Artigo – Atenção domiciliar reduz o colapso do sistema de saúde

Mais do que nunca, a pandemia levou o sistema de saúde do país ao limite. Mas acreditem: o colapso poderia ser maior caso não existisse a atenção domiciliar, o home care. Já faz dias que os médicos têm incentivado portadores de doenças crônicas e sequelados da Covid-19 a continuar o tratamento em casa a fim de liberar os leitos dos hospitais para os pacientes mais graves da Covid-19.

Se, por um passe de mágica, as empresas de atenção domiciliar encerrassem suas atividades, seria necessário criar por ano 20.763 leitos hospitalares para atender os pacientes hoje supridos por seus serviços, o equivalente a 4,87% dos leitos existentes no Brasil. Os cálculos são do Núcleo Nacional das Empresas de Serviço de Atenção Domiciliar (NEAD), cujo último censo demonstrou que, em 2019, o segmento atendeu 292 mil pacientes, gerando um total de 29 milhões de diárias, dos quais 30% de internações domiciliares.

No contexto de pandemia, a atenção domiciliar representa uma alternativa de tratamento que contribui para manter as pessoas em casa, diminuir a propagação do vírus, favorecer a alta precoce, desafogar os hospitais e aliviar o sistema de saúde.

Quando se fala em atenção domiciliar, não estamos nos referindo apenas ao acompanhamento de idosos e doentes crônicos. A modalidade engloba uma vasta gama de atendimentos para diversas enfermidades. Dentre eles estão desde os procedimentos mais simples – como a troca de curativos e a administração de medicamentos – até os mais complexos como montagem de UTIs domiciliares, cuidados paliativos e tratamentos oncológicos e dialíticos.

Todos os serviços são realizados em domicílio por profissionais treinados, proporcionando ao paciente e seus familiares uma experiência acolhedora, que extrapola o atendimento de saúde. Não por acaso, o setor cresceu 35% desde o início da pandemia, segundo projeções do NEAD. A crise sanitária apenas acentuou a curva ascendente do setor, como demonstra um levantamento realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), a pedido do NEAD. O censo revelou que o número de estabelecimentos saltou de 676, em junho de 2018, para 830 em dezembro de 2019, o equivalente a um aumento de 22,8%.

Nós acompanhamos esse movimento. Os números dão a dimensão da demanda que os serviços de assistência domiciliar vêm recebendo. No primeiro bimestre de 2021 foram registrados 12% (ante 2020) de aumento na demanda por serviços de atenção domiciliares. No início do segundo semestre de 2020, no pico da primeira onda, a demanda superou o patamar dos 42%.

Entretanto, a maioria dos atendimentos em 2020 não teve apenas relação direta com a infecção. Cerca de 53% foram relacionados a enfermidades de natureza neurológica, 12,1% por doenças cardiovasculares e 7,8% por doenças pulmonares.

Se a pandemia acelerou tendências como o home office e a telemedicina, o mesmo ocorreu com a atenção domiciliar. A circulação em âmbito mundial de um vírus letal conscientizou as pessoas da importância deste tipo de serviço, que tende a crescer mesmo passada a crise sanitária, em paralelo o crescimento contribui diretamente para a gestão de outro problema que enfrentamos na pandemia, a carência de leitos hospitalares.

Outro fator importante é o crescimento da população madura, que tem como reflexo o aumento da prevalência de doenças crônicas e, que requerem cuidados para manter a capacidade funcional e a qualidade de vida dos pacientes. A atenção domiciliar constitui-se numa alternativa para que essas pessoas tenham cuidados médicos dentro de casa, com o apoio dos familiares, reforçando o conceito da humanização das práticas de saúde.

 

 

 

 

Hyran Godinho é CEO da Pronep Life Care, empresa do Grupo Sodexo

Redação

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