ICB-USP lança testes que ampliam capacidade de diagnóstico de Covid-19 em todo o país

Aumento da testagem, rapidez nos resultados, aplicação em todo o país, alta confiabilidade, utilização de reagentes nacionais e baixo custo. Essas seis conquistas na luta contra o novo Coronavírus estão reunidas em dois testes para a Covid-19 desenvolvidos pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Eles já tiveram sua eficácia comprovada e podem ser aplicados imediatamente.

Os testes poderão ser realizados em cidades de pequeno e médio porte, com baixo custo e resultados até no mesmo dia – o que possibilita que a pessoa infectada receba o tratamento correto e seja isolada o mais rapidamente possível.

Para desenvolver esses testes em um prazo relativamente curto – eles começaram a ser estudados em março -, os pesquisadores do ICB-USP concentraram seus esforços em adequar ao diagnóstico da Covid-19 a equipamentos e metodologias já utilizados anteriormente para o diagnóstico de diversas outras doenças.

Um dos testes tem como base o PCR (Reação em Cadeia da Polimerase, na sigla em inglês), que revela se o paciente está com vírus no corpo. O outro, voltado para o diagnóstico sorológico e baseado no método de ELISA, indica se o paciente esteve em contato com o novo coronavírus.

PCR do ICB – Os estudos consistiram na adaptação para a Covid-19 do PCR convencional, que serve para o diagnóstico de inúmeras doenças infecciosas, por exemplo, de sarampo, influenza, tuberculose e problemas genéticos. No caso da Covid-19, o teste – batizado como RT-PCR-ICB – analisa secreções das vias respiratórias para detectar a presença do novo coronavírus no corpo do paciente.

O novo teste tem altos índices de confiabilidade: 98% de sensibilidade (capacidade de detectar casos positivos) e 100% de especificidade (capacidade de excluir casos negativos).

O RT-PCR-ICB será uma alternativa – com vantagens – a um dos testes mais utilizados no Brasil para diagnosticar Covid-19: o PCR em Tempo Real (Real Time PCR, na sigla em inglês). Os estudos foram conduzidos pelo virologista Edison Luiz Durigon, coordenador do Laboratório de Virologia Clínica e Molecular do ICB-USP.

Uma das novidades, é que o RT-PCR-ICB será feito por meio de equipamentos existentes na maioria das universidades, hospitais e laboratórios, públicos e privados, localizados em diversas cidades do país. Esse equipamento, chamado termociclador, custa cerca de R$ 15 mil. No caso do real time, o equipamento chega a custar R$ 150 mil.

Outra diferença: o custo dos reagentes. O RT-PCR-ICB utiliza reagentes fabricados no Brasil, mais baratos e com entrega pelo fabricante em poucos dias. O real time usa insumos importados que, além de caros, estão demorando até dois meses para chegar ao Brasil.

Mais um diferencial: disponibilidade de mão de obra. Técnicos de nível médio e profissionais graduados em Biologia ou em Ciências Biomédicas possuem os conhecimentos necessários para a realização do RT-PCR-ICB. Já real time só pode ser realizado por profissionais treinados pelo fabricante do termociclador, o que implica tempo para essa habilitação.

Com essas características, o real time é feito exclusivamente por grandes laboratórios, concentrados em grandes cidades. Com a alta demanda por testagens em todo o país, os resultados demoram para chegar aos pacientes – o que pode provocar demora também para a indicação do tratamento correto.

Há, também, a disparidade de custos para a realização de cada teste: cerca de R$ 15,00 para o RT-PCR-ICB, contra aproximadamente R$ 80,00 para o real time.

O resultado do RT-PCR-ICB demora o mesmo tempo do real time, aproximadamente seis horas. “Ambos têm as mesmas eficácia, sensibilidade e especificidade”, informa o professor Edison Luiz Durigon.

ELISA – Os pesquisadores do ICB desenvolveram também um teste sorológico do tipo ELISA (Ensaio de Imunoabsorção Enzimática) específico para a Covid-19 a partir de antígenos produzidos em seus laboratórios. Análises de amostras de sangue identificam a presença de anticorpos (IgA, IgM e IgG) no paciente para descobrir se ele está ou já esteve infectado pelo coronavírus, inclusive em casos assintomáticos. Seus índices de acerto são de 92% na detecção de casos positivos (sensibilidade) e de 98% na exclusão de casos negativos (especificidade).

Para esse teste, a contribuição do ICB-USP no combate ao coronavírus foi a produção, em laboratório, de proteínas do SARS-CoV-2 que reagem aos anticorpos de pacientes infectados. Essas proteínas foram geradas em bactérias modificadas geneticamente para produzir as proteínas purificadas do vírus e, então, adaptadas para o teste de ELISA. “O processo todo exigiu a participação de equipes de três laboratórios do ICB, de diferentes especialidades”, informa o professor Luís Carlos de Souza Ferreira, diretor do Instituto e participante dos estudos. “A metodologia também é fruto de parcerias com empresas que trabalharam em conjunto com o ICB no desenvolvimento de kits de diagnóstico sorológico semelhante aos desenvolvidos para pessoas infectadas pelos vírus zika e da dengue”.

O ELISA-ICB apresenta vantagens em relação a testes similares, principalmente no custo de cada reação (cerca de R$ 20,00 em contrapartida a valores podem chegar a R$ 500,00 em laboratórios particulares) e na procedência dos reagentes (nacionais, mais baratos e disponíveis no mercado, em vez de importados, mais caros e com demora na entrega).

A eficácia do ELISA-ICB foi comprovada em um estudo pelo qual foram testadas 934 pessoas, entre professores, alunos e funcionários do Instituto. Daquele total, 9,3% das pessoas testadas tiveram resultado positivo para IgG, ou seja, foram expostos ao vírus e desenvolveram imunidade. Por outro lado, 1,5% das pessoas testadas apresentaram resultado positivo para IgA, indicativo de exposição recente ao vírus. “O teste foi realizado com dois antígenos distintos do Sars Cov-2 (proteínas N e S) e aqueles que tiveram resultado confirmado para IgA também se submeteram ao teste molecular (PCR) para a identificação de pessoas que ainda estavam com o vírus no organismo”, acrescenta Ferreira.

AMPLIAÇÃO DA TESTAGEM – Ambos os testes desenvolvidos pelo ICB-USP podem contribuir para o manejo da infecção em populações, seja em empresas, organizações públicas ou privadas, e mesmo em municípios e cidades de pequeno e médio porte.

Um laboratório equipado para o RT-PCR-ICB pode fazer cerca de 100 testes por dia; para o ELISA-ICB, cerca de 500 testes. Esses números refletem a realidade de uma cidade como Araraquara, de 260 mil habitantes. Localizada no interior de São Paulo, Araraquara se destaca no combate à Covid-19 em razão do número de testes que realiza, acima da maioria das cidades, e, em consequência, da baixa letalidade da doença: 0,99%, contra 3,6% da média nacional. Atualmente, a prefeitura de Araraquara demanda, por dia, cerca de 120 testes real time e 300 testes sorológicos.

Os testes desenvolvidos pelo ICB-USP resultarão em benefícios não só para o Brasil, mas também para os países que têm carência de grandes laboratórios e dificuldade para obter insumos para o real time. “O PCR convencional é uma tecnologia implantada há mais de 20 anos; hospitais e universidades do mundo todo já têm acesso a ela. A produção das proteínas para o ELISA também não é cara e pode ser realizada em qualquer país. Os dois métodos que desenvolvemos podem ser usados facilmente em países da África, da América do Sul ou do Caribe”, afirma o diretor do ICB.

Redação

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