Entidades do setor se manifestam sobre greve dos caminhoneiros

Fehoesp entra com pedido de liminar na Justiça Federal para garantir abastecimento de hospitais

A FEHOESP – Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo e o SINDHOSP – Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo entraram com uma ação ordinária com pedido de liminar na Justiça Federal para garantir o abastecimento dos hospitais e serviços de saúde.

Na peça, as entidades pedem que o movimento grevista libere a circulação de caminhões, que transportem produtos para estabelecimentos de saúde, em todo território nacional. Serão notificados a União e todas as entidades representativas dos caminhoneiros. “Queremos garantir que a União faça cumprir a liminar que certamente obteremos e que as lideranças sejam também notificadas para cumprimento imediato sob risco de multas diárias”, informa o presidente da FEHOESP, Yussif Ali Mere Jr.

Segundo Yussif Ali Mere Jr, a FEHOESP quer garantir o direito o direito constitucional do cidadão à saúde e ao atendimento médico-hospitalar. “O movimento grevista que impede o direito de ir e vir do transporte de produtos para estabelecimentos de saúde está afrontando a Constituição Federal e vamos cobrar por isso”, alerta o presidente.

Hospitais entram em estado de alerta e em algumas regiões cancelam cirurgias

Apuração do SINDHOSP e FEHOESP indica que hospitais e serviços de saúde de todo Estado estão em estado de alerta por conta do abastecimento geral prejudicado. E já estão ocorrendo reduções de atendimento médico-hospitalar.

Segundo o médico Yussif Ali Mere Jr, presidente da FEHOESP, a situação dos hospitais está no limite. “Caso a greve persista no fim de semana será o caos. A maioria dos hospitais precisa repor oxigênio entre segunda-feira e terça-feira, pois as reposições ocorrem semanalmente salvo exceções”, alerta o presidente.

Também insumos hospitalares e alimentos estão em falta. Os serviços de saúde trabalham com estoques e na área de  alimentos, os nutricionistas estão mudando o cardápio ou procurando novos fornecedores para manter as refeições.

Hospitais cancelam cirurgias

Na região de São José dos Campos, por exemplo, o abastecimento de oxigênio foi realizado na terça-feira da semana passada e os estoques dos tanques ainda possuem 70% de oxigênio.

No Grupo Policlin, em São José dos Campos, houve o cancelamento de 3 cirurgias esta semana devido a atraso de material. Enquanto no Hospital Samaritano de Sorocaba todo atendimento eletivo foi cancelado, mantendo-se apenas atendimento de emergência. Já no Hospital Santo Antônio, de Votorantim, cirurgias eletivas de segunda-feira foram canceladas.

Na região de São José do Rio Preto, os estoques ainda duram este fim de semana com exceção do Hospital do Coração que poderá cancelar cirurgia por falta de oxigênio na sala específica de cirurgia cardíaca.

Em São Paulo, o Hospital Premier, de cuidados paliativos, só possui oxigênio somente até terça-feira. Estão com estoques de medicamentos no limite. Se entregas de insumos e oxigênio não acontecerem até segunda-feira, a situação será de guerra segundo o diretor.

Serviços de home cares, que dependem de oxigênio, antibióticos e medicamentos de alta complexidade mudaram a rotina. Enfermeiros que faziam visitas duas a três vezes por semana aos pacientes estão em plantão na sede, pois não há combustível para visitas.

Em Santos, a empresa de home care Saúde Care estão com falta de medicamentos e não conseguem fazer entrega dos mesmos nas residências dos pacientes por falta de combustível.

Faltam anestésicos, antibióticos e hortifrúti nos hospitais de Ribeirão Preto

Já faltam alguns alimentos e suprimentos e há muitos atrasos em entregas nos hospitais de Ribeirão Preto e região. O primeiro levantamento do cenário nos serviços de saúde foi feito pela Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP) e Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios de Ribeirão Preto (Sindribeirão) nesta sexta-feira (25), pela manhã.

Situação em Ribeirão Preto

Há hospitais que não receberam a carga de hortifrúti e alguns cortes de carne resfriada nesta manhã. Outros relatam atraso na entrega de oxigênio, porém, todos os que deram informações têm estoque de oxigênio para este fim de semana. Alguns informaram que os fornecedores relatam dificuldade em enviar encomendas. Um hospital relata falta de dieta enteral, que deveria ser entregue na manhã desta sexta-feira, mas a transportadora não conseguiu sair da distribuidora com a carga.

