A pandemia do novo Coronavírus gerou um ritmo frenético nos ambientes hospitalares, pressionados pelo aumento exponencial de pacientes e afastamentos dos profissionais infectados. Essa grande movimentação acende um alerta para as práticas básicas da medicina, da enfermagem e da farmacêutica: estamos cuidando bem da segurança dos pacientes, sejam infectados com Covid-19 ou internados por qualquer outra enfermidade? E, mais especificamente, a administração de medicamentos tem sido segura e eficiente, como requerem os protocolos?
Medicar pela via endovenosa constitui parte da atividade central hospitalar. Erros durante a execução dessa atividade podem resultar em danos irreparáveis aos pacientes, além de comprometer a qualidade do atendimento. Por isso, os medicamentos pré-diluídos para uso intravenoso, conhecidos como prontos para uso ou ready-to-use (RTU), trazem mais segurança na administração das drogas. Os medicamentos disponíveis em soluções ready to use agilizam o preparo, contribuindo para a redução do tempo dispensado para o preparo, além de reduzir a chance de contaminação durante as etapas do preparo, aumentando assim a eficiência do cuidado.
Uma série de pesquisas mostra as diferentes consequências que erros na hora da administração de medicamentos podem causar – de danos à saúde dos pacientes, aos óbitos, em casos extremos. Há estudos que apontam que cerca de 50% dos produtos administrados por via endovenosa têm pelo menos um erro de medicação¹.
O relatório Medication without harm (Medicação sem Dano, na tradução livre), que apresenta o desafio global relacionado à segurança dos pacientes da Organização Mundial de Saúde (OMS), aponta que os pacientes de países em desenvolvimento, como o Brasil, apresentam o dobro de mortalidade prematura devido a danos causados por erros na administração de medicamentos, quando comparado à países desenvolvidos. Esses erros também custam caro ao sistema de saúde, mais precisamente US$ 42 bilhões por ano no mundo todo, segundo o levantamento da OMS.
Entre os motivos que levam às imprecisões estão as muitas etapas para a preparação e administração de produtos endovenosos. Os problemas mais comumente observados como consequência são a dosagem incorreta, o uso de soro ou diluente incorreto, a contaminação e os acidentes de trabalho, já que a manipulação envolve material perfuro cortante (agulhas).
Além da maior segurança aos pacientes, os medicamentos RTUs também trazem outras vantagens relacionadas à gestão das unidades hospitalares, já que com eles há a possibilidade de armazenamento nos dispositivos de dispensação automática dentro das próprias unidades, pois as soluções apresentam maior estabilidade (e consequente validade) do que os medicamentos que necessitam de preparo prévio. As soluções ready to use também reduzem a chance de acidentes com o material perfuro cortante durante o preparo e diluição, tornando o ambiente mais seguro para a equipe de enfermagem.
Fica claro, então, que os erros relacionados a utilização de medicamentos que são administrados pela via endovenosa podem ocorrer em qualquer etapa do cuidado, que envolve várias etapas, como prescrição, preparo, dispensação e posterior administração do medicamento. Importante enfatizar que acidentes com erros em quaisquer das etapas do cuidado são incidentes evitáveis, e comprometem a segurança do paciente, podendo levar a desfechos catastróficos.
Por isso, entidades regulatórias farmacêuticas ligadas à segurança do uso de medicamentos, como a Food and Drug Administration (FDA), a Joint Comission International (JCI) recomendam o uso preferência de medicamentos parenterais na apresentação ready to use, ao invés dos produtos que necessitam de manipulação adicional sempre que possível.
Portanto, contribuir para a segurança dos nossos pacientes requer a melhoria contínua de estratégias, diretrizes e recursos que garantam a segurança das práticas de medicação em todo o país.
Referência
¹ Hoefel HH et al (2008) Vancomycin administration: mistakes made by nursing staff. Nursing Standard. 22, 39, 35-42. Date of acceptance: April 10 2008.
Christiane Pellegrino Rosa é anestesiologista do Hospital Sírio Libanês e gerente médica da Halex Istar