O Hospital Unimed Ribeirão Preto (SP) realizou sua primeira cirurgia cerebral com o paciente acordado. Sob os cuidados de uma equipe multiprofissional formada por nove profissionais, entre neurocirurgiões, neurofisiologista, neuropsicólogas, instrumentadores, anestesista e enfermeiros, o paciente, um comerciante de 58 anos, morador em Orlândia, teve retirado um tumor cerebral que já comprometia a sua capacidade de fala.
“Trata-se de um procedimento em que trabalhamos em uma lesão muito pequena e específica no cérebro. Com o paciente acordado e respondendo a estímulos, conseguimos fazer uma avaliação em tempo real sobre o que é tecido normal e o que é lesão, permitindo a ressecção apenas do tumor, sem risco de comprometimento de outras funções cerebrais, especialmente a fala ou os movimentos dos membros”, explica o neurocirurgião Luiz Antônio Araújo Dias Júnior, que conduziu a cirurgia, com duração de aproximadamente cinco horas.
Deste tempo total, por aproximadamente uma hora e meia o paciente ficou acordado, enquanto o procedimento cirúrgico era realizado. “Através de estímulos elétricos feitos na área cerebral de comando das funções de linguagem, o paciente perde momentaneamente esta capacidade, o que nos permite fazer um mapeamento funcional que vai indicar ao neurocirurgião o seu campo de trabalho para retirada da lesão, sem comprometimento de áreas sadias”, afirma o neurofisiologista Rodrigo Nogueira Cardoso.
Enquanto recebia os estímulos elétricos, o paciente ainda era levado a fazer exercícios de linguagem, conversando com as neuropsicólogas integrantes da equipe multiprofissional do hospital, por meio de testes para nomear objetos, diferenciar figuras, identificar cores e realizar cálculos matemáticos. “Trata-se de um processo em que a colaboração do paciente é fundamental para o sucesso do resultado final”, completa Cardoso.
Para garantir esta colaboração, o procedimento teve início muito antes da entrada no centro cirúrgico, quando o paciente passou por avaliações por parte da equipe de neuropsicologia e recebeu as informações de como deveria ocorrer a operação. Todo este preparo foi fundamental para que, ao acordar no decorrer da cirurgia, o paciente respondesse de maneira satisfatória aos testes previamente apresentados a ele pelas neuropsicólogas Catherine Moisés Carrer e Marina de Felipe Antônio e tivesse a tranquilidade necessária para passar por este momento, com todo o suporte humanizado oferecido pelas equipes do Hospital Unimed, do início ao fim da internação.
Anestesia controlada
Para permitir que o paciente desperte em meio ao procedimento cirúrgico, é realizada uma anestesia geral para abertura da calota craniana. “O paciente passa por uma anestesia geral alvo controlada, associada a bloqueio local do couro cabeludo, via máscara laríngea, para início da cirurgia. Quando o neurocirurgião chega à região do tumor, este medicamento é suspenso e ele desperta, apto a responder normalmente a todos os estímulos de linguagem, uma vez que o cérebro em si é indolor. Terminado este procedimento, é feita nova anestesia geral para finalização da cirurgia”, comenta o anestesista Thiago Freitas Gomes.
“Este é o melhor método para retirada de tumores deste tipo. Em uma cirurgia convencional, com o paciente totalmente sedado, há riscos maiores de comprometimento de funções de linguagem. Após a alta, com o seguimento de tratamentos de quimioterapia e radioterapia e o acompanhamento de profissional de fonoaudiologia, que é fundamental, este paciente terá um ganho efetivo de qualidade de vida, sem dúvida”, completa o neurocirurgião Dias Júnior.