Câncer de mama: como lidar com emoções e amenizar efeitos colaterais durante o tratamento

Uma pesquisa publicada recentemente pela revista Nature Reviews Clinical Oncology, feita por pesquisadores da Universidade de Harvard, destaca que a incidência de câncer antes dos 50 anos de idade tem crescido a cada geração e aponta para o aumento da ocorrência da doença entre adultos jovens nas próximas décadas. E esse aumento já vinha sendo detectado antes da pandemia de Covid-19, quando um levantamento da American Cancer Society, de 2019, relatou que uma em cada oito mulheres que viverem até os 75 anos terão diagnóstico de câncer de mama.

Isso significa que provavelmente todo mundo conhece alguém que tem ou já teve a doença. Por outro lado, os avanços da medicina trazem o conforto de um tratamento com cada vez mais chance de sucesso, especialmente se detectado precocemente, quando as chances de cura podem superar os 95%, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

De acordo com o Dr. Pedro Exman, oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, receber um diagnóstico de câncer de mama é um dos momentos mais difíceis da vida de uma mulher, por isso é tão importante que a paciente tenha acesso não apenas ao médico, mas seja orientada e acompanhada por um time multidisciplinar, ou seja, que seu tratamento contemple estratégias terapêuticas alinhadas também com psicólogos, nutricionistas, enfermeiros especializados e outros profissionais, de acordo com os cuidados necessários para cada mulher.

Então, como passar por esse processo da melhor forma? Como ajudar amigas e parentes que estão passando pelo tratamento? Ouvimos alguns dos especialistas do Centro Especializado em Oncologia para entender esse momento tão delicado e reunimos dicas importantes para a saúde e o bem-estar das mulheres que estão enfrentando tratamentos para combater o câncer de mama.

Entendendo as emoções

Para a Flávia Andrade, psicóloga do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o mais importante é entender as emoções vividas naquele momento. “O diagnóstico oncológico é sempre impactante. E pode trazer tristeza e choro, que são normais em uma situação como essa, e fazem parte do processo. Mas, caso a paciente não consiga se reorganizar para enfrentar o tratamento, pode ser necessário um suporte profissional”, esclarece a psicóloga.

O amparo de amigos e familiares é imprescindível durante o tratamento. “É importante contar com uma rede de apoio que se coloque à disposição, tentando entender a necessidade da pessoa. Respeitar o tempo e o espaço da paciente é fundamental”, alerta.

Outro aspecto importante é manter um diálogo aberto com o médico. “A paciente deve sempre tirar as suas dúvidas e lembrar que o médico é sempre sua referência de informações, evitar buscar opiniões em outros locais. Além disso, a paciente precisa tentar vivenciar uma etapa de cada vez, porque no tratamento oncológico o cronograma pode mudar, de acordo com a resposta de cada uma. Assim, a esperança e a confiança são fundamentais para enfrentar o processo”, aconselha.

Com relação à autoestima, especialmente a perda dos cabelos e sobrancelhas, a psicóloga orienta que cada mulher procure o estilo que vai fazer com que ela se sinta bem. “Cada uma deve buscar aquilo que a fizer sentir mais confortável, seja com a cabeça raspada, com um lenço ou com uma prótese (peruca), maquiada ou sem maquiagem. O mais importante é lembrar que, apesar do cabelo ter muito a ver com autoimagem, essa transformação é temporária. Toda mulher muda a cor do cabelo, ou o corte e continua sendo ela mesma”, diz.

Cuidados com os cabelos e sobrancelhas

A Dra. Jade Cury, dermatologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, traz algumas dicas sobre como cuidar dos cabelos e sobrancelhas, da pele e das unhas durante o tratamento.

Recentemente, foi lançada uma touca que provoca o resfriamento do couro cabeludo, capaz de diminuir o risco de alopecia (queda dos cabelos). Uma novidade que enche de esperança toda mulher que passa pelo tratamento.

Nos casos em que o uso da touca não é possível ou a paciente optar por não utilizar, a dermatologista reforça a importância do uso do protetor solar diariamente no couro cabeludo e usar lenços ou perucas para proteger a pele da cabeça dos danos causados pela exposição excessiva à luz solar. “Algumas perucas podem ser coladas ao couro cabeludo e permitem inclusive, que a paciente entre na piscina e no mar, devendo apenas fazer uma manutenção a cada 15 dias. Acredito que o importante é se cuidar e procurar a melhor forma de se sentir bem”, recomenda.

