Na sua luta contra a violência, na Índia, Gandhi deixou muitos ensinamentos ao mundo, desde pequenos exemplos que servem para cada ser humano (como indivíduo) até grandes lições para comunidades, estados, nações e, por que não dizer, para as empresas também.
Uma das frases que mais me chamam a atenção é parte de um discurso entusiasmado de Gandhi junto ao povo: “Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória não é a luta, é o desejo de vencer!”
E não é possível deixar de fazer o paralelo com as nossas instituições de saúde. Basta ler novamente a frase com atenção e perguntar a nós mesmos, líderes:
1 “Nossas equipes estão prontas para lutar ou para vencer?”
2 “Afinal, meus colaboradores tem o desejo de vencer?”
Uma analogia rápida, mas cruel… não é? Principalmente se dermos à palavra “vencer” o sentido de: fazer o melhor, oferecer o melhor, pensar no melhor. Por exemplo, a minha equipe de pronto-socorro faz o melhor, oferece o melhor e pensa no melhor para a equipe da UTI que vai receber uma transferência nossa de paciente grave?
Na realidade, muitos funcionários ainda estão querendo lutar… (só reclamam da UTI) e se esquecem de vencer, ou seja, de fazer o melhor pelo outro.
Quantas equipes não cuidam apenas do seu mundinho… do seu setor e nem se interessam se lá na UTI vai ser complicado o processo para a outra equipe… a frase: “eu fiz a minha parte, o problema é deles agora” retrata uma cena muito típica nos nossos hospitais, laboratórios, empresas de homecare e etc.
O diagnóstico aqui é um só: ninguém ainda conhece ou pratica o efeito paraquedas!
Na legião dos paraquedistas existe uma regra óbvia: “eu fiz a minha parte pensando em você! Portanto, de agora em diante, o problema (se existir) é nosso!”
Vejamos isso na prática: quando alguém vai pular de paraquedas, tem apenas uma mochila cheia de pano dobrado dentro. Sem dúvida que, ao saltar de uma altura gigantesca, o paraquedista precisa ter certeza absoluta que o equipamento de pano vai funcionar ao puxar a cordinha da mochila.
Não acredito que alguém em sã consciência pularia se tivesse dúvida. Afinal, se o pano estiver dobrado errado, com as cordas embaraçadas, por exemplo, o paraquedistas vai direto pro chão!
E, pelo menos até onde eu sei, na Aeronáutica nunca é a própria pessoa que dobra o seu paraquedas. A regra é “eu fiz a minha parte pensando em você!”, justamente porque EU dobro o paraquedas de alguém e EU vou usar um outro paraquedas que alguém dobrou. Isso é fazer bem feito porque a vida de outro é o meu trabalho!
Nos hospitais, o que falta em várias lideranças é essa visão sistêmica do paraquedas. Por isso, quando implantamos Gestão por Competências nas instituições de saúde (veja na página ao lado), percebemos que essa é uma das competências que mais geram GAP e necessidade de capacitação.
Um dos princípios que estamos ajudando as Lideranças é adotar um método simples que chamamos de Estilo O.M.C.
1 Orienta – Qual líder já passou a ideia do efeito paraquedas para sua equipe?
2 Motiva – O líder mostra a importância de dobrar certo o paraquedas para os outros setores, para os clientes, etc.
3 Cobra – só então, após ensinar e estimular é que o líder deve cobrar
E se tudo ainda assim der errado, lembre-se novamente de Gandhi:
“Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo.”
Prof. Fabrizio Rosso é Administrador Hospitalar, Mestre em Recursos Humanos, autor dos livros Gestão ou Indigestão de Pessoas (Ed. Loyola, 2003) e Liderança em 5 Atos (Ed. Yendis, 2012), sócio e diretor executivo da FATOR RH – Solução em Educação Empresarial & Gestão de Pessoas: www.fatorrh.com.br
Matéria originalmente publicada na Revista Hospitais Brasil edição 101, de janeiro/fevereiro de 2020. Para vê-la no original, acesse: portalhospitaisbrasil.com.br/edicao-101-revista-hospitais-brasil