Enfermeiras relatam desafios e experiências vividas pelos profissionais da saúde que estão na linha de frente durante pandemia do novo Coronavírus, que já atingiu mais de 3,7 milhões de pessoas.
Nesse momento de pandemia do coronavírus, surgiram muitas soluções para atender a demanda por atendimentos para evitar ao máximo a lotação do sistema de saúde. Uma delas é a telessaúde, termo que engloba a telenfermagem, telemedicina e todas as categorias profissionais que realizam algum tipo de atendimento a distância e/ou digital.
A teleconsulta de enfermagem já era autorizada pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo antes mesmo dessa pandemia (Orientação Fundamentada Nº 016/2017), e, muitos enfermeiros possuem a expertise, com grande parte destes profissionais na linha frente desse tipo de atendimento.
“Nós estávamos acostumadas com a nossa rotina de atendimentos presenciais nas empresas e a distância por chat, telefone e vídeo. Entendemos que tanto nos atendimentos remotos quanto nos atendimentos presenciais, todos nós estamos na linha de frente para impedir a cascata de propagação do vírus. Com atendimentos a distância, ajudamos a evitar que os prontos-socorros fiquem cheios e haja o colapso no sistema de saúde”.
A população continua adoecendo por outros problemas de saúde além do coronavírus, como infecção urinária, faringite, amigdalite, rinite, sinusite, enxaqueca, etc. Algumas situações, como estas citadas, podem ser resolvidas a distância, por meio de teleconsultas e orientações sobre cuidados com a saúde, sem a necessidade de encaminhamento ao pronto atendimento.
A telessaúde se faz importante neste contexto ao organizar e direcionar o fluxo, para que chegue ao pronto atendimento demandas que realmente exigem atendimento presencial.
O atendimento inicial por telessaúde seleciona as pessoas que podem ser atendidas a distância e as que necessitam de atendimento presencial. Isso reduz a circulação de pessoas, a propagação do vírus e permite espaço para atendimentos presenciais de casos mais graves de Covid-19 e outras doenças como infarto, apendicite, trombose e outros.
De certa forma, todas as esferas do sistema de saúde, tanto público quanto privado, sofrem impacto com a pandemia. O aumento no número de pessoas que procuram os serviços de pronto atendimento preocupam diversas entidades, como Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Infectologia, que fazem apelos sobre em que momentos e quais serviços procurar de acordo com o problema de saúde apresentado.
Manifestos estão sendo realizados por profissionais de saúde do mundo inteiro, solicitando que as pessoas fiquem em casa, para que estes possam se dedicar a cuidar de todos. Profissionais de saúde não defendem visões políticas, mas sim a ciência, a vida de todas as pessoas e também temem pela própria e de seus familiares, já que correm mais risco de contágio do que a população em geral.
Nós, como profissionais de saúde, reconhecemos e sentimos também a preocupação com a economia, por cada pessoa que atendemos, cada dificuldade, cada dor, e também a nossa própria, mas entendemos que se as pessoas não pararem para cuidar de sua saúde, uma hora terão que parar para cuidar da doença, que os paralisarão.
“A nossa demanda de atendimentos remotos aumentou muito e estamos lidando com outros problemas de saúde que esse momento gera nessa situação: ansiedade, angústia, depressão, problemas de saúde mental”.
Todos os profissionais de saúde, enfermagem e áreas relacionadas que estão mais em contato com as pessoas, lidam com o medo e a dor do outro, muitas vezes sentindo o mesmo sofrimento.
“Grande parte da nossa rede de amigos são profissionais de saúde e nós estamos muito preocupados com nossos colegas de trabalho e com os riscos pelos quais estão expostos”.
O Coronavírus trouxe uma nova realidade, uma nova era. É tempo de se reinventar. É tempo de refletir.
Pessoas dentro de casa com dificuldade em organizar tantas atividades, como o trabalho, a organização da casa, estudos dos filhos e momentos de lazer.
Quantas pessoas tiveram suas formas de renda cortadas, estão passando por dificuldades financeiras, improvisando trabalhos, produzindo comidas para vender, costurando máscaras, fazendo entregas em aplicativos?
Criamos uma nova forma de socializar, de estar presente na vida das pessoas sem tê-las ao vivo, sem poder tocá-las, encontrando-as por meio de telas.
Foi necessário encontrar uma nova forma de se sentir feliz, de valorizar as pequenas coisas, de viver a vida. Uma forma diferente de tudo que entendíamos como felicidade. Sem viagens, amigos, família presente. Impossível isso tudo não gerar medo, ansiedade e depressão, não é mesmo?
Todos esses medos ainda são intensificados diariamente pelas notícias de jornais, rádio, TV. Agora, imagine os profissionais de saúde que além de todas as informações sobre a pandemia nos noticiários, vivem as experiências negativas de uma isolamento social e ainda sentem na pele o medo por si próprio, por seus familiares e amigos e por todas as pessoas que atendem.
Esse manifesto escrito por enfermeiros representa todos os profissionais de saúde, independente de onde atuam, que estão lidando com o grande medo que a pandemia trouxe.
Por isso, enfatizamos mais uma vez a importância de ficar em casa. Entendemos e vivemos na pele todas as dores e sofrimentos que estão associados a ficar em reclusão, mas sabemos que devemos acreditar na ciência como única conduta para combater esse vírus e repudiamos qualquer posicionamento contrário.
Raquel Sakamoto e Gabriela Teixeira Bontempo são enfermeiras na Cuidas, startup que conecta empresas com médicos e enfermeiros para atendimentos no próprio local de trabalho