Artigo – Radioterapia em uma única dose para tratamento do câncer de mama

Em torno de 2 milhões de mulheres são diagnosticadas com câncer de mama por ano no mundo. Só no Brasil são 60 mil casos novos anualmente. Um grande número deles é tratado sem necessidade de mastectomia, ou seja, preservando a mama. Nessas pacientes é necessária aplicação de doses diárias de radioterapia durante algumas semanas para diminuir as taxas de recidiva local da doença.

Como a maioria das recidivas ocorre no mesmo lugar onde a doença aconteceu, foi desenvolvida uma técnica de irradiar apenas o local do tumor original e não a mama toda, como se faz nos tratamentos convencionais. Esta opção, conhecida por Radioterapia Parcial da Mama, não é novidade e já é praticada em vários centros de mundo.

Um estudo publicado recentemente na BMJ – British Medical Journal, uma das mais respeitadas revistas médicas do mundo, traz o resultado de pesquisa da segurança deste método em dez anos de acompanhamento de pacientes submetidas a este tratamento comparadas com a radioterapia convencional de algumas semana. A diferença de recidiva entre os dois métodos foi de aproximadamente 1% e os pesquisadores concluem que o método pode ser incorporado de forma rotineira na prática clínica desde que a paciente esteja dentro de alguns critérios de inclusão. A doença precisa estar em fase iniciais e as pacientes não devem ser muito jovens.

Existem alguns métodos diferentes de aplicar a radioterapia parcial da mama. Um deles consiste em colocar um cateter na região onde o tumor estava antes de ser removido e através deste cateter introduzir uma fonte de radiação que aplicará as doses necessárias em duas sessões diárias por 5 dias. Outra técnica é a que aplica a radiação de forma localizada pelo próprio aparelho de radioterapia através de doses direcionadas apenas a região de interesse, também duas vezes por dia por 5 dias.

No Hospital Felício Rocho, a técnica adotada para a Radioterapia Parcial da Mama é o IORT, sigla que significa uma dose única de radiação durante a cirurgia. Com esta técnica, também contemplada no estudo publicado na BMJ, não se irradiam pele, pulmão, coração ou parede torácica, que nas técnicas convencionais podem ser submetidas a pequenas doses desnecessárias. A paciente já sai do hospital tendo sido submetida à dose de radioterapia necessária e não precisa mais voltar ao hospital. Como são selecionados casos iniciais da doença para indicar a Radioterapia Parcial da Mama, é rara a necessidade de outros tratamentos adicionais como quimioterapia.

Em Belo Horizonte, a Unimed-BH já incorporou o método há alguns anos e oferece esta possibilidade de tratamento mesmo antes da Agência Nacional de Saúde (ANS) tornar obrigatório aos planos de saúde a sua incorporação, através da IORT. Consideramos que, após a publicação deste trabalho, a ANS muito provavelmente irá incluir o procedimento no rol de tratamentos a serem oferecidos.

É muito gratificante perceber que estamos cada vez avançando mais no tratamento desta doença que acomete um número tão grande de mulheres, de forma a oferecer cada vez melhores resultados em menos tempo e com menos sofrimento.

Dr. Luis Cláudio dos Santos é mastologista do Hospital Felício Rocho, de Belo Horizonte (MG)

Redação

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