Artigo – Humanização na saúde pública: podemos ser melhores hoje do que fomos ontem

Elaborada com intuito de contribuir de modo prático para consolidação do acesso à saúde, da universalidade, da integralidade, a Política Nacional de Humanização – PNH completa 20 anos de existência. Durante esses anos, o objetivo tem sido colocar em prática os princípios do Sistema Único de Saúde – SUS no cotidiano da gestão de saúde, com mudanças construtivas no modo de gerir e cuidar das milhares de pessoas que dependem desse sistema público.

Não obstante aos desafios de produzir saúde para mais de 190 milhões de brasileiros dependentes única e exclusivamente do SUS, este Sistema de Saúde Pública tem procurado através de iniciativas, como a PNH, resistir aos processos de desumanização das suas práticas, privilegiando experiências inovadoras que sejam capazes de mudar atitudes e comportamentos em favor de um cuidado qualificado, sensível, acolhedor, que impacte a vida dos usuários.

A ideia primordial da humanização propõe que gestores e trabalhadores do SUS tenham um olhar dedicado à prestação de assistência ao paciente, os ouvindo de forma cuidadosa e respeitosa.

Para tanto, é de fundamental importância que essa inclusão de gestores, trabalhadores e pacientes observe atentamente as diferenças e perspectivas uns dos outros, com intuito de promover a autonomia de cada um desses atores, possibilitando acomodar ao processo de humanização todos os serviços de saúde, de forma que os olhares da gestão e da atenção não sejam implementados de modo independente. Ambos devem ser colocados como protagonistas e autônomos nesse processo de construção humana e solidária.

É possível que interação entre gestores, profissionais da saúde e pacientes seja menos mecânico, artificial e frio. Ainda que com a ajuda da tecnologia para aprimorar a prestação de serviços nesse setor, é possível sempre melhoras as relações pessoais.

Seguidas pelas ideias da gestão participativa e da cogestão, que respeitam as diferentes perspectivas e olhares, podemos destacar a inclusão: da ambiência dos espaços onde se produz saúde como ferramenta potente de estímulo a práticas saudáveis; da valorização dos trabalhadores e da defesa inadiável dos direitos do usuário; da ampliação clínica e do compartilhamento que busca olhar o paciente para além do processo saúde e doença. Uma das diretrizes mais lindas dessa Política de Humanização, está justamente alicerçada no acolhimento, que assim conceituou o Ministério da Saúde:

“Acolher é reconhecer o que o outro traz como legítima e singular necessidade de saúde. O acolhimento deve comparecer e sustentar a relação entre equipes/serviços e usuários/populações.” (Ministério da Saúde, PNH, 2013)

Na perspectiva da comunicação, interlocução, inclusão, cuidado, atenção, entre outros temas tão caros para defesa do nosso Sistema de Saúde, humanizar significa construir pontes de relação que, na maioria das vezes, não requer qualquer investimento financeiro.

Dá para cumprimentar os pacientes e acompanhantes, já na recepção, com um honesto e natural, com palavras como: “bom dia! Como vai? Em que posso ajudar?”. É necessário agir com atitudes simples que possam contribuir para essa relação, como chamar o paciente pelo seu nome, fechar a porta enquanto é atendido, pedir que o paciente se sente e, olhando nos olhos dele, de forma gentil estabelecer uma relação cordial que desague em confiança, respeito e carinho, explicando de modo claro quais as propostas terapêuticas que devem ser seguidas, inclusive, buscando acomodar seus valores, história, características e necessidades.

É possível se despedir com um “até logo”, com um “quero te ver bem, Sr (a) (…)”, dá para buscar realizar o procedimento valendo-se do melhor e mais adequado instrumento/insumo/medicamento/via de acesso disponíveis para aquele momento. Inclusive, podemos estabelecer com pacientes submetidos a procedimentos invasivos uma relação de confiança que só pode ser obtida através do diálogo simples, respeitoso e gentil.

Após a realização do procedimento, dá para perguntar se o paciente deseja uma água, sentar-se, deitar-se enquanto espera seu completo restabelecimento, dá para manter os sanitários à disposição do público, devidamente limpos, que contenha papel higiênico e tolhas de papel para lavagem das mãos, dá para interromper a existência de odores por horas e dias à fio no interior dos quartos de internação, observação e/ou corredores de acesso comum às dependências dos Serviços de Saúde.

Enfim, podemos ser muito melhores hoje do que fomos ontem. E no sistema de saúde a humanização é ainda mais necessária. Lidamos com vidas! Esse é o espírito da nossa motivação, por isso acreditamos na humanização e acolhimento dedicados e qualificados.

Carlos Alberto de Castro Soares é diretor da Unidade Mista de Taboão da Serra Administrada pela AHBB Rede Santa Casa. É servidor público de carreira há 29 anos, mestrando, professor de ensino superior/UNINOVE, especialista em gestão de Sistemas e Serviços de Saúde/FIOCRUZ/MS, Qualidade e Segurança do Paciente/Escola Nacional de Saúde Pública/MS, Gestão Pública/Escola Paulista de Medicina, Economia em Saúde Pública/USP e Vigilância Sanitária/FIOCRUZ/MS

Redação

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