Além da fadiga, pacientes com Covid longo vêm apresentando dor incapacitante de provável origem inflamatória, que pode afetar várias partes do corpo. Segundo a médica Andrea Furlan, professora da Universidade de Toronto, os pesquisadores identificaram que o Sars-Cov2 afeta o sistema nervoso e o sistema de regulação da dor. Os exames convencionais não detectam a alteração. A suspeita ocorre porque a dor pós-Covid é semelhante àquela resultante da lesão ou disfunção do sistema nervoso periférico ou central. Mais conhecida como dor neuropática é acompanhada de formigamento, queimação e choque elétrico. A dor dos pacientes no pós-Covid também apresenta elementos nociplásticos, decorrentes da estimulação dos receptores da dor sem causa evidente.
Em um ou dois anos, a dor do pós-Covid tende a desaparecer com cuidados e orientações médicas específicas como a manutenção da higiene do sono, alimentação equilibrada e prática regular de exercícios. O acompanhamento psicológico pode ser muito útil. “A dor faz com que essas pessoas fiquem mais ansiosas e estressadas e devemos reconhecer que o estresse eleva a produção de adrenalina e cortisol, aumentando o desconforto”, afirma Andrea Furlan, que também é médica e cientista sênior do Instituto de Reabilitação de Toronto.
A dor no pós-Covid será abordada nesta quarta-feira, dia 6, no evento online de Aquecimento da Hospitalar, que ocorrerá entre 17 a 20 de maio no São Paulo Expo, em São Paulo. Na noite desta quarta-feira (6), Andrea Furlan participará do debate “Universo da dor: novas tecnologias para o diagnóstico e tratamento”, que contará com mediação da médica Linamara Battistlella, professora titular de Fisiatria da Universidade de São Paulo (USP) e presença do médico Roberto del Valhe Abi Rached, fisiatra da CIPS – Certified Interventional Pain Sonologist.
“Tratar a dor dos pacientes no pós-Covid reflete com muita ênfase a necessidade de se considerar que esta é uma afecção de múltiplos sistemas e órgãos, sem esquecer a importância da expressão genética! A lado da lesão articular, há o sofrimento do sistema nervoso que agrava o quadro de dor, a ansiedade e a dificuldade no sono e que podem ser fatores agravantes”, explica a professora Linamara. O acesso ao evento online de aquecimento é gratuito mediante credenciamento por meio do portal hosphub.e-event.com.br.
Dor crônica
A dor é considerada crônica quando persiste por mais de três meses. Há dois anos, ela foi classificada pela Organização de Saúde em duas categorias: primária e secundária. A primeira atinge uma ou mais regiões do corpo e está associada ao sofrimento emocional ou incapacidade funcional – como fibromialgia e enxaqueca. A secundária decorre de outras doenças, sendo considerada um sintoma de um problema no organismo – como dores provocadas por traumas, câncer, etc.
Brasileira radicada no Canadá, Andrea Furlan realiza naquele país o trabalho de atualização de profissionais sobre dor crônica, porque boa parte deles não conhecer o assunto, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento. No Canadá, esse desconhecimento leva à prescrição em massa de opioides, que podem levar à dependência química, piora da doença de origem e morte. Por isso, ela criou o “O meu gerenciamento de opioide”, um libro e aplicativo para pacientes que usam esta medicação para dor crônica. Também desenvolveu o Opioid Manager™, uma ferramenta para médicos sobre o medicamento.
No Brasil, estimativas da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED) dão conta que 37% da população tenham algum tipo de dor crônica. Entre os profissionais de saúde brasileiros, o conhecimento sobre a dor crônica está começando a se disseminar, principalmente entre os médicos desta especialidade.