O Dia Nacional da Saúde, celebrado nesta quinta-feira (5), foi inserido, por meio de Lei, no calendário oficial brasileiro, por ser a data de nascimento de Oswaldo Cruz, médico e sanitarista, conhecido historicamente pela luta e erradicação de epidemias no país. Seu nome, especialmente neste ano e no ano passado, esteve em evidência pelo fato de a sua fundação, a Fiocruz, ser uma das fabricantes nacionais de vacinas contra o novo Coronavírus.
A data, porém, não remete (ou, ao menos, não deveria remeter) apenas ao combate de doenças. Nas minhas décadas de experiência como médico, vi e li inúmeros artigos de colegas utilizando o “5 de Agosto” como meio de falar sobre patologias. Diabetes, cardiopatia, doenças genéticas, oncológicas… Raras vezes, porém, vi alguém abordar a saúde em si, pois, ora, é o Dia da Saúde.
Efetivamente, é preciso falar sobre vida saudável, da promoção de saúde, algo reforçado pela pandemia da Covid-19, que trouxe consequências devastadoras.
Boa parcela das pessoas que não resistiram ao vírus não estavam em dia com a saúde. Estavam com comorbidades. Não eram doenças crônicas, eram problemas sem o devido controle, tais como cânceres sem tratamento, obesidade, diabetes e hipertensão desequilibradas… A verdade é que as pessoas deixaram de se cuidar. Quem já era doente, ficou ainda mais. Quem não era, ficou doente por não fazer exames e pelo fator psicossocial. E quem teve problemas agudos, por ter procurado tardiamente um tratamento, agravou ainda mais o seu quadro.
Uma pesquisa da empresa Ticket do início deste ano confirmou esta triste tendência: ao todo, 28% dos brasileiros pararam totalmente de realizar exames e check-ups durante a pandemia. E outros 33% diminuíram a frequência em seus controles de saúde. Só para se ter uma ideia do quanto isto é grave: em 2020, por exemplo, mais de um milhão de brasileiras deixaram de fazer mamografia, segundo o Ministério da Saúde. Isso quer dizer que mais de 50 mil delas não foram diagnosticadas precocemente, facilitando o tratamento.
Além da cratera aberta na diferença das classes sociais e do desequilíbrio mental (pela vivência de algo grave, sem precedentes e com drásticas mudanças nos comportamentos e rotinas), a pandemia vai deixar, ainda, como legado, um aumento da comorbidade na sociedade. Portanto, neste Dia Nacional da Saúde, precisamos nos lembrar da saúde por si só.
Seguir os protocolos sanitários impostos pela disseminação do novo Coronavírus é primordial, mas é ainda mais importante não nos esquecermos de duas ações básicas fundamentais:
1) de que é preciso respeitar protocolos para TODAS as doenças: com a manutenção de tratamentos e de rotinas de cuidados à saúde, visitas a equipes multidisciplinares, atendimentos médicos, exames recorrentes, etc.;
2) de que precisamos, a todo custo, buscar o bem-estar, pois é melhor prevenir do que remediar: procurar especialistas em atenção primária, fazer a puericultura nas crianças, um pré-natal bem feito nas gestantes, fazer exercícios físicos regularmente, nos alimentarmos corretamente, abandonar o tabagismo, etc.
Chegou a hora de todos “virarmos a chavinha” e, juntos, somarmos nossas forças para “consertar” a saúde. É necessário que as empresas fomentem o bem-estar dos colaboradores, dando subsídios e orientando de forma assertiva. Assim como também é necessário que o poder público – nas esferas municipal, estadual e federal – permita acesso da população a uma saúde de qualidade. Já as instituições e entidades de classe devem, por sua vez, propagar a necessidade do cuidado constante com a saúde. E nós, individualmente, cuidando cada um de si, criamos um coletivo sadio. A somatória disto é a restituição da saúde de maneira geral.
Priorizar a saúde é melhorar resultados em qualidade de vida para municípios, estados e país. É um grande investimento com retorno a muito curto prazo.
Dr. Erickson Blun é Diretor-Presidente do Vera Cruz Hospital, Vera Cruz Casa de Saúde, Vera Cruz Medicina Diagnóstica e demais serviços do HUB Campinas (SP)