Estudo inédito aborda o uso de quimioterapia no final da vida no Brasil

Estudo inédito apresentado no ASCO Annual Meeting 2021, no último dia 5 de junho, mostra que a taxa de uso de quimioterapia no último mês de vida permanece alta entre os pacientes com câncer no Brasil. O encontro, realizado pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica, é o maior congresso sobre câncer do mundo.

De acordo com um dos pesquisadores, o oncologista da Oncomed BH, clínica especializada de referência em prevenção e tratamento de doenças neoplásicas, Munir Murad Junior, as taxas de quimioterapia no fim da vida variam em todo o mundo, mas, em resumo, até um quinto dos pacientes com câncer são tratados com quimioterapia no último mês de vida, sem benefícios claros. O médico é o primeiro autor de estudo brasileiro que integra o estudo científico do ASCO 2021.

Segundo os autores, a quimioterapia nos últimos dias de vida não está associada a um benefício de sobrevida e dados recentes sugerem que ela pode causar danos ao diminuir a qualidade de vida e aumentar os custos. O objetivo do estudo foi descrever a taxa de uso de quimioterapia no último mês de vida em pacientes candidatos a cuidados paliativos no Brasil.

O estudo contou com base de dados de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). A população do estudo é composta por todos que iniciaram o tratamento oncológico entre 2009 e 2014 e que estiveram internados pelo menos 1 vez após o início do tratamento. Já para abordar a indicação de cuidados paliativos, foram selecionados os pacientes cujo óbito ocorreu no prazo de um ano após a primeira internação.

Conforme o trabalho apresentado, um total de 299.202 pacientes iniciaram o tratamento contra o câncer naquele período e 62.249 morreram 1 ano após a internação. Entre os pacientes falecidos, a mediana de idade foi de 62 anos, 50,9% deles estavam em estágio IV e 34,1% em estágio III e 46% residiam na região sudeste do país.

Os cânceres mais comuns foram de pulmão (n = 17805; 28,6%) colorretal (n = 12273; 19,7%) e gástrico (n = 10248; 16,5%). O número médio de internações foi de 2,7 e 89% desses pacientes necessitaram de internação de emergência.

Cerca de metade (45,4%; n = 28.250) dos pacientes fez quimioterapia nos últimos 30 dias de vida. As taxas de uso de quimioterapia no último mês foram de 44% para câncer de pulmão, 74,4% para câncer de cólon, 50,2% para câncer gástrico e 51,8% para câncer de mama.

A conclusão é que, apesar das recomendações internacionais sobre não utilizar quimioterapia no final da vida, essa parece ser uma prática comum. “Medidas para implantação de cuidados paliativos precoces devem ser uma prioridade para o atendimento aos pacientes com câncer no Brasil”, reforçou o oncologista Munir Murad Junior.

De autoria dos médicos, Thiago Henrique Mascarenhas Nébias, Marcos Antonio da Cunha Santos, Mariangela Cherchiglia, a pesquisa recebeu financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Brasil, e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

Redação

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