Dia Mundial do Cérebro: as complicações neurológicas devido à Covid-19

O cérebro é considerado um dos órgãos mais importante da biologia humana e trabalha atuando nos principais sistemas do corpo. Na data 22 de julho é comemorado o Dia Mundial do Cérebro, que vem sendo ponto chave para diversos estudos relacionados à Covid-19. As investigações sobre as consequências da doença no órgão têm sido feitas abordando desde os efeitos analisados na fase aguda até as possíveis sequelas neurológicas, que foram relatadas por cerca de 30% dos pacientes que se recuperaram.

De acordo com a neurologista do Hospital Santa Joana Recife, Renata Azevedo, o Coronavírus tem mais atração pelo sistema nervoso central do que estudiosos pensavam assim que a doença surgiu. “Os sintomas neurológicos mais comuns apresentados por um paciente infectado são a perda do olfato e paladar e a dor de cabeça. Além disso, existem outras complicações que podem acontecer de três maneiras, pela própria atuação do vírus; por fenômenos de alteração vascular, que é o Acidente Vascular Cerebral (AVC); e as reações imunológicas, como a encefalite”, informa a médica.

Renata Azevedo afirma que algumas características do Coronavírus permanecem sem compreensão total por se tratar de uma doença nova. “Porém, sabemos que o novo Coronavírus utiliza a mucosa olfatória como porta de entrada para o cérebro. Quando o vírus se insere na mucosa olfatória, parece usar conexões neuroanatômicas, como o nervo olfatório, para, assim, chegar ao cérebro”, explica.

Além disso, as complicações neurológicas também podem ser decorrentes de uma estadia prolongada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), não exatamente pelo Coronavírus, mas por consequências da internação. “O paciente que fica sedado, recebendo medicações como bloqueadores neuromusculares e múltiplos antibióticos, podem desenvolver, ainda, uma polineuromiopatia do paciente crítico, que se trata de uma fraqueza muscular global, acontecendo por alteração tanto dos nervos periféricos, quanto de toda musculatura, em decorrência da gravidade do doente entubado e acamado por muito tempo no respirador”, explica a neurologista. Segundo a médica, algumas medicações como corticoides podem fazer lesões no músculo, tudo isso causa uma fraqueza muscular do paciente grave, por isso, em alguns casos, as pessoas não conseguem sair da UTI andando e precisa de uma reabilitação importante.

Pessoas que tiveram Covid-19 têm se queixado de esquecimento e falta de atenção, mas, de acordo com Renata Azevedo, são sintomas que podem se confundir até com o próprio momento que estamos vivendo, repleto de estresse e ansiedade. “Esses são sintomas que podem ser transitórios e devem ter mais impacto nos idosos, isso porque algumas pessoas idosas talvez tenham predisposição ao alzheimer, por exemplo. Esses pacientes que se encontraram em estado grave podem desenvolver uma perda de memória evidente, mas não podemos fazer afirmações categóricas sobre isso”, comenta. Os idosos também possuem uma reserva cerebral menor, então, se eles sofrerem qualquer tipo de falta de oxigenação no cérebro, são mais frágeis e suscetíveis a sequela de memória.

O tempo de recuperação completa de um paciente que teve a Covid-19 vai depender da gravidade da doença em cada indivíduo. “Nos casos leves a sequela mensurável, que não tem tanto fator externo, seria perda do olfato e paladar, que geralmente voltam cerca de três semanas ou até antes. Porém, houveram casos de pessoas que só voltaram a sentir o gosto e cheiro depois de meses”, lembra Renata. “Os casos graves são bem diferentes, temos uma gama de sequelas decorrentes do vírus ou da estadia durável na UTI. Nesse caso, se observa falta de oxigenação no cérebro, levando ao défice cognitivo e queixas de memória, justamente por causa da presença do vírus no sistema nervoso central. Também tem os problemas para andar e mexer os membros, igualmente ao tempo de internação. Nesses casos, quando muito grave, não é possível uma recuperação em menos de seis meses”, completa. “Pacientes que tiveram AVC em decorrência da Covid-19 provavelmente vão ficar com sequelas permanentes, que podem ser desde uma alteração no braço, perna, linguagem ou visão, como até o coma”, finaliza a neurologista.

Redação

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