Impacto da pandemia nos bancos de sangue alerta para continuidade nos tratamentos hematológicos

Devido ao atual receio popular associado à permanência em espaços com alto tráfego de pessoas, como hospitais e clínicas, surge uma preocupação em relação à queda nos estoques dos Bancos de Sangue nacionais, que são essenciais para a continuidade do tratamento daqueles acometidos por determinadas doenças hematológicas. Dados do Ministério da Saúde apontam que, em 2020, os Bancos de Sangue do país sofreram com uma diminuição de 10% no total de doações em comparação ao ano anterior. Além disso, determinadas complicações sanguíneas podem causar uma maior suscetibilidade diante da Covid-19. Por isso, pacientes acometidos por doenças do sangue que necessitam de transfusões como parte do processo de reabilitação devem tomar medidas preventivas mais rígidas neste cenário.

Entre as doenças afetadas pelo impacto da pandemia nos Bancos de Sangue está a anemia falciforme, que tem sua data comemorativa celebrada neste mês. Esta condição é caracterizada pela alteração no formato dos glóbulos vermelhos do sangue, deixando-os com uma silhueta similar a uma foice. Devido a esta modificação, a estrutura destes componentes sanguíneos se torna mais frágil e, por isso, acaba se rompendo prematuramente. Segundo Dra. Joelma Bispo Martins da Rocha, hematologista do Hospital São José, de Teresópolis (RJ), este fenômeno causa um déficit de glóbulos vermelhos que, consequentemente, provoca a anemia, além da obstrução do fluxo sanguíneo, gerando crises de dor. “Entre os principais sintomas identificados estão as dores nos ossos e articulações, atraso no crescimento e na puberdade, infecções recorrentes e coloração amarelada nos olhos e pele”, adiciona a especialista. Além disso, é uma condição que necessita de monitoramento constante e, para pessoas com diagnóstico confirmado, a expectativa de vida é reduzida, podendo variar entre 40 e 60 anos.

O tratamento para a condição é parcialmente medicamentoso, podendo também se estender à transfusão sanguínea, dependendo do quadro. Parte dos medicamentos utilizados ajudam a prevenir complicações que podem surgir como uma consequência da doença, como a pneumonia. Além disso, estes também contribuem para aliviar as crises de dor, que podem se apresentar com certa frequência. Para combater a redução da oxigenação sanguínea causada pela deformação dos glóbulos vermelhos, especialistas também indicam a utilização de máscaras de oxigênio, que contribuem para facilitar a respiração. “Já a transfusão de sangue torna-se necessária quando a quantidade de hemácias perdidas é alta, visando prevenir a incidência de infecções. Este recurso também é imperativo quando indivíduos com a doença passam por procedimentos cirúrgicos.” completa a Dra. Joelma.

O processo de transfusão é essencial para muitos que convivem com a condição e a queda no estoque de sangue do país pode impactar diretamente na continuidade do tratamento destes indivíduos que já possuem maior vulnerabilidade à infecção causada pela Covid-19. “Pacientes portadores de doenças cujo tratamento interfere nas capacidades do sistema imunológico, como no caso da anemia falciforme, podem ser mais suscetíveis a outras patologias, incluindo a infecção causada pelo Coronavírus”, complementa a hematologista. Além disso, uma pesquisa publicada na Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil identificou que a Covid-19 e a anemia falciforme apresentam alguns sintomas similares, como a Síndrome Torácica Aguda, também conhecida como STA. Quando combinados, os sintomas podem se potencializar, agravando o quadro e aumentando a taxa de mortalidade de portadores da doença que também foram infectados pelo Sars-CoV-2.

No momento, não existe nenhuma ação ou medicamento que possa ser incorporado no dia a dia para prevenir o desenvolvimento dos glóbulos vermelhos com formato alterado. Por isso, o agendamento de visitas periódicas a um especialista é de extrema relevância, visto que um diagnóstico precoce pode contribuir para uma melhor qualidade de vida daqueles acometidos pela anemia falciforme. A utilização de suplementos nas idades cruciais para tratamento (até 5 anos de vida), podem ajudar a prevenir infecções decorrentes da complicação. Vale notar que estes indivíduos também precisam tomar vacinas adicionais, que vão além das previstas pelo protocolo convencional de imunização. Como se trata de uma doença hereditária, aqueles que possuem diagnóstico confirmado e planejam ter filhos, podem consultar um geneticista para compreender em detalhes a probabilidade da condição se estender aos novos membros da família.

Redação

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