico e a persistência de metodologias didático-pedagógicas obsoletas e ineficazes, em grande descompasso com a realidade atual, permeada de alta tecnologia.
Embora nada disso seja novidade ou exclusivo das ciências da saúde, de fato, o volume e o ritmo de crescimento da informação técnica e científica nesta área parecem ser mais agudos e de maior importância. O mero crescimento não é tudo, todavia: ele é agravado pelo fato de que boa parte do conhecimento contido na literatura científica médica está ficando obsoleto em poucos anos ou meses.
Além disso, o acesso tradicional à informação, através das bibliotecas médicas baseadas em papel, que, no Brasil, são geralmente deficientes e mal utilizadas, dificulta o ensino e aprendizagem fora das grandes capitais e grandes instituições, sem contar o fato de que cada vez mais as publicações médicas são exclusivamente eletrônicas, em volume e ritmo cada vez maiores.
Assim, não é de se surpreender, frente a tudo isso, que estejamos passando pelo que o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Harvard, Octo G. Barnett denominou de “doença da educação médica” a esse preocupante conjunto de sinais.
A solução: mudança de paradigmas?
É inegável que, entre as inúmeras tentativas de reformar e revolucionar o ensino em saúde, o uso maciço de tecnologia passa a assumir grande preponderância. A virtualização do conhecimento através das redes digitais elimina a necessidade do meio físico, permite o acesso instantâneo e simultâneo de qualquer parte do mundo e admite a localização rápida e precisa através dos mecanismos de busca on-line por meio de palavras-chave.
O perfil dos futuros profissionais de saúde é que os mesmos devem dominar o uso de tecnologias de informação com a finalidade de melhorar o acesso aos dados disponíveis de forma eletrônica, bem como usar de forma competente ferramentas informatizadas, como a telemedicina, os sistemas de apoio à decisão e o Prontuário Eletrônico de Saúde, como aponta o estudo Joint Task Force: Health Information Management and Informatics Core Competencies for Individuals Working With Electronic Health Records.
Assim, é possível fazer com que o sistema educacional transforme gradativamente o seu foco principal de ação, deslocando-o do ensino (instrução) para o aprendizado (centrado no aluno). Isso torna também o estudante mais independente, aprendendo segundo seu próprio ritmo e necessidade.
O suporte eletrônico aos novos pilares da educação médica
A informatização integral dos recursos de informação disponíveis para professores e estudantes é o primeiro e necessário passo. Implica na transformação digital da antiga biblioteca. Todos os livros, periódicos e outros recursos de ensino e aprendizado usado por todos passam a ser integralmente digitais.
A instituição assina plataformas comerciais de acesso à informação médica em texto integral, sem custo adicional, a todos os participantes, e disponíveis em qualquer lugar. Por exemplo, uma dessas plataformas por assinatura mais utilizadas no mundo é o Elsevier Clinical Key.
Numerosos recursos de informação das editoras comerciais atualmente também podem ser acessados mediante uma assinatura institucional de biblioteca digital, que deve conter livros-texto em texto completo, em português, na maioria das especialidades, que podem, inclusive, serem baixados para uma estante virtual do usuário, e lidos “off line”.
Para o ensino prático de habilidades específicas da saúde, tais como procedimentos, medicações, semiologia, métodos diagnósticos etc. existem também plataformas que servem tanto para estudantes de medicina como de enfermagem, e que também usa muitos vídeos, um recurso de aprendizado muito bem aceito pelos estudantes atuais.
Alguns desses sistemas de apoio à decisão também são um recurso excelente para o aprendizado das habilidades de diagnóstico e tratamento pelo estudante, como em medicina diagnóstica baseada em imagens.
Nesse novo ambiente, a informática passa a ser essencial para os estudantes, principalmente, quanto ao precioso apoio ao autoestudo, ou estudo independente. As atividades baseadas em informática proporcionam muitas vantagens: são flexíveis quanto ao espaço e ao tempo, não exigem os custos nem o tempo gasto com viagens e estadias ou taxas de inscrição em cursos, não roubam o tempo de atendimento no aprendizado clínico, e podem ser realizado a qualquer momento ou lugar.
Prof. Dr. Renato Marcos Endrizzi Sabbatini, PhD, FIAHSI