O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, assinou recentemente uma portaria que regula a telessaúde no Brasil. É um passo enorme em direção à telemedicina, que cresceu durante a pandemia e virou tendência nos últimos dois anos com a necessidade dos pacientes de manterem suas rotinas de consultas médicas sem se exporem ao Coronavírus. Médicos precisaram se adaptar rapidamente e passaram a usar o recurso para atender remotamente. Mas o atendimento virtual foi apenas o começo de um universo de possibilidades a serem exploradas e vai além de uma consulta através de uma tela.
Segundo um estudo da consultoria Fortune Business Insight, o mercado global de telemedicina era de US$ 41,63 bilhões em 2019, mas, com o impacto global da Covid-19, chegou a US$ 79,79 bilhões em 2020, um crescimento de 91,7%. E deve alcançar US$ 396,76 bilhões em 2027. No Brasil, dados do Proadi (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde), mostram que o número de atendimentos na área aumentou 73% em dois anos – de 73,228 em 2019 para 42.610 em 2021 (dados de janeiro a setembro).
Mas a telemedicina vai precisar ir além, usando, por exemplo, dados estruturados de wearables, dispositivos, aplicativos e a integração entre outros sistemas.
A telepropedêutica, que é a coleta de dados do paciente a distância, deve evoluir com dispositivos que ajudem a obter essas informações. Nos Estados Unidos, já existem seguradoras que enviam para a casa dos pacientes dispositivos como os da empresa Tytocare, para medição de temperatura, estetoscópio para ausculta cardíaca e pulmonar e otoscópio para o tímpano, aumentando a precisão no diagnóstico remoto. Algumas empresas no Brasil já estão fazendo testes para adoção do dispositivo.
Há também grande potencial para o atendimento de crônicos, que poderão usar a tecnologia dos wearables para compartilhar dados com o médico, como informações sobre atividades físicas, batimentos cardíacos e pressão arterial.
A partir dos dados desses aparelhos, médicos podem ter informações adicionais sobre a rotina do paciente, além de oferecer diagnósticos e dar orientações mais bem direcionadas. A integração de dados destes aplicativos com plataformas de telessaúde pode gerar atendimentos mais rápidos e antecipação de problemas, como o realizado pela healthtech Dr. TIS, que interopera com diversos wearables e sistemas de hospitais, melhorando a experiência do paciente e diminuindo a quantidade de perguntas necessárias para o início da teleconsulta, já que seu histórico de saúde fica disponível para o médico.
Com a chegada do 5G ao país e a IoMT, a Internet of Medical Things, ou Internet das Coisas Médicas, o monitoramento remoto passará a estar cada vez mais presente nas nossas vidas.
Mas há ainda desconfiança e polêmicas em relação a estas novidades. Parte dos profissionais de saúde questionam a acuidade científica da medição destes dispositivos. É fato que ainda há muito a ser discutido sobre o tema, mas não há de se negar que a tecnologia dos aparelhos vestíveis tem cada vez mais ganhado espaço na saúde – seja estimulando os exercícios, seja salvando vidas (ao alertar o usuário sobre determinada situação de saúde).
Avança também a necessidade de garantir a proteção e o compartilhamento dos dados gerados por estes dispositivos com os provedores de saúde, usando como régua a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Provedores de tecnologia correm para adaptar seus sistemas às novas diretrizes, já maduras na Europa e nos EUA.
O futuro da telemedicina está diretamente ligado ao seu potencial de aumentar o acesso à saúde, interoperar e reduzir a carga de custos da assistência. Realmente, a tela que aproxima médico e paciente é apenas a ponta do iceberg.
André Cripa é especialista em Transformação Digital na Saúde pela Harvard Medical School e Economia da Saúde pela Harvard Business School, é Chief Innovation e Digital Officer na CTC, uma das 150 maiores empresas de tecnologia do Brasil