Outro hospital não recebeu oxigênio nesta manhã e, apesar de ter estoque para este fim de semana, já se preocupa com a possibilidade de aumento na demanda dos serviços e o risco de faltar oxigênio. E um hospital informou que motoristas relatam que têm conseguido trafegar ao apresentarem as notas fiscais de produtos para hospitais. Há preocupação com as próximas datas de compras de medicamentos e outros suprimentos e a possível dificuldade na entrega das encomendas.

Levantamento nos hospitais

Diretorias e setores de suprimentos dos principais hospitais de Ribeirão Preto passaram a manhã desta sexta-feira (25), fazendo levantamentos e analisando o agendamento de algumas cirurgias, mas ainda não relatam cancelamento.

Na quinta (24), Yussif alertou o presidente da República e os presidentes da Câmara e Senado para o risco do desabastecimento dos serviços de saúde, além da preocupação com a coleta de lixo hospitalar.

“Precisamos garantir com urgência o abastecimento das redes de saúde para manter o atendimento à população. Trabalhamos com estoques reduzidos e necessitamos de abastecimentos regulares, como por exemplo, de dois em dois dias; três em três dias, no caso de reposição de oxigênio”.

Abastecimento de hospitais ainda não está regularizado

Estradas foram desbloqueadas, mas nesse momento hospitais e serviços de saúde ainda não tiveram abastecimento regularizado no estado de São Paulo, pois as empresas transportadoras de materiais, medicamentos e alimentos estão com dificuldade de encontrar combustível. Empresas produtoras de oxigênio reportam que embora estejam conseguindo fazer as entregas com os caminhões, continuam sofrendo alguns bloqueios ao voltar vazios para suas bases. Isso impede o reabastecimento do caminhão e a continuidade das entregas.

Apuração do SINDHOSP e FEHOESP indica que hospitais e serviços de saúde de todo Estado criaram comitês para gerenciamento da crise de abastecimento. E as reduções de atendimento médico-hospitalar estão mantidas enquanto não houver normalização das entregas. Cirurgias eletivas estão sendo canceladas em algumas instituições mantendo-se apenas o atendimento de urgência. E contenção no uso das roupas cirúrgicas e no enxoval de hospitais como toalhas, lençóis etc.

Segundo o médico Yussif Ali Mere Jr, presidente da FEHOESP, a situação dos hospitais continua crítica. ”Recomendamos à população que só procurem hospitais em casos de urgência. Soubemos de casos de hospitais no Vale do Paraíba que estão suprindo alimentos com compras em super mercados  por falta de entrega. E alguns fornecedores de refeições também estão com problemas no recebimento de alimentos. Muitos hospitais precisam repor oxigênio entre hoje e amanhã. Estamos aguardando que as entregam ocorram ainda hoje”, destaca.

Preocupa a situação de entrega de materiais e medicamentos de empresas da capital para serviços de saúde da Grande São Paulo, pois as empresas que realizam entregas embora não enfrentem mais o bloqueio das estradas, enfrentam agora a dificuldade de conseguir combustível.

Nota da Associação Médica Brasileira (AMB)

A Associação Médica Brasileira (AMB) entende e se solidariza com as pautas reivindicadas pela greve dos caminhoneiros, visto que é necessário que haja uma redução dos impostos, como no caso dos combustíveis no Brasil, pois o preço destes afeta praticamente todos os produtos e serviços já altamente impactados pela carga tributária colossal em todos os segmentos de mercado.

No entanto, a AMB expressa sua preocupação com a manutenção do atendimento dos serviços de saúde, em especial os de urgência, em um sistema que já conta com inúmeras deficiências.

O transporte de carga no Brasil é realizado essencialmente na malha terrestre, e a entrega de oxigênio, medicamentos, alimentação para os hospitais, além de combustíveis para ambulâncias e demais suprimentos é altamente impactada se não houver bom senso.

Os motivos da paralisação não estão sendo questionados, mas solicitamos a compreensão dos manifestantes para que itens fundamentais à manutenção do atendimento de urgência e emergência sejam liberados nas rodovias dando prosseguimento no atendimento à população.

Nota da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) pela preservação do cuidado aos pacientes nos hospitais

A Anahp – Associação Nacional de Hospitais Privados vem a público manifestar sua grande preocupação com a atual situação de distribuição de insumos aos hospitais em todo o Brasil.

Em nome dos 107 associados, gostaríamos de expor o que já está acontecendo e o que pode se agravar em muito nos próximos dias.

Algumas cirurgias eletivas já vêm sendo adiadas para que se possa garantir os atendimentos de urgência e emergência; gases medicinais estão com seus estoques bastante limitados, o que afeta cirurgias, pacientes internados em UTI e atendimentos de emergência; alimentação dos pacientes já precisa de adaptações por problemas na distribuição de alimentos frescos; a coleta de lixo hospitalar já está afetada, causando problemas na estocagem de lixo; insumos para exames e hemodiálise já estão limitados; sem falar na dificuldade de acesso dos funcionários aos hospitais por problemas nos transportes públicos.

A partir do início da próxima semana, os hospitais não conseguirão mais garantir o acesso e a continuidade do cuidado dos pacientes que necessitarem de tratamento, se nenhuma medida imediata for adotada. Pronto-socorros correm o risco de fecharem as portas.

Assim exigimos mais uma vez que autoridades de governo e movimento grevista entendam a gravidade do problema e intercedam pela sua solução, adotando imediatamente as ações necessárias para evitar a indisponibilidade de medicamentos, materiais, insumos e serviços necessários para o atendimento aos pacientes.

Nota da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed)

A Abramed – Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica, diante do prolongamento das severas dificuldades logísticas que se apresentam neste momento no país, alerta para o agravamento das condições minimamente necessárias para a assistência à saúde da população.

Diante desse cenário, enfatizamos o caráter emergencial para adoção das seguintes medidas:

1) Priorização absoluta pelas companhias aéreas no transporte de insumos vitais, entre os quais reagentes e contrastes, para a realização de exames críticos para a investigação e tratamento de pacientes portadores de doenças que necessitam de intervenção imediata e contínua, como os casos oncológicos. Estão sendo recorrentes relatos de laboratórios de análises clínicas e de imagem em relação à falta de priorização dessas cargas nas aeronaves, fato que coloca em risco a estabilidade das amostras coletadas dos pacientes, bem como a chegada desses materiais essenciais para processamento de exames. A falta de diversos insumos já é observada em muitas regiões do País, onde a cooperação entre diferentes instituições para a troca de materiais é uma alternativa que também está se esgotando;

2) É fundamental que as autoridades priorizem o abastecimento de combustível de veículos destinados aos serviços de saúde pública e privada, que transportam órgãos transplantados, peças cirúrgicas para biópsia, materiais biológicos para análise laboratorial e insumos para realização de exames; e

3) Escolta policial aos veículos destinados a serviços de saúde nas regiões e rodovias com manifestações.

Salientamos para o fato de que exames diagnósticos são fundamentais para a conduta clínica a ser adotada pelos profissionais médicos em cada caso. A situação atual traz risco relevante aos cuidados fundamentais de pacientes portadores de doenças que necessitam de intervenção imediata e contínua, como os casos oncológicos.

Diante desse cenário, a ABRAMED, que representa laboratórios de todas as regiões brasileiras, reitera sua mais elevada preocupação, realçando a urgente necessidade de reflexão sobre as consequências que estão sendo impostas às pessoas na busca de serviços essenciais de saúde.

Produção de insumos de diálise já está comprometida

A Fresenius Medical Care, especialista no fornecimento de insumos e equipamentos de diálise – está mobilizando transportadoras para conseguir entregar cerca de 2.000 toneladas de medicamentos até quinta-feira (31) para abastecer hospitais, clínicas e pacientes residenciais em todo território nacional, priorizando as situações mais críticas. Apesar de ter conseguido a liberação de três caminhões na madrugada de domingo (27), o entrave maior agora é garantir o retorno desses caminhões até a fábrica em Jaguariúna (interior de SP) para serem reabastecidos com novas cargas e seguir distribuindo os insumos fundamentais para a manutenção da vida dos milhares de pacientes renais no país.

“Mesmo com a identificação de que estão fazendo transporte de medicamentos, os veículos vazios estão sendo impedidos de retornar à fábrica”, alerta Adriano Souza, coordenador de Logística da Fresenius Medical Care.

Além disso, para manter a produção em funcionamento, a empresa enfrenta dificuldades no recebimento das matérias-primas e no deslocamento de seus funcionários.

“Apesar da vitória momentânea, precisamos normalizar o fluxo de abastecimento de insumos e medicamentos essenciais para todas as clínicas e hospitais do país, que realizam este tipo de tratamento, garantindo a vida de milhares de pessoas”, alerta a nefrologista e gerente médica da Fresenius Medical Care, Ana Beatriz Barra.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia, há cerca de 120 mil pessoas fazendo tratamento de diálise em quase 800 clínicas de todo o país. A Fresenius Medical Care é responsável por abastecer 450 dessas unidades de saúde, que atendem mais de 65 mil pacientes com insuficiência renal crônica ou aguda.

Gabinete de crise para garantir tratamento

Desde o início da greve, um comitê de crise foi convocado, envolvendo diversas áreas da empresa, com o objetivo de buscar soluções para garantir a entrega dos insumos e medicamentos e minimizar os impactos causados pela greve.

Redação

Redação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.