Em meio à crise dos planos de saúde, médicos são os mais impactados pelo efeito cascata

Após o anúncio do déficit operacional de R$ 11,5 bilhões em 2022 no segmento de planos privados de assistência à saúde, feito pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), médicos de todo o Brasil estão preocupados com o impacto dessa informação na assistência e na promoção à saúde de seus pacientes. É importante salientar que o saldo negativo é o pior resultado da série histórica que começou em 2001.

Tal cenário negativo é a consequência de três anos de pandemia da Covid-19, alta da inflação e afastamento de investidores. Quem sofre são os usuários de convênios e os médicos que lidam diretamente com eles, com burocracia e até descredenciamentos.

Para agravar ainda mais o quadro, enquanto a insatisfação dos médicos e dos usuários dos planos de saúde aumenta, mantendo o serviço no topo da lista de reclamações registradas no Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), com 27,9% de queixas em 2022, a perspectiva é de reajuste de 17% a 25% nos benefícios individuais, familiares e empresariais, já para este mês de maio, conforme posicionamento da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), representante de grandes grupos de operadoras de saúde do país, que considera a situação como “bem crítica”.

Na visão do cardiologista, Dirceu Thiago Pessoa de Melo, a questão começa com os planos de saúde, afetando na sequência laboratórios e hospitais. Esses acabam interferindo na atuação dos médicos, na tentativa que estes deixam de dispor de autonomia profissional para a melhor prática dos tratamentos. “A ação acaba por refletir na dificuldade para internar pacientes ou para procedimentos cirúrgicos. Ademais, os médicos sentem em seus respectivos bolsos o alto pagamento de impostos, a sobrecarga nos atendimentos, além de atrasos constantes no repasse das operadoras, o que faz com que o recebimento dos proventos possa demorar muito mais do que o acordado”.

No esforço de evitar esses contratempos, muitos médicos vêm adotando a prática de atendimento via reembolso, não onerando o paciente, e consentindo para que ele peça a compensação do valor da consulta ou do procedimento, de acordo com a tabela do seu plano de saúde. Ademais, vários médicos preferem não mais trabalhar com os planos de saúde, mas isso acaba causando a diminuição da carteira de pacientes.

Portanto, o mais importante para sanar dores financeiras nessa relação conturbada, segundo Dirceu, é que os médicos, principalmente com CNPJs, invistam em uma contabilidade, de preferência especializada no segmento, para garantir a saúde financeira da organização.

“O controle financeiro é importante em vários aspectos, não só no relacionamento com os planos de saúde, caso o médico o tenha, mas também para uma melhor gestão de impostos, taxas e contribuições, e para o crescimento da empresa, de acordo com um planejamento tributário adequado. Por outro lado, sem uma contabilidade apropriada, o médico terá dificuldades para identificar e reparar todo tipo de prejuízo”, finaliza.

Redação

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