Bolha de respiração ajuda na recuperação de pacientes com Covid-19

Artur Raoul foi o primeiro paciente que utilizou a BRIC, apresentando melhora em cinco dias de uso

Um dispositivo com ares de ficção científica se tornou um grande auxiliar na recuperação de pacientes internados com sintomas graves da Covid-19 em todo o Brasil. Impermeável e transparente, a BRIC – Bolha de Respiração Individual Controlada é individual, descartável, com conexões respiratórias e serve de interface entre o paciente e o ventilador mecânico.

O equipamento, que já vinha sendo utilizado na Europa e nos Estados Unidos, passou a ser desenvolvido e produzido em solo nacional pela empresa de tecnologia Roboris e lançado sob a marca LifeTech Engenharia. “Com a liberação da Anvisa, a LifeTech passou a atuar com um parceiro que já é fabricante de equipamentos hospitalares, para que a fabricação da BRIC, assim como todo o processo de distribuição, ocorra em acordo com a regulamentação do órgão”, explica o CEO da Roboris, o engenheiro Guilherme Thiago de Souza.

O uso da BRIC pode reduzir a inflamação pulmonar, melhorando a oxigenação e o esforço do paciente, prevenindo a intubação e evitando a ventilação mecânica invasiva com alto risco. Além disso, por ser um dispositivo estanque (vedado), diminui drasticamente as chances de contaminação dos profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à doença. “Há muito tempo estávamos buscando implementar esta tecnologia em nosso país. A aceleração da manufatura deste dispositivo em resposta à pandemia poderá trazer um grande benefício de longo prazo para as UTIs brasileiras. Ponto para o Brasil e para a indústria nacional”, afirma o médico pneumologista Marcelo Amato, professor livre-docente da Universidade de São Paulo (USP).

O pneumologista, que também é supervisor científico da UTI Respiratória do Instituto do Coração de São Paulo (Incor), testou o uso do capacete em três pacientes que, por conta da Covid-19, apresentavam fibrose pulmonar em estado avançado. Ou seja, quando o tecido pulmonar é danificado pela infecção no pulmão, causando desconforto na respiração. “O uso do capacete nesta condição pode contribuir para remodelar a fibrose pulmonar que ainda não é definitiva, diminuindo o estresse mecânico sobre o pulmão, bem como a inflamação, permitindo maior reabsorção de colágeno. Reduzimos, assim, a fibrose. Nenhum paciente precisou ser intubado, eles voltaram a ficar independentes, sem uso de oxigênio suplementar”, salienta.

A utilização da BRIC foi estendida a pacientes internados com quadros graves de Covid-19 em hospitais de diversas localidades brasileiras. Mais de 100 pacientes já receberam o tratamento, aplicado em 10 hospitais diferentes nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo e Piauí.

Ainda receberão unidades da BRIC, hospitais em Maceió (AL); hospitais públicos regionais de Itanhaém, Caraguatatuba e Registro (litoral de SP); em São José dos Campos (interior de SP); em São Paulo; em Ponte Nova (MG) e em Mogi das Cruzes (SP).

Na prática

O médico Artur Raoul, de 55 anos, cirurgião cardiovascular no Hospital Vila Nova Star da Rede D`Or São Luiz, de São Paulo (SP), foi o primeiro paciente que utilizou o capacete da Roboris. Ele, que ficou hospitalizado por 39 dias após ter contraído o novo Coronavírus, apresentou melhora em cinco dias de uso do novo dispositivo.

Amato explica que a BRIC utiliza dois mecanismos para aumentar o grau de proteção pulmonar. O primeiro é o cateter nasal de alto fluxo, que injeta um fluxo constante de ar umidificado a 100% e aquecido a 37°, em vias aéreas superiores (através das narinas), que resulta na lavagem do espaço morto do pulmão e remove as moléculas de gás carbônico a cada expiração. “Assim, o paciente consegue oxigenar e eliminar o gás carbônico do sangue com um volume corrente menor, gerando alívio da sensação de dispneia e diminuição do trabalho dos músculos inspiratórios. O segundo mecanismo se processa quando conectamos o capacete a um ventilador mecânico, no modo CPAP. Isso é capaz de prover a PEEP sem muito incômodo, resultando numa pressão constante em vias aéreas superiores, chegando até os alvéolos e, assim, o paciente consegue respirar melhor, com menos força, e sente menos falta de ar. O dispositivo era tudo o que precisávamos para estabilizar o paciente”, afirma o pneumologista.

Matéria originalmente publicada na Revista Hospitais Brasil edição 103, de junho/julho/agosto de 2020. Para vê-la no original, acesse: portalhospitaisbrasil.com.br/edicao-103-revista-hospitais-brasil

Redação

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