O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a segunda maior causa de mortalidade no Brasil e a principal causa de incapacidade no mundo, com impacto social e econômico importantes. Em países desenvolvidos, programas baseados na adesão ao tratamento, na melhoria do estilo de vida e na qualidade assistencial favorecem a redução no número de mortes.
Desta forma, o acesso da população aos centros de AVC é fundamental e o processo de certificação atesta a qualidade das instituições de saúde no que se refere à estrutura, assistência e tratamento da doença. A certificação internacional é gratuita – concedida pelo World Stroke Organization (WSO), junto à Sociedade Ibero-Americana de Doenças Cerebrovasculares (SIECV). Atualmente, é concedida à hospitais da América Latina e, futuramente, será expandida para outras regiões do mundo.
No Brasil, quatro instituições já receberam o certificado no dia 20 de setembro: as públicas Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (São Paulo) e Hospital São José, em Joinville (Santa Catarina), e as privadas Hospital Albert Einsten (São Paulo) e Hospital Moinhos de Vento (Porto Alegre/Rio Grande do Sul).
“Hoje, temos 200 hospitais no país que são centros de AVC, mas ainda faltam muitas coisas a serem implementadas, que fazem a diferença para o paciente. O objetivo da certificação dos centros de AVC é aumentar a qualidade do tratamento na América Latina, melhorando os desfechos dos pacientes”, fala a presidente da Organização Mundial de AVC e da Rede Brasil AVC, Dra. Sheila Cristina Ouriques Martins.
A certificação dos centros de AVC da WSO / SIECV é baseada no Roadmap, ferramenta que fornece padronização e consistência para a seleção de recomendações, e classifica os serviços em 3 níveis: 2 centros de AVC (Essencial e Avançado) e 1 serviço de saúde mínimo para áreas com baixo acesso a médicos. “O Roadmap sugere recursos e protocolos a serem implementados em cada nível. O objetivo é que o centro possa implantar o maior número possível de elementos sugeridos para obter uma maior qualificação”, explica.
Além de todos os requisitos obrigatórios, os hospitais precisarão atingir pelo menos 75% dos elementos sugeridos no Roadmap para obter a Certificação da WSO/SIECV. Na segunda certificação, os centros precisarão atingir 85% dos elementos sugeridos. Além disso, devem mostrar melhoria nos indicadores de qualidade.
CRITÉRIOS
Para o hospital ser certificado como centro essencial, entre os critérios obrigatórios estão: protocolos para avaliação e diagnóstico rápidos de pacientes com AVC no Hospital/Departamento de Emergência 24 horas por dia, 7 dias por semana; acesso a serviços básicos de diagnóstico e membros de equipe multidisciplinar, incluindo enfermagem com treinamento em AVC, técnicos de enfermagem, fisioterapia e fonoaudiologia. Além disso deve estar disponível o tratamento trombolítico do AVC (medicação endovenosa para desobstrução da circulação cerebral nos casos até 4,5 horas do início dos sintomas).
Já para a certificação como centro avançado, além dos itens citados, é preciso, entre outros pontos, ter um neurologista com experiência em AVC e dispor de neurocirurgia para AVC hemorrágico e trombectomia mecânica, tratamento por cateterismo para os casos de AVCs mais graves, aprovado neste ano para incorporação também no SUS (Sistema Único de Saúde).
Além disso, é fortemente sugerida a estruturação de Unidades de AVC (um conjunto definido de leitos, equipe e protocolos que são utilizados para o cuidado dos pacientes com AVC) ou um modelo de agrupamento de leitos em enfermaria clínicas, mas com equipe especializada em AVC.
“Os hospitais estão melhorando para ganhar a certificação e as melhorias que estão acontecendo são fundamentais para o paciente, pois visam levar ao melhor grau de recuperação possível após o AVC”, ressalta Dra. Sheila.
Até o momento, 27 hospitais já solicitaram a certificação, por meio online, e seguem nas etapas de encaminhamento de documentos que comprovem o atendimento aos critérios.
Outras 178 instituições já passaram por testes para avaliação das práticas e, os que não se enquadraram nas recomendações exigidas, estão fazendo capacitação com seus profissionais, trabalhando na organização da unidade de AVC, treinando equipes para fazer monitoramento da qualidade desse tipo de atendimento, além de registrarem todos os casos de AVC, o “que é fundamental para saber se tratamentos estão funcionando”, salienta a especialista.
“Temos 8 países com hospitais habilitados nessa fase inicial para certificação, 11 participando do programa, seis do Caribe e com visitas presenciais sendo marcadas para avaliação”, conta.
Informações sobre como os hospitais podem solicitar a certificação podem ser acessadas no site www.globalstrokealliance.com/pt/certificacao.