Artigo – Atualização do Rol da ANS amplia acesso de pacientes à terapia-alvo

Estima-se que até 2029 o câncer supere as doenças cardíacas e se torne a principal causa de morte no país. Na cidade de Porto Alegre, entretanto, é provável que isso ocorra já em 2018, tornando a capital gaúcha a primeira grande cidade do Brasil onde este fenômeno acontecerá. Isto está intimamente relacionado a fatores de risco derivados do estilo de vida, como maus hábitos alimentares e sedentarismo, tão frequentes na nossa população, além do próprio envelhecimento e de fatores genéticos. Apesar dos diversos avanços no tratamento do câncer alcançados nas últimas décadas, como no caso dos tumores de mama, a mortalidade por alguns tipos de câncer, como os de pulmão, continua elevada.

A alta mortalidade associada aos tumores de pulmão está relacionada, entre outros motivos, ao diagnóstico tardio e à falta de acesso às terapias inovadoras, que podem beneficiar os pacientes quanto à sobrevida e no convívio com a doença. Essa é uma enorme motivação para quem atua na medicina, e o surgimento de novas terapias é um motor dessa transformação. Um novo medicamento passa em média dez anos em estudo antes de chegar ao mercado. Mas o acesso do paciente a uma terapia inovadora para o câncer depende, na maioria das vezes, da capacidade do governo e dos planos de saúde em oferecer o tratamento.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou, em novembro de 2017, a importante notícia sobre a ampliação do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, incluindo 18 novos procedimentos, entre exames, terapias e cirurgias. A lista é revisada a cada dois anos para atualizar a relação mínima de tratamentos que devem ser oferecidos pelas operadoras de planos de saúde, incorporando novas tecnologias. Um exemplo das inserções no rol da ANS em 2018 é uma terapia-alvo indicada para o tratamento câncer de pulmão de não pequenas células com mutação do EGFR.

O câncer de pulmão é o tipo de tumor que mais mata no Brasil e no mundo, sendo responsável por 18,2% de todas as mortes por câncer. Só no Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que, para 2016/2017, são cerca de 28.220 novos casos de câncer de pulmão (17.330 em homens e 10.890 em mulheres).

Assim sendo, iniciativas como a disponibilização do afatinibe pela ANS são uma vitória a partir de um intenso trabalho de entidades representativas de pacientes, da classe médica e da indústria farmacêutica junto aos órgãos responsáveis e representam um marco no tratamento da doença em nosso país, pois aumenta as alternativas de tratamento para muitas pessoas com o adenocarcinoma com mutação do EGFR.

É relevante frisar também que ações simples tomadas por parte da própria população podem ajudar a melhorar o cenário da doença. Primeiro, há de se ter atenção especial aos sintomas iniciais do câncer de pulmão, que podem se assemelhar aos de uma gripe que não melhora (falta de ar, emagrecimento, tosse, entre outros). O mais indicado é que, ao persistirem esses sintomas por mais de três dias, sem que eles possuam uma origem clara, a pessoa procure orientação médica.

Soma-se a isso a importância do diagnóstico correto do subtipo da doença. O câncer de pulmão possui muitos tipos e, apesar de o tabagismo ser apontado como principal causa de sua incidência, há outros fatores causadores, como alterações genéticas e exposição a outros fatores tóxicos entre outros. Por isso, ao constatar o câncer, o paciente deve sempre passar por testes para identificação exata do subtipo de sua doença, e dessa forma iniciar o tratamento mais adequado.

Novidades como a inclusão desta terapia no Rol da ANS devem ser celebradas. Desta forma, poderemos proporcionar aos pacientes uma melhora significativa dos sintomas, além de uma expectativa maior no sucesso do tratamento.

 

 

Carlos Barrios é oncologista especializado em câncer de pulmão e diretor do Hospital do Câncer Mãe de Deus, de Porto Alegre (RS)

Redação

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