Câncer de cabeça e pescoço: projeto do PROADI-SUS estuda relação da doença com HPV

Instituída em 2016 como o Dia Mundial de Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço pela International Federation of Head and Neck Oncologic Societies (IFHNOS), a data 27 de julho é usada para colocar em pauta o segundo tipo de câncer com maior frequência no país, ficando atrás apenas do câncer de próstata para o homem e do câncer de mama para a mulher. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), em média, 76% dos casos só são diagnosticados em estágio avançado, o que dificulta o tratamento e eleva a taxa de mortalidade – no Brasil, a doença acomete entre 35 mil a 45 mil brasileiros por ano. E os números alarmantes continuam: ainda segundo o INCA, em 2019 foram 20.722 mortes no país e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os tumores de cabeça e pescoço representam o nono tipo de câncer mais comum no mundo.

Por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) em parceria com o Ministério da Saúde, o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), conduz um estudo epidemiológico sobre a prevalência Nacional de Infecção pelo HPV (papilomavírus humano), considerado a infecção sexualmente transmissível mais comum e uma das principais associações ao câncer de cabeça e pescoço. Segundo a médica epidemiologista e coordenadora da pesquisa, Eliana Wendland, praticamente todas as pessoas sexualmente ativas terão contato com o vírus ao longo da vida. A infecção por HPV de alto risco é também associada ao desenvolvimento de diferentes tipos de câncer como colo uterino, pênis, vulva e canal anal.

Nesse sentido, o projeto tem como objetivo avaliar o impacto da infecção pelo HPV por meio de três estudos: POP-Brasil (avalia a prevalência de HPV nacionalmente, monitorando o impacto da vacinação), SMESH (avalia a prevalência de HPV em populações de alto risco) e STOP-HPV (avalia a associação de HPV e câncer de cabeça e pescoço). Ainda de acordo com a pesquisadora, o estudo traz informações que podem impactar no controle da doença com base no diagnóstico precoce.

“O número de casos de câncer de cabeça e pescoço associado ao HPV vem crescendo de forma significativa. Vamos identificar quem são os indivíduos que têm maior chance de desenvolver câncer e, com isso, será possível trabalhar com prevenção e ter dados no país como um todo, visto que a pesquisa abrange todo o Brasil. Existe hoje, inclusive, diferença em cada região do país. É possível que identifiquemos um perfil diferente de mortalidade associado ao HPV em cada região. Antes, o câncer de cabeça e pescoço estava associado ao fumo e ao álcool, mas isso mudou. Quando associado ao HPV, vemos pessoas mais jovens, com melhor prognóstico e melhor tratamento – um número em crescimento constante. Aqueles que são HPV negativo tendem a ser pessoas mais velhas, com prognóstico mais severo e maior mortalidade”, afirma.

Resultados

Iniciado em 2015, o estudo POP-Brasil já apontou que o uso de vacina quadrivalente diminuiu pela metade os casos de infecção pelos tipos de HPV contidos na vacina (HPV 6, 11, 16 e 18). Outro resultado animador foi a redução de 2/3 da incidência do HPV 16 – considerado o mais grave – entre os imunizados.

Serão coletadas amostras de cerca de 500 pacientes de todas as regiões do país. Junto à coleta de material genital e sanguíneo, serão realizadas entrevistas para investigar possíveis padrões nas infecções. Por conta da pandemia, as coletas estão sendo retomadas aos poucos, iniciando pelo treinamento nos centros participantes.

Maria Paula Curado é chefe do Grupo de Epidemiologia e Estatística em Câncer (GEECAN), que faz parte do Centro Internacional de Pesquisa (CIPE) do Hospital A.C. Camargo Cancer Center, e participou do treinamento no último mês. “Foi fundamental participar, pois começamos a pensar mais em pesquisa e olhar o paciente a partir dos benefícios que a pesquisa pode trazer a ele. Em relação ao SUS, o projeto é extremamente importante, pois oferece ao gestor em saúde pública uma visão sobre a importância do câncer de boca e da infecção por HPV nesse paciente com câncer de orofaringe em termos de prevenção, orientação e mudança de estilo de vida”, diz.

Para conhecer mais sobre a pesquisa, acesse hospitais.proadi-sus.org.br/projetos/65/hpv.

Câncer de cabeça e pescoço

Cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Moinhos de Vento, Daniel Sperb explica que os tumores localizados na cabeça e pescoço afetam funções vitais e sociais, como a fala, alimentação, respiração, audição, visão e controle metabólico. Os tumores mais comuns nessa região são os de lábio e pele, relacionados à exposição solar excessiva; boca, faringe e laringe, diretamente relacionados ao tabagismo, excesso de consumo de bebida alcoólica, má higiene oral e mais recentemente com o vírus HPV; sistema linfático, podendo ser metástases ou linfomas, se apresentando como nódulos no pescoço; e tireoide, que, entre as mulheres, é o tumor cuja incidência mais cresce no mundo.

“Infelizmente, grande parte dos diagnósticos ainda são feitos em estágios avançados, gerando importantes sequelas e com chances reduzidas de cura. No entanto, é simples identificar: ferida na pele, lábio ou boca que não cicatrize em 15 dias deve ser avaliada por um médico ou odontologista conforme cada situação. Em casos de nódulo na região da face ou pescoço, alteração da voz, dificuldade de respiração ou desconforto de deglutição que não melhore em 15 dias, também deve ser avaliado por um médico. Em resumo, qualquer sintoma, ferida ou nódulo na região da cabeça e pescoço que não melhore em 15 dias deve ser avaliado. A identificação precoce permite tratamentos curativos, com mínimas sequelas funcionais e estéticas”, afirma.

Redação

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