Um dos assuntos da Hospitalar 2019 foi a experiência francesa na área de saúde. O país possui 2.694 estabelecimentos, sendo 35% públicos, 39% privados e 26% privados sem fins lucrativos. Além disso, é o segundo maior player da Europa e o quarto maior player mundial em termos de vendas de dispositivos e tecnologias médicas.
O Dr. Jean-Patrick Lajonchère, embaixador do know-how francês no setor da saúde junto ao Ministério de Relações Exteriores da França e diretor-presidente do Grupo Hospitalar Paris-Saint Joseph, de Paris, participou da feira como palestrante. Ele apontou para uma expectativa de crescimento superior a 30% no comércio global de produtos e serviços para saúde, em função do desenvolvimento de novos setores industriais (medicina regenerativa, terapia celular, medicina personalizada e e-health), assim como pelo desenvolvimento da classe média em economias emergentes, que aumenta a demanda pelo acesso a produtos e serviços de saúde semelhantes aos disponíveis em economias avançadas.
Em entrevista exclusiva à RHB, ele disse que a melhoria na hospitalidade está no centro das preocupações dos hospitais franceses, através de uma infraestrutura hoteleira de qualidade e da acolhida humana, visando reduzir o estresse dos pacientes. “Existe um grande esforço para a redução da dor. Há muita interação com os médicos e os profissionais de saúde que atuam em Paris. A ligação entre os cuidados hospitalares e os cuidados extra hospitalares é uma prioridade para nós. Além disso, o Ministério da Saúde francês vai remunerar os hospitais de acordo com o cumprimento de suas metas de qualidade, que serão medidas a cada ano”, explicou.
Em termos de inovação, ele cita todas as novas drogas anticancerígenas, como as imunoterapias, que estão entre as mais usadas. “Com relação a dispositivos médicos, tudo o que ajuda a reduzir o tempo de cirurgia está muito em voga. Mas também precisamos falar sobre a evolução dos sistemas de informação, como a digitalização completa dos registros dos pacientes, que está sendo desenvolvida agora”, expôs.
O diretor-presidente do Grupo Hospitalar Paris-Saint Joseph conta que as organizações francesas também vêm se adaptando, tornando-se inovadoras e utilizando abordagens industriais para organizar o fluxo de pacientes. “Hoje todos falam de inteligência artificial, mas, como em outros lugares, ainda falta progredir e demonstrar também sua utilidade.”
Projetos
Entre os projetos do governo francês está estabelecer centros no exterior, os chamados Clube Saúde ou Club Santé, sendo um deles em São Paulo. O intuito é reunir empresas de diferentes áreas da saúde, serviços administrativos e consulares franceses, formando a “Equipe de saúde da França”. O grande objetivo deste clube, segundo o Dr. Lajonchère, é facilitar uma melhor penetração dos produtos franceses no mercado brasileiro. “Nós acreditamos que nossos artigos são de alta qualidade e queremos promovê-los. Mas as questões que discutimos no clube não param por aí. Ele também serve para propor às autoridades públicas brasileiras soluções usadas em nosso sistema de saúde”, ressaltou.
Outros projetos são a remoção de barreiras nacionais ao comércio, para regular o crescimento e permitir que hospitais universitários estabeleçam subsidiárias comerciais no exterior; o desenvolvimento de ofertas integradas para mercados-chave, como Marrocos, China, Irã e Oriente Médio; e a exportação de modelos normativos franceses, lançando uma etiqueta de certificação francesa para instituições estrangeiras de cuidados com a saúde e apoiando a Agência de Vigilância Sanitária Francesa na área de Remédios e Produtos de Cuidados com a Saúde (ANSM).
Na prática
Sobre sua experiência à frente do Grupo Hospitalar Paris Saint-Joseph, o Dr. Lajonchère disse que é basicamente a de um diretor de empresa. “No entanto, propomos produtos de saúde e curamos pessoas, o que é um grande diferencial. Por isso, é fundamental que os métodos para conseguirmos isso sejam otimizados e padronizados, a fim de permitir justamente que a arte da medicina seja exercida plenamente”, explicou.
O principal desafio, segundo ele, é encurtar o tempo médio de permanência dos pacientes, o que permite aumentar o número de pessoas tratadas. Isso exige, portanto, organizações extremamente precisas. “Tenho o prazer de ter a ajuda dos médicos para conseguir isso, pois sem eles, nada seria possível”, encerrou.
Matéria originalmente publicada na Revista Hospitais Brasil edição 98, de julho/agosto de 2019. Para vê-la no original, acesse: portalhospitaisbrasil.com.br/edicao-98-revista-hospitais-brasil