Estudo brasileiro sobre câncer de mama hereditário revela importância de ir além do BRCA 1 e 2

Inclusão de genes, além do BRCA 1 e 2, dobram as chances de encontrar mutação de câncer de mama hereditário

Um estudo brasileiro traz descobertas sobre o perfil do câncer de mama hereditário nas brasileiras, considerando a diversidade genética por conta da miscigenação do país. Publicado na Scientific Reports, do grupo Nature, o estudo traz os resultados da maior coorte de pacientes brasileiras com câncer de mama submetidas ao teste de painel multigênico com sequenciamento de nova geração (NGS). O uso de testes de painel multigênico quase dobrou a identificação de variantes patogênicas ou provavelmente patogênicas da linhagem germinativa (herdadas ao nascimento), em genes de predisposição para câncer de mama. No Brasil, mais da metade dos genes mutados não BRCA1/2 (totalizam 47,7%) e os autores destacam que atenção especial deve ser dada às variantes do gene TP53.

Highlights

  • O uso de painéis multigênicos para o câncer de mama duplicam a chance de encontrar uma mutação genética em comparação da análise do BRCA1 e 2.
  • O terceiro gene mais comumente mutado na população brasileira é o TP53, que quando identificado exige um cuidado mais complexo que o BRCA1 e 2.
  • As variantes de significado incerto, que são encontradas mais vezes em painéis multigênicos, nunca devem ser utilizadas para modificar a conduta clínica.

A diversidade genética de variantes germinativas em genes de predisposição para câncer de mama é inexplorada em populações miscigenadas, que é o caso da população brasileira. Com esta premissa, neste estudo, 1663 brasileiros (99,2% mulheres e 0,8% homens) com câncer de mama foram submetidos a testes de painel multigênico hereditário (20-38 genes de suscetibilidade ao câncer). Os resultados foram comparados com 18.919 casos controle (indivíduos brasileiros, sequenciados como parte de vários testes genéticos específicos de doenças, excluindo amostras de casos de câncer).

Na amostra, o câncer de mama hereditário representaria 2 entre 10 casos da doença. Isso porque, na análise, 335 (20,1%) participantes carregavam variantes germinativas patogênicas ou provavelmente patogênicas (P/PL). Destas variantes P/PL, 167 (10,0%) em BRCA1/2, 122 (7,3%) em genes acionáveis de câncer de mama não-BRCA e 47 (2,8%) em genes candidatos ou outros genes de predisposição ao câncer. No geral, 354 variantes distintas de P/LP foram identificadas em 23 genes. Os genes mais comumente mutados foram: BRCA1 (27,4%), BRCA2 (20,3%), TP53 (10,5%), MUTYH monoalélico (9,9%), ATM (8,8%), CHEK2 (6,2%) e PALB2 (5,1%). Vale destacar que o número de pacientes portadores da variante TP53 R337H é semelhante ao número de pacientes com BRCA1 c.5266dupC, que é a variante patogênica de BRCA1 mais prevalente no estudo.

Assim, esses resultados confirmam que a herança do TP53 R337H contribui para um número significativo de casos de câncer de mama no Brasil. “Esses achados reafirmam a necessidade de diretrizes diferenciadas para monitoramento e estratégias de redução de risco em pacientes com câncer de mama hereditário no Brasil. A investigação da variante TP53 R337H nas pacientes brasileiras na pré-menopausa com diagnóstico de câncer de mama é essencial”, destaca o autor principal do estudo, Rodrigo Guindalini, oncologista clínica e oncogeneticista da Oncologia D´Or e consultor científico da Igenomix Brasil.

De acordo com Guindalini, esses pacientes e seus familiares que carregam a mesma variante devem receber vigilância intensiva que inclui, pelo menos, ressonância magnética de corpo inteiro (RM) e RM do sistema nervoso central, conforme protocolo de Toronto50. Além disso, a ressonância magnética de mama deve ser oferecida anualmente a partir dos 20 anos e mamografia anualmente a partir dos 30 anos. Para esses pacientes, a cirurgia de redução de risco do tipo (adeno)mastectomia bilateral deve ser discutida. Para pacientes com câncer de mama, a mastectomia deve ser a opção preferida na tentativa de evitar a radioterapia. No entanto, a radioterapia deve ser considerada quando o risco de lesão locorregional, a recorrência é alta. Para tanto, é fundamental que seja ampliado no Brasil o acesso da população de risco ao teste de painel multigênico.

