Descrita há mais de 200 anos, a Doença de Parkinson é a segunda condição neurodegenerativa mais comum no mundo, atrás somente da Doença de Alzheimer. Estima-se, hoje, que uma a cada 100 pessoas acima dos 60 anos de idade convive com ela, e que o total de acometidos globalmente ultrapasse 600 milhões de pessoas. Devido ao impacto gerado pela condição, o dia 11 de abril, data quando, em 1755, nasceu o cientista britânico James Parkinson, que teria feito um relato inicial sobre a doença em 1817, foi escolhido para incentivarmos e celebrarmos sobre a sua conscientização.
As causas são complexas e, até hoje, constantemente debatidas e revisitadas. Dentre outros fatores, a patologia está relacionada a diversas alterações cerebrais que envolvem perda dos neurônios dopaminérgicos na substância negra cerebral (e, portanto, redução dos níveis de dopamina), acúmulo anormal de proteínas (formando os chamados Corpos de Lewy), disfunção de outros neurotransmissores, como serotonina e noraepinefrina, e disfunção de organelas celulares. Segundo estudos, de 3% a 5% dos pacientes carregam alguma mutação genética capaz de gerar a doença, mas a maioria dos casos é fruto da interação de fatores genéticos e ambientais. Segundo os textos, o principal fator de risco é a idade avançada.
Quanto aos sintomas, é comum lembrar dos tremores quando pensamos em Doença de Parkinson. Entretanto, há pacientes que não o manifestam ou que apresentam um tremor muito sutil, o qual aparece predominantemente quando as mãos estão em repouso. Ou seja, nem todo tremor é doença de Parkinson, e nem toda doença de Parkinson se manifesta com um tremor exuberante. O sintoma mandatório para sua caracterização é, na verdade, a bradicinesia: uma lentificação e diminuição da amplitude dos movimentos. Outros indícios importantes são a rigidez e, em uma fase mais tardia, a instabilidade postural, e é importante saber que há sinais que podem aparecer muitos anos antes das manifestações motoras do Parkinson, entre eles a dificuldade para evacuar (constipação intestinal), redução ou perda do olfato (hiposmia/anosmia), sono agitado e sintomas de humor, como o depressivo, por exemplo.
Outros sintomas vão ainda surgindo com a progressão da doença e com o uso das medicações, como alterações da fala, dificuldade para deglutir, engasgos, dificuldade para andar, quedas, alucinações, entre outros. Ao longo dos anos, os pacientes podem ainda apresentar dificuldades para raciocinar e cuidar de si mesmos, configurando a demência, mais comum com o avançar da idade.
Atualmente, apesar de muito investimento em pesquisa nos maiores centros do mundo, ainda não existem medicações capazes de curar a Doença de Parkinson. Entretanto, há diversos remédios desenvolvidos para minimizar os sintomas. Nas fases iniciais, os pacientes costumam apresentar, classicamente, uma boa resposta, melhorando, principalmente, a bradicinesia e a rigidez. Com a evolução, é comum fazermos associações entre as medicações, e, para alguns casos muito selecionados, há ainda a possibilidade de realizar cirurgias.
A chave para o tratamento, porém, está no acompanhamento multidisciplinar, para onde paciente e sua rede de cuidado devem direcionar mais tempo e investimento, sendo possível envolver fonoterapia, psicoterapia, terapia ocupacional e, sobretudo, muita fisioterapia e atividade física. Estudos demonstram de forma consistente que a atividade física regular e sustentada é, atualmente, a única medida capaz de retardar a progressão dos sintomas da doença, não só dos motores, mas também dos sintomas cognitivos e da funcionalidade do indivíduo no geral. Algumas dessas análises foram realizadas com atividade física aeróbica de maior intensidade, mas outras, com dança e Tai Chi Chuan, por exemplo, também mostraram benefícios. A fisioterapia, além de trazer melhorias a curto prazo, também trabalha de forma individual e personalizada as maiores dificuldades apresentadas pelo paciente naquele momento, como, por exemplo, marcha e equilíbrio.
O Colégio Americano de Medicina do Esporte recomenda aos portadores de Doença de Parkinson ao menos 150 minutos de atividade física por semana, distribuídos em quatro domínios: fortalecimento, alongamento, atividade aeróbia e atividades multitarefas, incluindo equilíbrio e agilidade. Devemos reforçar que a atividade física regular deve ser iniciada assim que receber o diagnóstico da doença ou mesmo quando houver suspeita, pelo efeito de reduzir a velocidade de progressão dos sintomas.
Quem cuida ou conhece um paciente com a patologia pode se tornar uma boa companhia durante a rotina de exercícios, uma vez que a Organização Mundial de Saúde recomenda para todos os adultos a realização de 150 a 300 minutos por semana de atividade física moderada. Cabe aqui lembrar, ainda, dos benefícios dessas atividades para humor, sono, socialização e qualidade de vida, seja para um paciente com Doença de Parkinson ou não. E você, já realizou sua rotina de atividade física hoje?
Camila Callegari Piccinin é neurologista especializada em distúrbios do movimento no Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP)