O câncer de mama, doença que atinge milhões de mulheres em todo o mundo, exige da medicina um esforço contínuo por armas mais precisas e eficazes. Se por um lado a mamografia representou um avanço inegável, permitindo a detecção precoce da doença, por outro, ainda esbarra em um desafio persistente: a subjetividade do olhar humano.
É nesse cenário que a inteligência artificial (IA) surge como uma aliada poderosa, não para substituir o médico, mas para ampliar sua capacidade de discernimento e inaugurar uma era no diagnóstico do câncer de mama. Afinal, as estatísticas são alarmantes: o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres, representando 25% dos novos casos diagnosticados anualmente no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que foram mais de 66 mil novos casos da doença diagnosticados somente em 2023.
Diante dessa realidade, a detecção precoce é a arma mais poderosa que possuímos. Mas a análise da densidade mamária, por exemplo, é um campo minado para a subjetividade. Interpretações divergentes entre radiologistas, especialmente nos casos de densidade intermediária, podem ter consequências significativas para a paciente.
É nesse ponto que a inteligência artificial se mostra promissora, oferecendo uma análise mais precisa, padronizada e menos suscetível a variações individuais – pois aumenta a exatidão dos exames, identificando possíveis falhas e a eventual necessidade de refazer a mamografia na hora. Isso evita, por exemplo, que a paciente precise passar pela insegurança de retornar à clínica por uma suspeita da presença de um nódulo. Não é um diagnóstico fácil, especialmente se o resultado for incerto, e cheio de temores e incertezas. Como resultado, muitas pacientes não voltam para fazer o exame novamente devido a um erro no exame ou no aparelho, e não por um diagnóstico positivo de câncer.
Mas os benefícios da IA vão muito além. Imagine um software capaz de detectar em segundos mínimas distorções em imagens, imperceptíveis ao olho humano, que podem indicar lesões milimétricas e ainda em estágio inicial. Essa é a promessa da IA na detecção precoce do câncer de mama. Essa capacidade de identificar padrões complexos em imagens aumenta consideravelmente as chances de sucesso do tratamento. É fundamental, porém, desmistificar a ideia de que a IA substituirá o médico. A decisão final, a interpretação contextualizada de cada caso e, principalmente, a comunicação humanizada com a paciente, continuam sendo papel do médico. A sensibilidade para entender a história de cada mulher, para acolher seus medos e expectativas, para conduzir a conversa com clareza e empatia, é insubstituível.
A inteligência artificial não veio para ocupar o lugar do médico, mas para ser sua aliada. A sensibilidade humana e a precisão da tecnologia, juntas, compõem o futuro da medicina. É essa dupla que permitirá diagnósticos mais precisos, tratamentos mais eficazes e, acima de tudo, que a esperança de um futuro com mais saúde e qualidade de vida se torne realidade para todas as mulheres.
Melissa Kuriki é diretora das modalidades de saúde da mulher e raio-X da GE HealthCare América Latina