Referência:

Guindalini RSC, Viana DV, Kitajima JPFW, Rocha VM, López RVM, Zheng Y, Freitas É, Monteiro FPM, Valim A, Schlesinger D, Kok F, Olopade OI, Folgueira MAAK. Detection of germline variants in Brazilian breast cancer patients using multigene panel testing. Sci Rep. 2022 Mar 9;12(1):4190. www.nature.com/articles/s41598-022-07383-1.pdf

Igenomix lança divisão de Oncologia de Precisão dia 28, em SP

Com 25 laboratórios de genômica espalhados pelo mundo e atuante em mais de 80 países, a Igenomix elegeu o Brasil para iniciar a linha de testes genômicos em oncologia de precisão.

A Igenomix, laboratório multinacional de biotecnologia referência em genética reprodutiva, anuncia o lançamento da divisão de Oncologia de Precisão no dia 28 de abril, na sede nacional, em São Paulo. Com a expansão, a Igenomix Brasil potencializa sua capilaridade mundial em testes genéticos que, a partir de agora, também investigam alterações adquiridas pelos tumores, conhecidas como somáticas. Junto com as análises de síndromes de câncer hereditário já disponíveis anteriormente, a oferta de testes genéticos em oncologia estará completa no laboratório.

Por meio da identificação das características moleculares específicas de um tumor é possível colocar em prática a Oncologia de Precisão, na qual se adota tratamentos mais efetivos (especialmente desenhados para agir naquela alteração molecular específica) e, consequentemente, com menor toxicidade. Além disso, os testes genômicos também podem ajudar o médico no monitoramento da resposta ao tratamento e identificação de mecanismos de resistência.

Exemplificando pelo câncer de pulmão, atualmente não é suficiente saber a localização anatômica ou tipo histológico deste tipo de câncer. Os mais beneficiados pela Oncologia de Precisão entre os tumores pulmonares são os adenocarcinomas. Para este subtipo, genes como EGFR, ALK e BRAF devem ser avaliados para que terapias alvo possam ser utilizadas de acordo com o subtipo molecular.

TESTES GERMINATIVOS E SOMÁTICOS – Todo câncer é genético, o que significa que ocorre em consequência de alterações no DNA de uma célula. No entanto, há uma importante diferenciação entre tumores esporádicos (fortemente associados a fatores ambientais) e hereditários. Este último, ocorre devido uma alteração germinativa (herdada) presente desde o nascimento.

A partir do mês de maio, o laboratório de São Paulo passa a disponibilizar painéis moleculares para avaliação tumoral e do DNA livre circulante por biópsia líquida complementando a realização de testes germinativos disponível atualmente que investigam a presença de variantes herdadas ao nascimento e responsáveis por uma predisposição genética ao câncer.

“Estamos propiciando o cenário ideal, que é oferecer testes genéticos a todos que tenham indicação clínica baseada em suas características e histórico familiar (acompanhado de consultas de aconselhamento), assim como acesso aos painéis ampliados de genes que investigam a predisposição para doenças, além de diagnosticar precocemente ou predizer resposta a determinados tratamentos. Estamos, de fato, fazendo Oncologia de Precisão”, destaca Diego Miguel, médico geneticista e diretor médico da Igenomix Brasil.

REPRESENTATIVIDADE BRASILEIRA – A Igenomix conta com 700 colaboradores no mundo, sendo 20% deles com PhD (doutorado). Com quase 500 publicações científicas e seis patentes, é um importante produtor de ciência em saúde reprodutiva e genética. No Brasil, as atividades se iniciaram em 2014 e desde então, todos os anos, a capacidade do laboratório foi ampliada para atender a demanda crescente das clínicas e pacientes. Em 2020, a Igenomix realizou 550 mil análises genéticas e, em 2021, foi superada a marca de 650 mil análises. No Brasil, a capilaridade também é crescente: ao comparar os períodos de janeiro a setembro de 2020 e 2021 o crescimento acumulado é de 71% entre os dois períodos. Com as novas instalações na Av. República do Líbano, 500, no Ibirapuera, a unidade de São Paulo saltou de 45 para 85 funcionários, entre eles médicos, biólogos, biomédicos e profissionais administrativos. Sob a liderança da biomédica e geneticista brasileira Márcia Riboldi, CEO da Igenomix Brasil e Argentina, o país consolida um mercado estratégico da Igenomix.

Dois fatores foram importantes na decisão da Igenomix em eleger o Brasil como primeiro centro da divisão de Oncologia. Um deles é o reconhecimento da gestão e expertise dos profissionais da Igenomix no país. O outro fator está no avanço dos testes genômicos no Brasil nos últimos anos. “Apesar disso, gargalos como tempo extenso para liberação de resultados ainda são comuns no nosso país e é justamente um dos principais pontos onde acreditamos que faremos diferença na vida de muitas pessoas”, conclui Gabriel Macedo, biólogo molecular e head de oncologia da Igenomix Brasil.

Redação

Redação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.