Desde o início do ano passado o funcionamento dos hospitais vem passando por uma profunda modificação causada pela pandemia causada pelo Coronavírus. Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) em 30 de janeiro de 2020 e pandemia em 11 de março de 2020, o setor de saúde precisou se adaptar, rapidamente.
No Brasil, o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado em 26 de fevereiro de 2020, em São Paulo. A partir daí os hospitais do país mudaram sua rotina de funcionamento, procurando fazer mais e melhor para pacientes, colaboradores e toda sociedade. Acompanhamos ainda mais indicadores de qualidade, fluxos (para evitar ao máximo contaminação de pacientes, familiares e profissionais das instituições) e processos, sempre observando papéis e responsabilidades dos times, proporcionando melhor experiência aos pacientes, com segurança, qualidade e controle do custo, perseguindo os melhores desfechos clínicos. Embora não saibamos ainda muito sobre a doença, no início quase nada sabíamos, o que tornava as decisões ainda mais difíceis.
Com base nos indicadores, tivemos como fazer melhor planejamento e atendimento aos pacientes, sem aumentar o risco. Assim, criamos fluxos e processos adequados ao longo dos meses, obtendo sucesso nessa separação de atendimento. Em algumas das cidades onde atuamos, dividimos por hospitais, por exemplo, deixando um ativo apenas para pacientes Covid-19. Em outras cidades, onde tínhamos somente um hospital, separamos a entrada e fluxo dos pacientes. Neste tempo todo, tivemos dias bons e ruins. Chegamos a ter 100% de ocupação dos leitos com pacientes Covid-19 em alguns locais (mesmo aumentando o número de leitos). Tudo isso exigiu forte planejamento, velocidade de reação e rigidez no acompanhamento dos indicadores, que foram fundamentais também para melhorias e sucesso no tratamento dos pacientes.
Essa busca incessante por qualidade, segurança, planejamento, disciplina e inovação, com acompanhamento rigoroso dos nossos profissionais, assistindo-os e incentivando-os, com reconhecimento pela importância do trabalho e necessidade de resiliência, tem sido fundamental para manter todos unidos para vencer o inimigo. Executamos consistente plano diretor, acompanhando diariamente os resultados e ações a serem adotadas, pois havia dificuldade de adquirir medicamentos e vários outros insumos hospitalares.
O mundo mudou e a saúde proporcionou rápidas transformações, para que sejamos mais eficientes, eficazes. Investimentos em pesquisa e novas tecnologias se mostraram essenciais no setor, acelerando inovação e desenvolvimento.
Todavia, não podemos deixar de lembrar que a pandemia trouxe prejuízos enormes para a saúde das pessoas, não somente relacionados à Covid-19, mas também às outras doenças, pois o medo fez com que muitos deixassem de procurar ou retardassem a procura por serviços de saúde. Em muitos casos, principalmente pacientes oncológicos, essa demora causou retardo no diagnóstico e tratamento, piorando o prognóstico dos pacientes, aumentando mortalidade e diminuindo os índices de cura. Pacientes diabéticos, cardiopatas e portadores de várias outros doenças que evitaram ir às consultas e fazer exames também foram seriamente afetados.
Os hospitais perderam muita receita neste período atípico, especialmente aqueles que atendiam pacientes com grande volume de cirurgias complexas que deixaram de ser realizadas. Vários exames (laboratório, endoscopia, patologia etc.) e internações eletivas também foram suspensos, trazendo prejuízo a inúmeras instituições de saúde.
Porém, o aprendizado adquirido, associado à competência e determinação de muitos, notadamente dos profissionais de saúde e todos envolvidos na gestão da saúde, ficará para sempre como um legado que beneficiou parcela significativa da população afetada pela terrível doença. Saúde é nosso bem maior. Sigamos adiante.
Florentino Cardoso, MD, MSc, TCBC, FACS, é Diretor Executivo Médico (CMO) da Hospital Care