Artigo – O tênis, a anestesiologia e a vida

“Não tenho nenhuma sensação no meu pé. Tomei uma injeção no nervo, então o pé está dormente”. A impressionante declaração de Rafael Nadal logo após a conquista de seu 14º troféu em Roland Garros fala muito sobre o tênis, uma de minhas grandes paixões, a anestesiologia, minha profissão, e sobre nossas vidas.

Vamos começar pela medicina. É possível que um tenista vença a final de um dos torneios mais importantes do mundo sem sentir o pé? A resposta, por mais incrível que pareça, é sim. O pé possui uma série de nervos periféricos responsáveis pela sensibilidade, pela parte motora ou por ambos. Por meio do bloqueio anestésico guiado por ultrassom, o médico anestesista consegue ver, exatamente, para qual nervo ele direciona o medicamento e quanto anestésico é injetado.

Com esse avanço da anestesiologia, é possível ter como alvo apenas os nervos responsáveis pela sensação de dor, sem afetar aqueles que cuidam do movimento do pé. Dessa forma, a dor vai embora e o paciente mantém totalmente sua mobilidade e força motora. É por isso que o tenista espanhol teve a chance de lutar por mais um título de Grand Slam em sua brilhante carreira.

Alguns jogos de tênis são tão disputados que deveriam acabar empatados. Mas o tênis é o tênis. Para mim, é muito mais que um esporte, é uma lição para a vida, além de ser um excelente modo de fazer amizades. O tênis imita a vida porque, dentro da quadra, é só com você! Enfrentamos não apenas o adversário, mas também todas as nossas limitações, físicas e técnicas, além de pensamentos nem sempre tão bons. Repare que a nossa vida também é assim.

Um jogo pode começar fácil e se tornar difícil porque o mesmo adversário cresce durante as partidas. E na quadra não tem equipe. Só você pode mudar e vencer o desafio, situação que por muitas vezes se repete nas mais diversas áreas do nosso cotidiano.

As respostas para cada adversidade – na quadra ou fora dela – estão dentro de nós. Quando comparo o tênis com a minha profissão de médico anestesiologista, as semelhanças são assustadoras. Um jogo pode estar calmo e tranquilo, mas temos que estar o tempo todo preparados para os revezes porque uma partida muda a cada batida, como o coração de um paciente.

Em cada ponto decisivo, me lembro do meu saudoso avô Rancey. Quando eu tinha 9 anos, era ele que me levava às primeiras aulas de tênis em Itapira, no interior de São Paulo. E, mesmo sem nunca ter pegado uma raquete, ele me falava que esse esporte nos preparava para a vida.

O tênis é uma das minhas grandes paixões e me ajuda tanto física como mentalmente. Jogo por vários motivos, mas o principal deles é para que minhas filhas Isadora e Manuela – que já são as minhas tenistas prediletas – curtam e também levem desse várias lições desse esporte para suas vidas. Lições como as que aprendi com a sabedoria do meu querido avô, com os avanços da medicina e com a incrível capacidade de superação de atletas geniais como Rafael Nadal.

Foto: Matheus Campos

 

 

Gabriel Redondano é Diretor-Presidente do GCA (Grupo Care Anestesia)

Redação

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