Artigo – Nutrição, saúde e qualidade de vida

A promoção da saúde por meio da Nutrição tem, se apresentado como uma estratégia promissora para o campo da Saúde Pública. Neste sentido, prestes a comemorar o dia 31 de agosto, data em que se celebra o “Dia do Nutricionista”, fica uma reflexão: qual o papel fundamental do profissional neste processo?

A alimentação e a nutrição constituem direitos humanos fundamentais citados na Declaração Universal dos Direitos Humanos e são requisitos básicos para a promoção e a proteção da saúde, possibilitando a afirmação plena do potencial de crescimento e desenvolvimento humano com qualidade de vida e cidadania. O acesso à alimentação é um direito do cidadão e, portanto, dever do Estado e responsabilidade da sociedade. A busca em garantir o direito à alimentação de qualidade para todos, porém, passa pela construção de um novo paradigma de sociedade, que tenha como eixo central o bem-estar individual, para que se possa atingir o coletivo.

Frente ao reconhecimento da complexidade do quadro alimentar brasileiro proveniente da transição nutricional em curso no país, a proposta de promoção da saúde aponta perspectivas, mas também desafios, ao campo da alimentação e nutrição. Em linhas gerais, novas exigências relacionadas à formação acadêmica dos nutricionistas e demais indivíduos chamam a atenção e tendem a fortalecer a busca por parcerias, inovação das práticas alimentares e educação nutricional voltada à construção de uma nova cidadania alimentar.

No Brasil, a transição nutricional assumiu um perfil singular. Assim, sem analisar satisfatoriamente os problemas relacionados à escassez de alimentos, o país convive com perfis nutricionais distintos, por vezes, são sobrepostos. Nota-se a evolução da desnutrição, a permanência de carências nutricionais e o aumento da obesidade e dos agravos relacionados a ela. Tal perfil tem exigido dos profissionais da área uma reflexão mais aprofundada de seu papel enquanto agente ativo neste processo.

Em um país onde a veneração e a busca pelo “corpo perfeito” estão cada vez mais presentes, mídias digitais imperam e cultuam, na mesma proporção, a superficialidade: blogueiras “prescrevem dietas”, empresas e comércios manipulam e incentivam a compra de alimentos multiprocessados, e o preocupante resultado desta somatória é um crescimento gradual da nossa distância do que chamamos de “comida de verdade”. Observamos indivíduos estressados, ansiosos, inseguros, angustiados e cada vez mais buscando o conforto e acolhimento momentâneo que a comida oferece. E aí, caros amigos, eu pergunto novamente: qual o nosso papel enquanto nutricionistas?

Tais desafios apontam para a possibilidade de combinar diferentes perspectivas na educação nutricional, não só teórico-metodológicas do nutricionista com relação aos indivíduos, mas também na direção do acompanhamento interdisciplinar. Repensando nosso lugar como profissional da área da saúde e reintegrando as práticas de prevenção da saúde ao conjunto de experiências, saberes e intervenções voltados ao atendimento das necessidades dos indivíduos e grupos sociais, devemos avançar na construção de uma proposta de atuação capaz de contribuir para a redução das iniquidades em saúde e a garantia da qualidade de vida em todas as esferas, não só alimentar.

Neste esforço, portanto, o nutricionista deve estar em todas as fases da vida das pessoas, desde o planejamento da concepção e durante a gestação, passando pelo parto e pelo aleitamento, atuando na primeira infância e no crescimento, desenvolvimento e fase produtiva dos indivíduos até no envelhecimento.

Foto: Guto Bordoni

 

 

Dra. Ligia Vieira Carlos é Nutricionista RT da Oncologia e Coordenadora da Nutrição na Assistência Domiciliar do Vera Cruz Hospital, de Campinas (SP)

Redação

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