Câncer de mama: novas drogas aumentam as chances de cura mesmo em estágios avançados

Em um cenário em que 47% das mulheres deixaram de frequentar o ginecologista ou o mastologista durante a pandemia, segundo pesquisa realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), a boa notícia no mês da conscientização sobre o câncer de mama, conhecido como Outubro Rosa, está na chegada de três novos medicamentos que atuam em diferentes subtipos da doença.

Uma delas é o abemaciclibe, droga que atua em conjunto com a hormonioterapia tanto no início da doença como em estágios mais avançados, diminuindo o risco de recidiva ou morte em até 30% em pacientes cujo tumor seja do subtipo hormonal (mais comum). “Funciona da seguinte forma: os hormônios femininos intrínsecos da mulher podem estimular a replicação da célula tumoral. Com isso, o abemaciclibe age em conjunto com o tratamento, evitando que a célula tumoral desenvolva resistência à hormonioterapia, diminuindo em cerca de 30% o risco de recidiva ou morte”, explica Dr. Pedro Exman, oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Em tumores triplo negativos, que correspondem a 15% dos casos de câncer de mama e são mais agressivos e com pior prognóstico, entra a adição de outra droga: o pembrolizumabe. Esta droga, que é da classe da imunoterapia, associada a quimioterapia, demonstrou resultados positivos, como a diminuição do risco de recidiva ou morte em cerca de 40%. “O pembrolizumabe representa uma revolução no tratamento, uma vez que estimula o sistema imune da própria paciente a identificar e atacar as células tumorais”, diz o especialista. Apesar de já ser utilizada no Brasil com uso aprovado pela Anvisa em pacientes com câncer de pulmão ou melanoma, o princípio ativo ainda não foi autorizado pela agência para tratamento específico do câncer de mama.

A última medicação que recentemente se mostrou promissora para aumentar a chance de cura de tumores de mama foi o olaparibe. Cerca de 5 a 10% dos tumores de mama são causados diretamente por uma mutação nos genes BRCA 1/2. Essa mutação tem características hereditárias, ou seja, passam de geração em geração em pessoas com histórico da doença na família.

O gene BRCA 1/2 é responsável diretamente pela multiplicação celular, sendo que em pacientes que apresentam essa mutação, as células tumorais tendem a se replicar desenfreadamente. O olaparibe atua impedindo que essa multiplicação ocorra e combatendo, portanto, o crescimento tumoral. “Esse medicamento já havia sido autorizado há cinco anos para uso em estágios avançados da doença, porém estudo recente apresentado no Congresso Mundial da ASCO evidenciou que pacientes com a mutação que estejam em estágio inicial do câncer, mas com alto risco de recidiva, apresentam diminuição considerável de risco de morte quando utilizam a droga por um ano”, comenta o oncologista. Ainda não há aprovação da Anvisa para o uso em estágio inicial.

Procedimentos e novas terapias

Os avanços em medicamentos para tratamento do câncer não anulam a necessidade de realização de cirurgias para a retirada total do tumor da mama das pacientes. Podem ser cirurgias maiores como a mastectomia (retirada total da glândula mamária e mamilos) ou cirurgias que conservam a glândula mamária e retiram apenas o local doente (quadrantectomia). Atualmente muitas pacientes são submetidas a cirurgias conservadoras da mama, que retiram o tumor com segurança e conseguem poupar a glândula mamária saudável, a pele e o mamilo, oferecendo um resultado estético mais favorável a paciente. “O que indica a realização de cirurgia é a proporção mama/tumor. Ainda assim, muitos tumores grandes em relação à mama, que antigamente seriam candidatos à mastectomia, hoje podem ser tratados previamente com medicamentos”, explica Dr. Pedro Exman.

A detecção precoce continua sendo a melhor estratégia para a descoberta de canceres em estágio inicial. A mamografia, por exemplo, hoje pode ser realizada no Hospital Alemão Oswaldo Cruz a partir de uma técnica 3D, conhecida como tomossíntese, que é mais sensível para encontrar tumores de mama precocemente. “Mas, mesmo a mamografia tradicional, quando feita anualmente, eleva as chances de cura”, comenta o oncologista.

Outra técnica disponibilizada pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz é a radioterapia intraoperatória, que permite uma diminuição de três a seis semanas no tempo de tratamento, pois o tratamento radioterápico é realizado em uma única sessão durante a cirurgia de remoção do tumor. Além de reduzir os efeitos colaterais associados ao método convencional de radioterapia como fadiga, vermelhidão na região, sensibilidade ou alteração na cor da pele, a técnica reduz a exposição da radiação a outros órgãos, como pulmão e coração. O uso da radioterapia intraoperatória é eficaz principalmente no estágio inicial do câncer.

Redação

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