Custo x valor na incorporação de tecnologias em saúde na assistência a pacientes oncológico

Com o tema “Custo x valor: um dilema na incorporação de novas tecnologias em saúde”, a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA) leva ao 5º CONGRESSO TODOS JUNTOS CONTRA O CÂNCER discussão acerca da importância do investimento em tecnologia para assistência médica de pacientes oncológicos. Seu painel, no dia 27 de setembro, visa lançar luz sobre a incorporação de novas tecnologias no país, destacando o que o investimento em saúde representa para pacientes com câncer.

Para somar ao painel, a FEMAMA convidou nomes com ampla experiência nos temas abordados. Entre os palestrantes, o economista sênior em saúde do Banco Mundial, Andre Cezar Medici, explicará a diferença entre o custo financeiro e o valor social e individual do investimento em tecnologias para a saúde. Já o presidente do Grupo Latino-Americano de Oncologia Cooperativa (LACOG), Dr. Gustavo Werutsky, será responsável por explicar como compreender o impacto do câncer na vida dos pacientes por meio de Real World Data (dados de vida real). Ainda serão expostos cases de projetos de associações de pacientes usados para geração de Real World Data. O público presente terá a oportunidade de colocar em prática os conceitos debatidos em uma dinâmica para simular a estratégia de coleta de dados de vida real. A realização do painel da FEMAMA no TJCC conta com investimento social da Roche.

“É necessário levar em consideração muito além do custo-efetividade: qual é o valor que isso pode trazer para a vida dos milhares de pessoas que lutam diariamente contra um câncer?”, indaga a médica mastologista Maira Caleffi, presidente voluntária da FEMAMA. De acordo com a especialista, a análise econômica focada no preço direto é incompleta. “Por exemplo, uma alternativa terapêutica que proporcione mais qualidade de vida e aumente a capacidade de resistir à doença reduz significativamente a repercussão do câncer no âmbito econômico e social, já que o paciente pode seguir trabalhando se for o seu desejo, com menor dependência de familiares que eventualmente também deixariam seus empregos para acompanha-lo”, aponta.

Neste ano, uma pesquisa publicada no periódico Cancer Research Epidemiology concluiu que a morte de cada mulher por câncer de mama ocasiona a perda de R$ 145 mil para o país. O cálculo considera a renda média das profissionais, a média de anos que deixam de ser trabalhados e com quanto essas mulheres poderiam ter contribuído economicamente se estivessem empregadas até o fim da carreira, sem considerar pessoas em idade de aposentadoria. O montante da perda calculado é muito superior ao custo investido no tratamento dessas pacientes – o valor empregado nas terapias aumenta conforme a doença se encontra em estágios mais avançados, condição normalmente associada ao diagnóstico tardio.

No Brasil, em 2010, segundo o Tribunal de Contas da União, nas redes pública e suplementar de saúde, 60,5% dos casos de câncer foram diagnosticados nos estágios 3 e 4, que envolvem um tratamento muito mais complexo do que os estágios 0, 1 e 2. Dados do Observatório da Oncologia apontam para um investimento total, no SUS, de R$ 11.373 por paciente com câncer de mama pré-menopausa e R$ 49.488 nos casos pós-menopausa. Nas fases mais avançadas (estadiamento III), esses números chegam a R$ 55.125 (pré-menopausa) e R$ 93.241 (pós-menopausa).

Há, ainda, o impacto positivo que estes investimentos trazem à vida dos pacientes. A FEMAMA atuou na linha de frente para a incorporação do trastuzumabe e pertuzumabe no Sistema Único de Saúde (SUS), cuja aprovação pelo Ministério da Saúde foi emitida em 2017. Medicamentos indicados para tratar câncer de mama metastático HER2 positivo, estágio mais avançado da doença, proporcionam mais tempo e qualidade de vida. “Além dos benefícios psicológicos às pacientes e às famílias, o uso de tratamentos adequados deixa no horizonte de pacientes a possibilidade de realizar sonhos e de estar presente em momentos importantes nas trajetórias dos entes queridos”, diz a presidente voluntária da FEMAMA.

Avaliação Tecnológica em Saúde (ATS)

Também pensando no investimento em saúde, o painel da FEMAMA no TJCC abordará a Avaliação Tecnológica em Saúde, um processo multidisciplinar que pode envolver vários profissionais como médicos, engenheiros, matemáticos, pesquisadores, para verificar as consequências em curto e longo prazo do tratamento, considerando questões clínicas, sociais, econômicas, éticas e organizacionais. As informações são extraídas de estudos clínicos, revisões sistemáticas e avaliações econômicas.

No Brasil, esse processo é responsável por subsidiar a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), na avaliação e/ou recomendação da incorporação, exclusão e alteração dos usos das tecnologias no SUS, e nas tomadas de decisões na rede privada. Também podem ocorrer audiências públicas, antes da incorporação na rede pública, como foi o caso do pertuzumabe e trastuzumabe.

“A ATS é a base para esclarecer as implicações clínicas, sociais, éticas e econômicas do desenvolvimento, difusão e uso da tecnologia em saúde de uma maneira robusta, imparcial, transparente e sistemática”, explica Caleffi.

A metodologia não é livre de falhas e carece de mais atenção aos dados precisos sobre procedimentos e sua capacidade de melhorar o prognóstico da doença. Desta forma, cresce a relevância do uso de Real World Data, os dados da vida real. Esse sistema cruza informações para compreender como as tecnologias funcionam na prática, mensurando sua eficácia.

“Precisamos munirmo-nos de conhecimento acerca das alternativas que estão sendo desenvolvidas mundialmente para otimizar a assistência em saúde. Com esse painel, levaremos aos pacientes oncológicos informações acerca de como esse processo funciona: desta forma, eles poderão apoderar-se das lutas em prol de melhorias no acesso a diagnóstico e tratamento ágeis e adequados”, conclui a presidente da FEMAMA.

Redação

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