A tecnologia tem avançado nos últimos anos e, cada vez mais, levado à população soluções em diversas áreas, como educação, comunicação e finanças, entre outras. Porém, no que diz respeito à saúde, barreiras culturais, principalmente em relação a processos de análises clínicas e atendimento, têm dificultado o avanço rápido do setor.
Com a crise do novo Coronavírus a telemedicina e a coleta domiciliar de exames ganharam força, abrindo espaços para a tecnologia, finalmente, contribuir nesse mercado. Embora esses formatos de atendimento, análises e coleta a distância aumente a comodidade da população, há ainda uma certa desconfiança na eficácia desses serviços.
Novas tecnologias que transformam um mercado, muitas vezes, impactam tradições socioculturais e geram certa aversão ao consumo do novo produto ou solução. Na área da saúde, que envolve total confiança, credibilidade e proximidade, este cenário digital ainda causa muita desconfiança dos pacientes. Tratando-se da medicina, a resistência do comportamento à mudança é ainda maior.
Como toda tecnologia que chega ao mercado e causa estranhamento por impactar as tradições socioculturais, na medicina não seria diferente, arriscando dizer que pode ser ainda mais complicado. Diferente de algumas outras áreas, a saúde tem uma relação muito forte com a confiança.
Quando procuramos uma especialidade médica para tratamento, escolhemos um determinado profissional e decidimos sempre sermos avaliados por ele é porque temos confiança em seu trabalho, gostamos do seu atendimento. Quando precisamos realizar exames, vamos ao local em que mais confiamos nos profissionais, desde os que nos atendem e recepcionam, até aqueles que fazem as análises clínicas. Ou seja, a telemedicina, coleta domiciliar, e qualquer outro formato digital que venha a surgir nesse mercado vai precisar lidar com essa barreira.
Mas, como conseguir isso? Nesse primeiro momento, as marcas vão precisar provar a qualidade dos seus serviços, treinar suas equipes envolvidas em todos os processos, trabalhar com profissionais qualificados e reconhecidos no mercado, além de desenvolver métodos de atendimentos personalizados.
E a tecnologia chega exatamente para facilitar nessa customização. A IoT (Internet das coisas), a Inteligência Artificial e o Big Data vieram para contribuir com o que chamamos de personalização e eficiência, principalmente com relação aos dados. Essas ferramentas tecnológicas podem integrar sistemas que permitem maior agilidade na comunicação entre hospitais, clínicas ou laboratórios e seus pacientes, além de criar um profundo banco de dados que permitem um atendimento mais focado e preciso, com respostas mais rápidas, por exemplo.
No futuro não tão distante, o setor de saúde, utilizando as ferramentas tecnológicas à disposição e conquistando a confiança das pessoas, ficará cada vez mais digitalizado, ágil, eficiente, e o mais importante, irá alcançar mais pessoas, independente de barreiras físicas, geográficas, sociais e culturais. Os pacientes terão dispositivos em casa que permitirão o envio de dados aos médicos, que poderão acompanhar sinais vitais, pressão arterial e diversas outras informações que auxiliam em um diagnóstico clínico, por exemplo. Com isso, a ida às unidades físicas deve diminuir. Porém, o acesso à saúde só tende a aumentar. Sendo uma boa vantagem para o atual cenário de superlotação nos sistemas de saúde, principalmente públicos.
Um exemplo prático disso é aqui mesmo no Brasil, que no início da pandemia o Ministério da Saúde lançou um aplicativo voltado para o atendimento das pessoas, em formato de triagem. Um algoritmo identifica através de perguntas e respostas com o paciente, se os sintomas podem se enquadrar aos dos Coronavírus, e caso sim, encaminha para um atendimento humano, porém remoto. Segundo dados do próprio Ministério, a iniciativa evitou 64% das idas aos postos presenciais.
Ou seja, o teleatendimento, a coleta a domicílio, a triagem feita com algoritmos, vão permitir que a saúde chegue em locais que os postos de saúde físicos não chegam, alcançar pessoas que têm dificuldade para ir a uma unidade por questões geográficas, além de evitar filas, desgastes e até diminuir riscos de contágios que são altos nesses ambientes. Isto é, a tecnologia aliada à saúde tende a tornar o serviço mais acessível, com maior alcance, e de fato, democrático.
Mas é bom deixar claro que a tecnologia chega para somar e não substituir. O contato humano sempre será necessário e mandatório na área da saúde. O teleatendimento permite o cara a cara entre médico e paciente, ou seja, mesmo à distância permanece humanizado. O que também vale para o caso da coleta domiciliar. Embora diminua barreiras físicas, aumente a comodidade, sempre será realizada por um profissional, humano. Ou seja, ao contrário do que muitos podem imaginar, os avanços tecnológicos nesse setor não pretendem e não vão diminuir o contato humano entre especialistas e pacientes. Apenas farão com que o serviço seja ainda mais empático.
David Pares é sócio-fundador da ISA Home Lab, laboratório 100% digital que leva a comodidade do delivery de diagnóstico e análises clínicas até onde o cliente quiser. Formado em medicina pela Universidade de São Paulo (USP), com MBA na Harvard Business School. Trabalhou como médico na Beth Israel Deaconess Medical Center, no Exército Brasileiro e no Hospital Albert Einstein. Fundou a AvalDoc. Atuou como CCO na ProRadis e trabalhou na The Kraft Heinz Company como Gerente de Marca. Atualmente, faz parte do Grupo Integra de Medicina