Fechamento da Colônia Juliano Moreira, último hospício de longa permanência do Rio de Janeiro, é símbolo da luta antimanicomial

A Colônia Juliano Moreira, hospital psiquiátrico que fica na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que completaria 100 anos em 2024, não chegará ao centenário em atividade. Isso porque os seus pacientes, que já chegaram a 6.000 totais, hoje somam menos de 20 pessoas, resultado de um trabalho de desinstitucionalização que envolve retorno familiar, geração de condições para retornarem a sociedade morando sozinhos e da alta para para unidades dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), compostos por casas onde habitam pessoas que estiveram por dois ou mais anos internados em instituições manicomias, passam a morar juntas em casas que abrigam de 6 a 8 pessoas.

O  SRT é um serviço que faz parte da política nacional de saúde mental, referência como alternativa à internação psiquiátrica permanente, destino daqueles acometidos por transtornos mentais graves e persistentes antes da reforma psiquiátrica brasileira que ganhou força nos anos 90. No município do Rio de janeiro, a iniciativa é uma parceria da Secretaria Municipal de Saúde e o CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável), que tem feito da Cidade Maravilhosa uma referência na luta antimanicomial no país: Somente na cidade do Rio, já operam 97, 12% do programa nacional de SRT no Brasil.

“Os maiores impactos sociais deste projeto estão no resgate da cidadania, a reinserção social e o combate ao estigma da loucura, produzindo cuidado em território para pessoas com transtornos mentais graves, que outrora foram internadas por anos em hospitais psiquiátricos devido a condição de vulnerabilidade social, o agravamento de sintomas dos transtornos mentais e o esgarçamento de laços familiares e afetivos” avalia Leonardo Moraes, Coordenador de Projetos Sociais do CIEDS.

As SRTs oferecem um espaço privilegiado para a construção da autonomia, reinserção social, resgate da cidadania e da identidade do sujeito. No ambiente doméstico e inserido no território, ao contrário do vivenciado nos manicômios, o morador recebe suporte de uma equipe multiprofissional de saúde composta por cuidadores, técnicos de enfermagem e acompanhantes terapêuticos que junto dos Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), constroem projetos terapêuticos singulares na busca de ampliar autonomia, autodeterminação e a produção ou reconstrução de laços sociais e familiares.

Os CAPS, por sua vez, são os serviços territoriais especializados em saúde mental que vieram para substituir os manicômios, possuem como premissa que qualquer pessoa pode ser cuidada no território em momentos de sofrimento psíquico, prescindindo de estratégias manicomiais como a internação em hospital psiquiátrico. E desta forma conduzem o acompanhamento dos moradores do SRT.

Ainda na temática de desinstitucionalização, o CIEDS produziu o livro “Residências Terapeuticas”, que traz histórias das Residências Terapêuticas no Rio de Janeiro – seus moradores e profissionais que os acompanham. O livro, com previsão de lançamento ainda esse ano, traz, também, o debate sobre reforma psiquiátrica e os avanços nas políticas públicas cariocas.

Redação

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