“Emagreci 22 quilos em dez meses, sem fazer nenhum tipo de dieta. Nesse mesmo período, tive frequentes quadros de infecção urinária. Cinco ao todo. Após vários exames, veio o diagnóstico: diabetes do tipo 1, que, apesar de comum em crianças, apareceu aos meus 26 anos”, conta a jornalista Carolina Sibila, 35, como percebeu os primeiros sinais da doença.
Segundo projeção da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), 537 milhões de adultos no mundo todo, entre 20 e 79 anos, têm diabetes crônica, uma patologia que acarreta o acúmulo de açúcar no sangue, elevando os níveis de glicose (hiperglicemia) e gerando sintomas como: muita sede, fraqueza, mudanças de humor, náuseas, vômito e urina em excesso. Segundo os dados da 10ª Edição do Atlas Diabetes 2021, o número de pessoas com diabetes deve aumentar para 643 milhões até 2030 e chegar a 784 milhões até 2045. Em Campinas, a Secretaria Municipal de Saúde, em seu levantamento mais recente, estima que 100 mil campineiros tenham a doença, o que representa 8,4% da população.
De acordo com o endocrinologista Marcelo Miranda, do Vera Cruz Hospital, de Campinas (SP), os números alarmantes da população acometida por diabetes pioraram com a pandemia. Essa piora se deve ao fato de as pessoas terem evitado ir a consultas médicas, ao aumento do sedentarismo e da obesidade, entre outros gatilhos. “A diabetes ceifou 6,7 milhões de vidas em 2021, ou seja, uma a cada 5 segundos. Na pandemia, foi registrado aumento em casos de diabetes Tipo 2, inclusive causados ou agravados por Covid, que poderiam ter sido evitados com visitas periódicas ao médico. O acompanhamento é fundamental para tratar o paciente, pois, caso o tratamento não seja adequado, precisa ser alterado para que não haja complicações graves”, destaca Miranda.
Os números acendem o alerta para o Dia Mundial do Diabetes (14), uma iniciativa anual da IDF para aumentar a conscientização sobre a doença no mundo todo e chamar a atenção para questões importantes dessa enfermidade. Na visão de Miranda, o acompanhamento profissional é a chave para uma vida mais leve. “Para estar ao lado dos pacientes no tratamento da enfermidade, o Vera Cruz Hospital conta com um tratamento qualificado e uma equipe multidisciplinar que orienta e acompanha cada paciente individualmente, proporcionando mais clareza de como deve ser a rotina e os cuidados após a descoberta”, esclarece.
Doença
A diabetes é uma doença metabólica causada pela falta de insulina no corpo ou pela incapacidade do organismo em utilizá-la de forma adequada, gerando um aumento anormal dos níveis de açúcar no sangue, o que pode trazer várias complicações à saúde. “Um exame de sangue pode identificar a enfermidade. Posteriormente, são feitos testes específicos para determinar o tipo e dar início ao tratamento, que consiste em controlar o nível de glicose no sangue, para evitar complicações, como doenças cardiovasculares (como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca), lesões da retina e outras doenças oculares, insuficiência renal e alterações nos nervos. A equipe multidisciplinar concilia as orientações de alimentação e hábitos saudáveis com os tratamentos medicamentosos e exames preventivos para que os pacientes possam ter uma melhor qualidade de vida”, pontua.
A diabetes é classificada em 4 categorias: Tipo 1, Tipo 2, Gestacional e LADA (Diabetes Autoimune Latente do Adulto). A tipo 1 acomete aproximadamente 5% do total de pessoas com a doença. Geralmente é diagnosticada na infância e acontece quando as células do próprio corpo atacam as células do pâncreas. Assim, não há produção suficiente de insulina para fazer com que a glicose entre nas células e permaneça na corrente sanguínea, aumentando os níveis de açúcar.
Já na Tipo 2, que atinge quase 90% de quem tem a patologia, ocorre um fenômeno conhecido como “resistência à insulina”. Os sintomas e as complicações são semelhantes aos do Tipo 1, porém, não acontece um ataque às células do pâncreas. Esse tipo de diabetes pode ser provocado por uma predisposição genética combinada a um estilo de vida inadequado, com alimentação rica em carboidratos e açúcares e falta de atividade física, por exemplo. Com o tempo, o pâncreas fica sobrecarregado, as células começam a falhar, a produção de insulina cai e os níveis de açúcar disparam no sangue.
A diabetes gestacional, como o próprio nome diz, acontece durante a gravidez. É uma condição caracterizada pela hiperglicemia e ocorre em cerca de 4% das gestações. Esse tipo raramente causa sintomas e, por isso, é preciso realizar exames de sangue periódicos durante toda a gravidez. Geralmente, se cura logo após o parto, mas, mesmo assim, há o risco de evoluir para a Tipo 2.
Por fim, o tipo LADA é o menos conhecido e atinge apenas 2% da população que tem a doença, ocorrendo geralmente em adultos. Ele se caracteriza por uma agressão ao sistema imunológico, que destrói as células Beta, responsáveis pela produção de insulina. Esse processo ocorre de maneira bem mais lenta comparada ao Tipo 1, o que permite controlar a glicemia com medicamentos orais por mais tempo.
Assim como o Tipo 2, o tratamento do LADA também começa com remédios, mas, com o tempo, eles param de fazer efeito e é necessário o uso de insulina. Normalmente acomete adultos entre 25 e 40 anos sem sobrepeso e hipertensão arterial.
“Independentemente do tipo da diabetes, é necessário que cada paciente seja avaliado de forma individual e tenha o acompanhamento de médicos e especialistas durante o tratamento para o controle glicêmico. Caso contrário, pode haver complicações seríssimas, como cegueira, amputações de membros, insuficiência renal e até mesmo problemas cardíacos”, ressalta o médico.
E engana-se quem pensa que evitar a diabetes se resume em abolir os doces do cardápio. Carolina conta que, para seguir a vida de forma mais tranquila, precisou mudar hábitos, incluir atividades físicas e controlar os carboidratos na rotina. “Por incrível que pareça, quem tem diabetes sofre preconceito, pois muitos acreditam que é só o açúcar que deve ser cortado. Um suco de fruta, por exemplo, pode ter muito mais açúcar que um chocolate, e muita gente não sabe disso. Eu vivo bem, mas é muito mais complexo. Como uso insulina, preciso fazer a contagem de carboidratos antes de aplicá-la. Então, não deixo de comer as coisas que eu quero, mas controlo bastante as quantidades para não trazer prejuízos à minha saúde”, conta.