A terceira semana de outubro possibilita a nós, médicos, em particular os infectologistas, trazer à tona um assunto fundamental. Estamos em plena Semana Internacional de Prevenção de Infecção Hospitalar e é preciso fazer um alerta: de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), infecções hospitalares são a quarta maior causa de mortes em todo o mundo. No Brasil, segundo um levantamento da Associação Nacional de Biossegurança (ANBio), são 100 mil vítimas fatais todos os anos. Apesar das evidências de que melhorar a higiene das mãos reduz o risco de infecção e melhora os resultados dos pacientes, o cumprimento da higiene das mãos permanece baixo. O número e tipos de bactérias nas mãos aumenta com o contato com o ambiente, pacientes ou outros profissionais de saúde.
A boa notícia é que os riscos de contaminação podem ser reduzidos em até 70% com uma simples medida: a correta higienização das mãos. De fato, do ponto de vista do controle de infecção hospitalar, essa é a principal medida defendida pela OMS, por organizações de saúde em todo o mundo e, também por instituições brasileiras, como a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). Um ato simples, barato e que é visto no mundo inteiro como o mais eficaz para salvar vidas. Sabia que de dois a 10 milhões de bactérias podem ser encontradas da ponta dos dedos até o cotovelo de um ser humano?
Uma das principais responsabilidades das equipes de controle de infecções dentro de instituições de saúde é desenvolver, implementar e monitorar programas de higienização das mãos como uma peça essencial na prevenção de infecções dentro dos ambientes de saúde. Esta tarefa seria facilitada com a inclusão de uma disciplina nas escolas médicas e de enfermagem dedicada ao controle de infecção hospitalar. Acredite! Não há debate algum a respeito desta questão dentro das escolas e faculdades.
É claro que o trabalho da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) vai muito além de treinar e fiscalizar equipes quanto à higienização das mãos. Isso é apenas um pedacinho do nosso trabalho. Enxergamos o hospital de forma holística: cozinha, farmácia, unidades de internação, lavanderia. O manejo correto do lixo. Tudo é objeto de fiscalização e atuação direta dos profissionais da CCIH, tanto as estruturas quanto os processos.
Para que este trabalho tenha sucesso, ou seja, para reduzir o risco de infecções dentro de uma unidade hospitalar, precisamos envolver todos: as equipes de assistência, a turma da manutenção da unidade e, claro, familiares, cuidadores e amigos dos pacientes internados. Acompanhantes e visitantes também precisam se conscientizar da importância e alguns cuidados para resguardar a segurança do paciente. Medidas simples como higienizar as mãos, antes e depois de tocar no paciente no leito; não visitar mais de um paciente internado na mesma unidade, para não correr o risco de transportar bactérias de um para o outro; não pendurar bolsas ou mochilas no gancho do soro fisiológico; evitar levar objetos e comidas para o leito; e evitar sentar sobre o leito do paciente ajudam na prevenção e controle de infecção.
Todos são responsáveis nesta guerra contra a infecção hospitalar. Imagine que se gasta de 20 a 30 segundos para higienizar as mãos usando álcool gel e de 40 a 60 segundos, com água e sabão. Então, a pergunta é: o que 30 ou 60 segundos representam frente ao benefício que este simples ato pode trazer? São pequenas medidas que podem ajudar a mudar essa cruel estatística e fazer a diferença na segurança dos pacientes internados.
Bibiana Siqueira é médica infectologista e coordenadora do Centro de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Francisco na Providência de Deus, do Rio de Janeiro (RJ)