A especialista explica que ao término do tratamento, é possível utilizar dermocosméticos que fortalecem o crescimento dos cabelos. “Hoje existem produtos, como os utilizados para a calvície masculina, que aceleram e estimulam o crescimento dos cabelos que caíram”. Há, ainda, estudos que comprovam os benefícios da utilização desses produtos e mostram um ganho no tempo de crescimento pós quimioterapia de cerca de 50 dias. “A paciente deve ser orientada pelo médico para que possa receber a recomendação adequada e jamais passar qualquer produto sem orientação”, reforça a dermatologista.

No caso das sobrancelhas, a Dra. Jade sugere a utilização de carimbos, que já são vendidos nos formatos de sobrancelhas ou o preenchimento com lápis, simulando as sobrancelhas. Essas opções ajudam a melhorar a autoestima enquanto elas não crescem de novo.

Cuidados com a pele e as unhas

A pele também sente os efeitos do tratamento. No caso da quimioterapia, acomete a pele do corpo todo, já na radioterapia, apenas na região da mama. Os efeitos colaterais mais comuns são: ressecamento, irritação e até inflamação, além de adquirir uma sensibilidade maior à luz solar (fotossensibilidade). “Aconselhamos às pacientes que vão começar a quimioterapia a hidratar a pele de todo o corpo diariamente, especialmente quando estiver úmida, após o banho. Isso vai minimizar os efeitos dos quimioterápicos e proporcionar maior conforto. Na hora do banho não se deve usar água muito quente, usar um sabonete suave, de glicerina, para pele de bebê ou com o PH neutro, como os sabonetes syndet (um tipo de detergente sintético que contém menos de 10% de sabonete e tem o pH ajustado entre 5,5 e 7), mais próximo ao PH da pele”, diz a especialista.

Outro ponto importante é o cuidado com as unhas, principalmente, porque as mulheres brasileiras têm o hábito de tirar a cutícula. “Durante a quimioterapia, orientamos a não tirar a cutícula das mãos e dos pés, porque um machucado pode ser uma porta de entrada para infecções”, explica a dermatologista.

Alimentação balanceada

A alimentação saudável, rica em frutas, verduras, legumes, grãos integrais, com consumo de proteínas, baixa ingestão de gordura saturada, e uma boa hidratação são a receita básica para o período de enfrentamento do câncer.

De acordo com a nutricionista Camila de Moura Gatti, do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Adequar a alimentação para que seja mais nutritiva ajuda a favorecer o tratamento. Os alimentos não recomendados durante o processo terapêutico são peixes crus, carnes cruas ou malcozidas, e ovos com a gema mole, devido ao aumento dos riscos de infecção alimentar. É aconselhável evitar comidas gordurosas, frituras e embutidos por causa do alto teor de gordura, que podem aumentar efeitos colaterais como enjoo e vômito”, explica.

A nutricionista também lembra da necessidade de higienizar bem os alimentos in natura, especialmente, as frutas, verduras e legumes. O ideal é realizar lavagem em água corrente e utilizar solução clorada, conforme orientação do produto.

Uma dica bastante especial para aquelas mulheres que estão enfrentando enjoos e vômitos durante o tratamento é a ingestão de alimentos gelados, azedos ou mais secos, como bolachas de água e sal. “Eles ajudam a diminuir a salivação excessiva, podendo melhorar as náuseas. As preparações mais geladas, como água, com ou sem limão, e picolés também ajudam a atenuar esses sintomas”, ensina a especialista.

Todos esses cuidados ajudam as mulheres a se sentirem melhor durante o tratamento oncológico e, por isso, é tão significativo o apoio de uma equipe multidisciplinar. “O acompanhamento da equipe multidisciplinar é um dos pontos fortes do tratamento, além de suprir a demanda da saúde, com a quimioterapia, a radioterapia e a cirurgia, quando necessários, serve de alicerce para que as pacientes se sintam mais confortáveis consigo mesmas. Aqui no Hospital consideramos uma necessidade essencial para superar o percurso e a doença em si”, garante o Dr. Pedro Exman, médico do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Redação

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