Artigo – O futuro do cuidado médico passa pela humanização dos profissionais

O cenário é conhecido: ao buscar auxílio médico, muitos de nós deparamos com médicos que parecem distantes e desinteressados à situação. Tal problema está longe de ser um reflexo da índole dos profissionais, mas da sobrecarga de trabalho, da falta de recursos ou do esgotamento provocado por sistemas de saúde diversas vezes saturados. Esse tipo de atendimento, mecânico e tecnicista, gera mais do que somente a frustração, podendo levar a diagnósticos precipitados ou tratamentos inadequados, colocando em risco, inclusive, a saúde do paciente.

Na maioria das vezes, ao buscar uma instituição de saúde, o paciente encontra-se fragilizado e inseguro. Desse modo, a forma como ele é acolhido no atendimento, desde o primeiro contato, faz toda a diferença. Até por isso, o conceito de atendimento humanizado vem ganhando cada vez mais espaço e importância no setor. Tal abordagem, além de reconhecer a importância da técnica e do conhecimento médico, além de enfatizar ainda a necessidade de um relacionamento mais próximo e empático entre profissionais de saúde, pacientes e suas famílias.

A importância de um tratamento que considere tais aspectos vai além do simples afeto, tendo implicações reais na própria eficácia do tratamento. Estudos e relatos apontam para uma recuperação mais rápida e eficiente quando o paciente se sente acolhido, entendido e respeitado. Ou seja, o cuidado pode efetivamente contribuir para o bem-estar geral do paciente, fazendo com que responda melhor aos procedimentos clínicos.

Obviamente, tal noção não se sobrepõe ou abdica do aspecto técnico da medicina; pelo contrário, reforça a necessidade de uma abordagem integral, que considera o paciente em sua totalidade. Até porque, frequentemente, uma intervenção médica acaba acompanhada de procedimentos invasivos e dolorosos. No entanto, cada vez mais se expande a consciência de que o corpo médico pode, e deve, amenizar essas dores e destacar o olhar empático pela busca do bem maior.

Tecnologia como alicerce

Curiosamente, em uma era onde a tecnologia avança a passos largos, é paradoxal que muitas vezes seja justamente tal avanço o catalisador para uma prática médica mais próxima e sensível às necessidades humanas. Se por um lado existia o temor de que a execução de procedimentos técnicos padronizados e automatizados, além de estruturas hospitalares maiores e mais complexas, contribuiria para tornar a relação médico-paciente mais fria e distante, o que temos observado é justamente o resultado inverso.

Ferramentas modernas, como a inteligência artificial (IA) e a internet das coisas (IoT), têm liberado os profissionais de saúde de tarefas burocráticas, permitindo que dediquem mais tempo a um aspecto que a tecnologia nunca poderá substituir: o fator humano do atendimento.

Por mais dúbio que pareça, é possível afirmar que a tecnologia assume um papel relevante para que o atendimento médico  se torne mais eficiente e otimizado e, sobretudo, humano. Além de colaborar para que possam atuar de forma mais embasada e informada em cada caso específico, tais recursos abrem espaço para que os médicos tomem a melhor decisão terapêutica levando em conta as diversas nuances humanas que invariavelmente passam despercebidas à perspectiva da máquina/software.

Uma nova saúde?

Felizmente, esse zelo pelas particularidades humanas já é percebido também e valorizado pelos pacientes, inclusive sendo critério determinante na hora da escolha do médico responsável pelo atendimento. No Brasil, segundo um levantamento recente publicado pela plataforma Doctoralia, o principal parâmetro de escolha de um profissional é justamente o atendimento humanizado (63%), com um índice quase quatro vezes superior ao diagnóstico, que ocupa a segunda posição (16%).

Até por essa crescente importância, o atendimento humanizado também já está sendo pautado na formação acadêmica dos futuros médicos, uma vez que a empatia e a capacidade de se conectar com o paciente são vistas como habilidades tão cruciais quanto o conhecimento técnico ou as competências práticas. Hoje, nos cursos de medicina das melhores instituições de ensino, por exemplo, já se utiliza uma metodologia centrada no estudante em que o aluno é protagonista do seu aprendizado e com foco total no desenvolvimento de competências técnicas e humanas.

A verdade é que estamos diante de uma transformação gradual, onde cada passo em direção a um cuidado mais integrado e sensível à condição humana contribui para a melhora da experiência do paciente, além de redefinir o papel da medicina na sociedade moderna. É essencial continuar promovendo e valorizando o atendimento humanizado, reconhecendo os desafios e trabalhando coletivamente para superá-los. Afinal, no coração da medicina, deve sempre pulsar a compaixão.

 

 

 

 

 

 

Diego Gadelha é médico oftalmologista e diretor do HELP, hospital referência em tecnologia e inovação da região Nordeste. Também é diretor da Faculdade de Medicina da UNIFACISA

Redação

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